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2.0 - REGIÃO

Cheiro de mofo no ar

O ar das segundas-feiras fica gradativamente mais gelado e nossas raízes germinadas pelo sono de uma madrugada bem dormida vão se fincando mais profundamente às nossas camas, tornando o despertar cada vez mais difícil, lento e doloroso.

Há um sentimento comum brotando a cada dia e o ônibus lotado nem é tão ruim assim: cada espaço vazio que só um Messi da vida consegue passar em busca de um melhor lugar para se apoiar nos bancos e barras é menos solitário quando outra pessoa rumo ao trabalho se equilibra encostado ao lado, deixando o ambiente menos frio e bucólico.

Parece até que a elegância vira lei cujo descumprimento gera uma pena inafiançável. A preocupação – especialmente das mulheres, dos vaidosos, das mulheres vaidosas e de todos os vaidosos, mulheres ou não – com uma melhor combinação com as vestimentas é crescente, um contraste com a época em que basta não repetirmos a mesma camisa diariamente diante do sol escaldante ao meio-dia e em todas as horas no mesmo ônibus em que cada janela é uma inalação de ar puro. Ou nem tanto.

É bem verdade que ao voltar para casa ou ao sair dela nas noites e madrugadas solitárias em que a fala transforma os perdigotos em uma bonita fumaça no ar bate uma certa tristeza. E ela vem quando os papelões de cestas básicas invadem nossa visão mesquinha e individualista nos outros dias e desnudam a pobreza e miséria daqueles que não têm direito à promoção das lojas Pernambucanas para edredons e cobertores. Para eles, não há beleza no frio. Nem elegância de vestimentas da moda.

Mas não há como fugir. Gostando não, o frio vai se avizinhando para mais uma de suas temporadas nos próximos meses. Esses meses sem R, no qual o folclore popular prega serem os melhores para se automedicar com remédios contra vermes. Quem dera fosse possível que esses mesmos comprimidos nos imunizassem contra tantas lombrigas e solitárias nem tão sozinhas assim a ocupar cargos públicos e eletivos, que geram os mesmos maltrapilhos a se cobrir com papelões a lhes tirar os direitos de promoções de edredons e cobertores das lojas Pernambucanas.

Mero devaneio de quem não é tão fã desse frio que faz abrir o guarda-roupas e alternar entre a pesada coberta e um lençol espontâneo, bem como usar os mesmos surrados e sofridos casacos desde sei lá quando, talvez do começo da década.

Porque esse cheiro de mofo tomando conta do ar vem daqueles agasalhos, perdidos no esconderijo dos guarda-roupas pelos outros quase nove meses do ano quase sempre quente.

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