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Edição Semanal

Abram alas, deixem a Corte passar

Por Felipe dos Santos

Fotos: Isabella GraçaComo a batida de um tambor cilíndrico de grandes dimensões e som profundamente grave, popularmente conhecido como instrumento de surdo, os corações dos novos membros da Corte Carnavalesca de Santos batem acelerado num ritmo de enredo típico de uma escola campeã.

O cortejo real, deste ano, é composto pelo Rei Momo, Sérgio Sipó, acompanhado pela Rainha Rosany Oliveira, a Princesa, Marisa Santos, além da Cidadã do Samba, Helena Oliveira e o Cidadão do Samba, Luis Carlos Pereira.

Eleitos através do concurso organizado em parceria entre a Liga de Carnaval e a Prefeitura de Santos, os cinco integrantes são considerados as ‘cerejas do bolo’ no Sambódromo Dráuzio da Cruz, se destacando com seus trajes brilhantes e confeccionados, especialmente, para marcar mais um ano de apresentação para o público que lota as arquibancadas.Rei Momo – Sergio Sipó, que tentou o título de dono da festa por oito vezes, falou da emoção de ter alcançado pela primeira vez o seu objetivo principal: estampar a faixa de Rei Momo no seu peito. “Estou muito feliz. Meu desejo sempre foi ser Rei Momo na cidade em que eu nasci! Sou um brasileiro nato, não desisto nunca (risos). Houve pessoas que deve ter pensado que eu iria desistirâ€, diz.

Nos tempos mais primórdios, o Rei Momo deveria ser uma pessoa possuída por uma personalidade zombeteira, delirante e sarcástica. Vindo da mitologia grega, era o filho do sono e da noite, sendo expulso do Olimpo porque tinha como diversão ridicularizar as outras divindades.

Contudo, hoje, para ser o Rei Momo é preciso esbanjar simpatia, alegria e muito samba no pé. Aliás, essas características não faltam para o escolhido e que foi provado, pelo mérito do resultado do concurso. Sérgio garante que será o representante digno da folia santista. “A minha escola é a Unidos da Zona Noroeste, porém, eu estou representando todas as agremiações sambistas. O meu brasão é o sambaâ€, afirma.Rainha – Rosany Oliveira, da Escola Real Mocidade, é uma das beldades que abre o desfile ao lado do Rei. A rainha tem como objetivo receber os foliões com muito sorriso e encanto. “Eu me condicionei muito para chegar nesse posto. Eu procurei ler muitos livros, em especial “O Segredoâ€, preparei meu corpo com aulas de samba e muito treino aeróbico. Para me ajudar a conquistar a triunfo, eu também tive uma preparação espiritualâ€, revela.

Rosany admite ter baixa estima, mas busca alternativas para superar esse quadro. “Meses antes eu meditei, orei e elevei meus pensamentos somente em coisas positivas. Aprecio muito o equilíbrio da alma e busco por isso, pois, a minha religião é Deusâ€, diz

Princesa – Assim como a rainha, Marisa Santos, da Escola Mocidade do Samba, tem como designo desfilar sua beleza. A diferença é que a princesa sempre fica à esquerda do Rei Momo. Sempre ao lado de Sipó, a bela moça acredita que irá se destacar na Passarela. “O concurso foi muito concorrido. Havia meninas lindas concorrendo ao cargo. Porém, eu acredito que como na vida tudo tem seu tempo certo, esse é o meu momento de ser a escolhidaâ€, afirma.

Marisa esclarece que o seu objetivo era ser a rainha, mesmo não conseguindo ela ressalta que fazer parte da corte é algo muito honroso. “O bacana é que não há rivalidade entre rainha e princesa. Cada uma sabe da sua importância e que unidas, até por sermos amigas de longas datas, podemos acrescentar para uma grande festa de carnavalâ€.Cidadã e Cidadão do Samba – Esses dois últimos, porém não menos importantes, têm a responsabilidade de representar todos os sambistas. O título de cidadão e cidadã não é para qualquer pessoa, já que um dos quesitos básicos é ter no mínimo 20 anos de história carnavalesca.

Helena Oliveira, da Escola União Imperial, relembra a sua trajetória. “Eu tive que aprender a tocar e cantar. Tenho mais de duas décadas trabalhando para minha escola. A disputa para o posto foi entre duas candidatas, porém foi tão intensa a disputa que no término do concurso a sensação era que eu havia vencido umas 15 concorrentesâ€, relembra.Helena tem consciência da sua responsabilidade. No próximo ano ela vai passar a faixa e assumir a função de Embaixadora do Samba: título que perpetua com aqueles que recebem a nomeação.

Já o Luis Carlos Pereira, conhecido como Nenê da Brasil, acredita que essa corte é composta não só por personagens, mas sim, por personalidades que tem ricas histórias dentro do Carnaval e esse ano será o melhor de todos os tempos.  “Comecei com 7 anos e toquei na bateria mirim. Já estou no meio há 50 anos. Com a corte estamos visitando as agremiações, estou percebendo o empenho e a garra das agremiações. Sem dúvida será a melhor festa da históriaâ€, afirma.A história que atravessa gerações – Em 1994, a Baixada Santista perdeu uma das figuras mais importante do samba: Dráuzio da Cruz. Ele foi quem organizou o primeiro sambão em Santos. Localizado na Rua Campos Melo, o evento funcionou de 1970 a 1974.

Depois essas festas passaram a se realizados nas quadras das agremiações. Como mestre do samba, ele ensinava que o verdadeiro sambista deve ser completo para dançar, cantar e formar outros sambistas e fez isso como ninguém. Ensinou tão bem, que hoje, três das quatro filhas, estão envolvidas no carnaval. Luciana da Cruz é uma delas. Atualmente, Luciana é uma das responsáveis por assessorar a Corte Carnavalesca.

“Nasci e cresci sob a bateria e barracões do GRES Império do Samba. Onde também participei das alas de cabrochas, destaque mirim da ala das baianas, passista, componente de ala, costureira e 1ª secretária†relata.Luciana fala da emoção que é participar e contribuir na organização do carnaval e estar no sambódromo que leva o nome de seu pai. “É uma emoção e orgulho poder continuar de alguma maneira o seu legado. Seu nome é imortalizado e como suas filhas preservamos e administramos tudo relativo a ele e a Império do Samba, através da nossa ONG Sonho do Menino Reiâ€, afirma

Segundo a sambista, sua família segue lutando para manter viva a memória desse ilustre personagem do carnaval da cidade. Luciana e suas irmãs realizam, sempre no mês de setembro, a Semana Cultural Dráuzio da Cruz na Passarela do Samba para homenagear o pai.   “Nessa ação honramos as pessoas que fizeram algo por sua agremiação, pelo carnaval santista que já se foram, os imortais, assim como homenageamos os que ainda fazemâ€, diz.

Para Luciana, o período áureo do Império do samba foi marcante em sua vida: “eu era muito pequena, mas lembro dos ensaios e o meu pai ensinando as passistas sambar com uma varinha de marmelo. Além da recordação dele no comando dos ensaios, prestando atenção no compasso da bateria, nos comandos do apito e resolvendo as coisas tanto nossa escola quanto para as co-irmãs. Ele fazia de tudo para que o carnaval desse certoâ€, relembra.

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