Por Silvia Barreto
Da Redação Mais Santos
A força e a organização das mulheres são demonstradas, também, pelas palavras. Criado em 2017, o Coletivo Mulherio das Letras é um movimento literário feminino composto inicialmente por escritoras que participavam de feiras literárias e que, atualmente, reúne cerca de 8 mil participantes com obras publicadas não apenas no Brasil, mas em outros paÃses como Portugal, Alemanha, Estados Unidos, SuÃça e França.
A santista e escritora Maria Valéria Rezende ficou responsável por reunir o grupo e, pelas redes sociais, engrossou o movimento. “Em menos de uma semana já eram 500 mulheres entre poetas e escritoras infantis, juvenis, cronistas, poetisas, roteiristas. O primeiro encontro aconteceu em João Pessoa, na ParaÃba. O grupo saltou de 500 para 8 mil mulheres. Temos 8 mil mulheres que escrevem no Brasil todo e fora do PaÃs. Temos núcleos regionais em vários estados e também núcleos em Portugal, Alemanha, Estados Unidos, SuÃça e França”, descreve Vanessa Ratton, escritora e coordenadora do núcleo Mulherio das Letras Baixada Santista, com participação na esfera nacional.
Elas se definem como um movimento literário feminista, tendo como objetivo dar visibilidade para a autoria feminina, permitindo que as mulheres escritoras possam fazer troca entre elas, utilizando as rodas de conversa para compartilharem experiências e com encontros anuais. Participam também mulheres negras, indÃgenas, asiáticas e as brancas, além do núcleo LGBT+
Booktim
No próximo dia 30, a partir das 17h, elas lançam o Booktim – papo de bar na mesa da Livraria, com a participação das fundadoras do Movimento Maria Valéria Rezende e Vanessa Ratton. Elas irão lançar Encontros à Hora Morta, obra juvenil que fala das lendas e fantasmas de Santos. “A ideia é que, a cada dois meses, vamos trazer outras autoras para fazer esse encontro, lançando livro e falando de literatura”, projeta Vanessa.
Este livro reúne 13 contos, que abordam a história dos fantasmas de mulheres que foram assassinadas ou violentadas e dos ambientes da cidade supostamente assombrados, como a Santa Casa de Misericórdia, o Teatro Brás Cubas e o navio Raul Soares. Além disso, o livro também apresenta lendas mais contemporâneas e nacionais, como a da Loira do Banheiro. Ao mesmo tempo em que narram histórias sobre o sobrenatural, os contos também mostram exemplos de perseguição polÃtica durante o perÃodo da ditadura e casos de violência contra a mulher, motivados por valores morais, sociais e polÃticos.
“Não é só um relato. É uma história mesmo com os personagens. Tudo é interligado e, no final, você vai entender porque todos os fantasmas estão ali. Foi uma história bonita que nasceu no momento da pandemia, nem vacina tinha ainda, e nós estávamos muito aflitas. QuerÃamos deixar uma obra para a memória da nossa cidade, falando da pandemia de uma forma mais leve, mas da importância de quem sobreviveu, que teve a chance de tomar a vacina, e de hoje estar aqui, poder valorizar a sua vida e essa oportunidade, pois muitos se foram e não tiveram a oportunidade dessa mesma escolha de poder se vacinar e se proteger”, ressalta Vanessa.
Na mesma oportunidade, a escritora Valéria lança a obra Rios de Sonhos. A produção traz a história de Paulo, um jovem pernambucano prestes a ingressar na universidade que se vê obrigado a lidar com as pressões familiares sobre suas escolhas profissionais. Nascido em cidade pequena, decide passar uma noite à s margens do rio São Francisco antes de prestar os exames vestibulares. Durante a madrugada, ele acaba salvando a vida de Iara — que também é responsável pelo salvamento de Paulo, pois é ao lado dela que Paulo recupera a ligação com seu lugar de origem e descobre o custo do progresso para os povos tradicionais do paÃs.
Já a escritora Vanessa irá lançar seu primeiro romance: Quando a Lua é Cheia. “A obra juvenil mistura trama policial com sobrenatural numa série de assassinatos misteriosos em Serra da Saudade, no interior de Minas Gerais, a menor cidade do Brasil. Selecionada para o PNLD do MEC, para o Ensino Médio, a trama provoca o confronto entre um temido delegado e uma corajosa estudante de jornalismo, que busca se projetar em sua carreira, ao fazer a cobertura dos crimes, sem saber que o destino fará com que tome uma decisão capaz de mudar sua vida para sempre. A batalha pessoal da jovem resultará na revelação de um dos maiores mistérios da vida: o quanto há de verdade nas lendas que assombram a humanidade? E ainda: a Lua pode realmente influenciar os seres humanos como faz com a natureza? “, relata Vanessa.
Crimes, mistério e romance se misturam nesta envolvente trama, com Ilustrações de Marcela Pialarissi, projeto gráfico de LaÃs Garbeline e Revisão de Rosana Rios, editado por Márcia Paganini e Cássia Leslie, publicado pela Pantograf Editora.
Leitores e convidados podem tomar cerveja e bater papo na mesa da livraria Realejo, no Gonzaga, Rua Marechal Deodoro, 02, em Santos.
Essa ação será um preparativo para o encontro anual do grupo, programado para acontecer nos dias 25, 27 e 27 de novembro, em João Pessoa. Em 13 de agosto, em Santo André, o grupo estará na Alpharrabio Livraria e Editora.
Perfis
Entre as obras produzidas por Vanessa Ratton estão livros infantis: O Ratinho que não gostava de queijo; Nos mares do mundo; Uma Menina Detetive e a Máfia Italiana; Um dia de Paz; O Coração da Selva e O Sapo não lava o pé?.
A escritora, integrante do Mulherio das Letras IndÃgenas, descente desses povos, pretende lançar um e-book com escritoras indÃgenas de todo o Brasil. A organização desse material tem sido realizado em conjunto com a Eva Potiguara.
Maria Valéria Rezende é formada em LÃngua e Literatura Francesa, Pedagogia e mestre em Sociologia, dedicou-se, desde os anos 1960, à Educação Popular, em diferentes regiões do Brasil e no exterior, tendo trabalhado em todos os continentes.
Desde 2004, ela participa do Clube do Conto da ParaÃba, que a estimulou a continuar a escrever ficção. O seu romance “O voo da guará vermelha†(Ed. Objetiva, 2005) foi publicado em Portugal, França e teve duas edições em Espanha (espanhol e catalão). Participa em várias coletâneas no Brasil, Argentina, Itália, França, Estados Unidos da América e Portugal.
Escreve ficção, poesia e é também tradutora. Ganhou um Jabuti em 2009, Categoria Infantil, com a obra “No risco do caracol†(Ed. Autêntica, 2008) e, em 2013, na Categoria Juvenil, outro Jabuti com o romance “Ouro dentro da cabeça†(Ed. Autêntica, 2012). Os Jabutis para Melhor Romance e Livro do Ano de Ficção chegaram em 2015, pelo seu romance “Quarenta Dias†(Ed. Alfaguara, 2014). Seu último romance “Outros Cantos†(Ed. Alfaguara, 2016) valeram-lhe o Prêmio Casa de las Américas (Cuba, 2017), o Prêmio São Paulo de Literatura e o terceiro lugar no Prêmio Jabuti 2017.
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