Parece até coisa de ficção cientÃfica: um medicamento que, uma vez na corrente sanguÃnea, age como uma espécie de “blindagem†contra o HIV. Se o vÃrus entra, o remédio – uma combinação de duas substâncias antirretrovirais – corta logo o seu efeito. Impede a sua reprodução e a infecção morre antes mesmo de nascer.
Chamado de PrEP (profilaxia pré-exposição, na sigla em inglês), o protocolo já é realidade nos Estados Unidos e em alguns paÃses da Europa. Desde maio passado, quando o Ministério da Saúde anunciou que traria a metodologia para o Brasil, apareceu em rodas de discussão e matérias de jornais por aqui também. Tomou de susto setores mais conservadores da sociedade. Ganhou o entusiasmo de especialistas. Até o fim de dezembro – que, coincidência ou não, é considerado o mês de alerta à prevenção da Aids –, ele deve finalmente começar a ser distribuÃdo aos grupos priorizados pela pasta.
A tecnologia não é exatamente nova. O Truvada, nome comercial do composto, é fabricado pela farmacêutica americana Gilead e já era usado há alguns anos no coquetel de tratamento de soropositivos. Agora, sabe-se, é eficiente também para gente quem nunca teve contato com o vÃrus, mas flerta perigosamente com a possibilidade, como profissionais do sexo, por exemplo.
A ideia é de que, enquanto a medicina não for capaz de encontrar um meio de curar a infecção, possa pelo menos evitar que ela se alastre. Segundo testes clÃnicos, se seguida à risca, a PrEP tem 99% de eficácia. No que se refere à Aids, dispensaria a camisinha. Para todas as outras doenças sexualmente transmissÃveis, no entanto, em nada acrescenta. É esse um dos maiores pontos de discordância de quem se coloca contra a adoção do método.
O que é PrEP?
A profilaxia pré-exposição consiste no uso de um antirretroviral antes da exposição ao vÃrus da Aids para evitar que ele se replique no organismo. O medicamento aprovado atualmente para esse fim é uma combinação de tenofovir e emtricitabina.
Como funciona?
Para ser eficaz, o medicamento deve ser tomado diariamente. Para garantir a eficácia, o uso deve ter inÃcio pelo menos 21 dias antes da exposição desprotegida ao vÃrus.
Para quem serve?
Estão na mira do Ministério pessoas consideradas de maior risco à exposição, como homens que fazem sexo com homens, profissionais de saúde, profissionais do sexo e casais sorodiscordantes. A triagem será feita em centros de tratamento e os contemplados deverão passar por uma série de exames laboratoriais e um rÃgido acompanhamento de saúde mesmo depois de iniciada a PrEP.
Há efeitos colaterais?
Estudos mostraram Ãndices menores do que 1% para efeitos colaterais graves – número que, segundo especialistas, fica dentro da média da maioria das medicações. Além de dores de cabeça leves no inÃcio do protocolo, consequências mais nocivas incluem problemas renais e ósseos. Assim, pessoas com histórico de doença renal ou osteoporose, por exemplo, não devem receber Truvada.
É um substituto à camisinha?
Não. A PrEP tem sido divulgada como uma “ampliação†da prevenção, e não como alternativa a ela. Embora seja eficaz contra o HIV, não protege o usuário de nenhuma outra doença sexualmente transmissÃvel.