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COLUNISTAS ///

Vende-se otimismo

Ah, o otimismo…

Produto vendido aos quatro cantos por livros de autoajuda em que cada linha repete a anterior ou fotografias postadas nas redes sociais com seu primo, o pensamento positivo, borrifado no ar.

Traz uma visão mais romântica e feliz de uma existência que nem sempre nos brinda com isso, sendo mais cruel na realidade do que a indústria da felicidade tenta nos vender a todo custo.

Feito uma imposição ou mantra a ser seguido o tempo todo, até as paredes sabem que seus não-adeptos vão ser os vilões do mundo, os culpados por tudo de ruim que vier a acontecer. Além disso, quem não for discípulo do otimismo ainda será rotulado como infeliz.

Pois é assim: basta mostrar ceticismo e uma visão mais crua dos fatos, acreditando muito mais na força das atitudes do que no pensar que tudo vai dar certo em vão que sua embalagem será carimbada pelas marcas de pessimista, baixo astral e outros assemelhados.

Como quem vive entorpecido por alguma droga de vício imediato, aqueles que pregam o otimismo como a solução pelos nossos problemas acreditam piamente numa possibilidade de se estar feliz o tempo todo.

Basta acreditar, querer e olhar o copo meio cheio que tudo se resolve, eles dizem. Assim mesmo, da mesma forma como uma criança imagina seu mundo ideal onde tudo é capaz de acontecer.

Só faltou avisar que o fator ser humano complica e inviabiliza isso: ninguém é de todo bem ou completamente mal, possuímos mais lados do que um cubo mágico e nossa complexidade nos faz flutuar entre o céu e o inferno mentais a todo instante da mesma forma que destruímos nosso próprio planeta em busca de progresso – para todos algumas vezes, para uns poucos na maioria delas.

Longe de mim pregar aqui uma tristeza ou quaisquer comportamentos autodestrutivos que não levam a nada, mas o tal do otimismo pode ser bem chato quando nos deparamos com bons moços e nobres senhoritas tentando nos impor a todo custo uma visão segundo a qual tudo fará parte de um plano melhor,  onde tudo vai dar certo no final. Até onde eu sei, a vida não é uma comédia romântica reprisada mil vezes na Sessão da Tarde.

Pois acreditem: necessitamos passar pelas fases de luto, tristeza, perdas e inseguranças. Afinal, o que é a vida senão uma insegurança eterna?

Pensar positivo como um fim em si mesmo não resolve problema algum, o otimismo tolo pode ser mais destrutivo do que parece, especialmente quando vendido em prateleiras de supermercado, como parece ser quando pregado como a solução das equações mais extensas a preencher lousas nessa escola da vida, sempre nos ensinando depois da prova.

Sigo atravessando a rua quando vendedores de otimismo tentam me fazer preencher um papel com meus dados para fazer um cartão-fidelidade. Sua comissão não sairá do bolso de uma mente tão complexa para se resumir a uma palavra rasa quando banalizada.