Por Diego BrÃgido | @dibrigido | Fotos: reprodução
Uma coisa é indiscutÃvel: o mundo não será mais o mesmo após a pandemia. Para algumas pessoas, individualmente, tudo isso pode não provocar um cisco de mudança, mas certamente a forma de nos relacionarmos com os outros, com o mundo e com os fatos ganhará novos contornos.
Uma das atividades que talvez sofra mais mudanças é o turismo, algumas – por que não? – positivas, mesmo com todos os desafios enfrentados pelo segmento desde o inÃcio da ‘era covid-19’.
As previsões para o setor falavam em 3% a 4% de crescimento global em 2020, e agora, já se estima uma queda de 20% a 30% nas viagens e uma perda entre US$ 300 e US$ 450 bilhões em gastos de viajantes internacionais, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT).
No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (ABEAR), só na semana de 23 de março deste ano, a queda foi de 75% da demanda nacional e 95% da internacional, se comparado com o mesmo perÃodo do ano passado. É uma crise sem precedentes, que está tirando o sono de grandes, médios, pequenos e micros.
Ainda é cedo para prever cenários, mas se tem algo certo é que os negócios já não são mais os mesmos. Alguns estão tendo que se reinventar já, no mesmo momento em que a pandemia domina as comunidades, outros precisam se preparar para um futuro ainda nebuloso e completamente diferente. É o caso do turismo.
Por isso, é bacana levantarmos algumas questões sobre o que será do turismo daqui pra frente, considerando, como eu disse anteriormente, que há cenários positivos. Mas isso vai depender de como os players do setor conseguirão conduzir a crise agora. Vamos lá!
Destinos domésticos ganharão fôlego primeiro
Quando tudo voltar ao normal, ou melhor, ao ‘novo normal’, e as pessoas voltarem a viajar, por certo, a prioridade será para destinos mais próximos, dentro do próprio paÃs. ‘Em casa’, o turista se sente mais seguro, principalmente porque está melhor informado e conhece mais as regras. Além disso, após uma crise, decisões de viagem com menor impacto econômico são mais sensatas. Isso também vale para o turismo de negócios.
A retomada das viagens internacionais deve ter um comportamento diferente em cada paÃs, conforme seu histórico durante a pandemia.
Então, é hora de preparar a casa, o destino, para não só receber, mas acolher (há uma drástica diferença entre os verbos) novos turistas e habitués.
É preciso arrumar a casa e se fazer ser visto desde já
O melhor discurso para vender o destino neste momento é o que tem sido massivamente usado: ‘fique em casa agora, mas quando tudo voltar ao normal, olha o que te espera aqui’. Então, sai na frente os destinos que tiverem uma comunicação bem estruturada, com plataformas digitais que despertem o interesse no turista em colocar o local nos seus planos de viagem. E isso, inclui, claro, além de um bom site, com conteúdo atualizado; redes sociais e tours virtuais, com imagens em 360°, vÃdeos e o máximo possÃvel de interatividade. Muitos equipamentos privados, como museus, já liberaram suas exposições em plataformas web, mas este recurso também pode ser usado pelos órgãos públicos, nos destinos como um todo.
A tecnologia será fundamental, mas o contato com o outro será o diferencial
Após semanas de isolamento, com a tecnologia como principal aliada e com pouquÃssimo contato social, a tendência é que passemos a valorizar mais as relações humanas. A tecnologia continuará sendo primordial nas experiências de viagem, inclusive para pessoas que passaram a se familiarizar com ela durante a quarentena, mas a busca pelas trocas sociais e por vivências mais humanizadas é o que, de fato, fará a diferença aos viajantes. Portanto, mais que nunca, aspectos culturais e sociais serão considerados na decisão da viagem.
Haverá maior preocupação com questões sanitárias
É provável que ao retomarem as rotinas de viagens, as pessoas estejam mais atentas à s questões de saúde e higiene. E isso inclui, obviamente, além da exigência de aeroportos, hotéis, restaurantes e equipamentos turÃsticos com melhor higienização, as experiências exóticas de consumo. Muitos destinos terão que mudar hábitos culturais, como fez a China, com a proibição da venda e consumo de animais selvagens, em fevereiro, em detrimento de continuarem sendo atrativos para os turistas.
Eis um desafio para autoridades públicas e também para os empresários, para garantir a segurança e a confiança dos viajantes, quando em seus destinos.
Destinos com menos aglomeração
Outra tendência é que, ao menos no inÃcio, as pessoas procurem destinos e equipamentos turÃsticos com menos aglomeração. E aqui há várias análises a serem feitas, com aspectos que precisam ser considerados: controlar a capacidade de carga dos destinos, sobretudo aqueles de natureza, já é algo que se espera dos players desde que se começou a pensar em sustentabilidade, logo essa será uma oportunidade para reforçar o posicionamento contra o overtourism; outra questão é que os próprios visitantes não estarão confortáveis, com sua saúde ameaçada, em locais com grande aglomeração, cabendo, portanto aos decisores do setor, rever número de visitações simultâneas nos equipamentos e, inclusive, de entrada de turistas no destino e, por fim, há de se levar em conta se as populações locais não hostilizarão os turistas, quando em ‘bando’ ocuparem os espaços públicos ou privados.
Estes são cinco aspectos que demonstram que o turismo não será mais o mesmo daqui pra frente, o que não, necessariamente, revela um cenário por inteiro negativo. Há outros pontos a se considerar, obviamente, mas, mais que nunca, cada empresa do turismo e cada destino precisa rever a forma como se comunica com o seu público e o diálogo efetivo entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil organizada se faz urgente e norteador dos próximos passos.
Vamos em frente, mas, por enquanto, se puder, fique em casa.