Da Redação
Perto de completar um ano, a lei que veta o uso e a distribuição de canudos plásticos em bares, restaurantes e hotéis de Santos pode ter colocado outro vilão do meio ambiente no mercado; os canudos biodegradáveis.
Um estudo recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) coloca ‘em xeque’ a confiabilidade dos novos utensílios.
O estudo coordenado pelo docente e pesquisador Ítalo Braga de Castro analisou a composição de oito marcas de canudos biodegradáveis, sete comercializadas no Brasil e uma nos Estados Unidos. Na conclusão, a surpresa: todos os itens brasileiros eram compostos por materiais que não se decompõem no ambiente em uma escala de tempo razoável. Logo, de acordo com normas técnicas, não poderiam ser rotulados como biodegradáveis.
O estudo se transformou em artigo, publicado pela revista científica Environmental Science & Policy (volume 106, April 2020) e repercutido nas redes sociais dos mais importantes pesquisadores do mundo na área ambiental, como Martin Wagner (Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega) e Steven B. Young (Universidade de Waterloo, no Canadá). Nas palavras de Young, “alegações falsas de biodegradabilidade em produtos plásticos estão se tornando frequentes”.
Os resultados do estudo geraram comoção porque alertam para o chamado ‘greenwashing‘ (‘lavagem verde’, em português). A expressão faz referência à roupagem ecologicamente correta dada às atividades empresariais, escondendo os perigos que podem oferecer ao meio ambiente. “Essa prática vem sendo empregada por algumas empresas para alavancar as vendas, sobretudo para um público cada vez mais consciente e disposto a pagar valores maiores por produtos sustentáveis”, comenta Castro. Os canudos analisados estão inseridos nessa estratégia, também adotada por fabricantes de outros artigos plásticos, como sacolas de supermercado, copos e talheres descartáveis.
A proibição dos canudos plásticos já está presente (total ou parcialmente) em 37 das 50 maiores economias do mundo. No Brasil, o veto começou em meados de 2018 no município de Cotia, interior de São Paulo, seguido pelo Rio de Janeiro. A terceira a aprovar o banimento dos descartáveis foi Santos, onde a lei entrou em vigor em abril de 2019. No mesmo caminho, a cidade de São Paulo vetou recentemente os canudinhos e outros utensílios descartáveis de seus estabelecimentos comerciais.
Mais de 60 cidades brasileiras proibiram os utensílios, mas nenhuma realiza fiscalização para verificar se os substitutos adotados são, de fato, biodegradáveis. “Os canudos biodegradáveis genuínos possuem custo elevado. Vários desses municípios, incluindo Santos, podem estar sofrendo um revés por conta da ‘lavagem verde’, que é vista como responsável por boa parte do descarte irregular de plástico no planeta. Há formas de fiscalização, só precisam ser implementadas”, destaca o docente, afirmando que essa é a maneira mais eficaz de garantir o cumprimento correto da lei e os benefícios reais ao meio ambiente. “Sem fiscalização, o banimento dos canudos descartáveis pode piorar a situação do meio ambiente, que já é bastante preocupante”, finaliza.
Foto: Reprodução/ Marcelle Cristinne