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Santos / Cotidiano

A dor ampliada: troca de corpos de vítimas da Covid-19 gera indignação

Da Redação

O que é maior? A dor da perda de um ente querido ou se dar conta de que o corpo a caminho da sepultura não é o dele, mas de outra pessoa? Pois a soma destas duas sensações terríveis mobilizou duas famílias em Santos nesta quinta-feira (10). Tudo por conta de uma troca de corpos.

Marcelo Aniguaçu de Oliveira, de 72 anos, ficou internado 21 dias no Hospital Vitória, em Santos. Ele tinha comorbidades e, de acordo com os parentes, morreu de complicações causadas pela Covid 19. Seu corpo foi levado para a Beneficência Portuguesa, onde a família fez o reconhecimento. Sem velório, o aposentado foi sepultado no Cemitério da Areia Branca. Porém, um telefonema deixou os familiares assustados: o corpo sepultado não era o de Marcelo.

No seu lugar, foi enterrada Márcia Pereira Franco de 48 anos. Ela estava internada no Hospital Ana Costa e também morreu por causa da Covid-19. Segundo as irmãs, a troca só foi descoberta porque um funcionário da funerária viu que no lugar dela estava um homem. Márcia tinha síndrome de Down e não saia de casa. Mesmo assim, foi infectada pelo novo coronavírus.

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Posicionamentos

A Beneficência Portuguesa emitiu nota sobre o ocorrido. Confira:

“A direção do hospital abrirá sindicância para apurar a responsabilidade na troca de informação aos familiares sobre o sepultamento do Sr. Marcelo Aninguaçu de Oliveira (72 anos) e da Sra Márcia Pereira Franco (48 anos), ambos na tarde desta quinta-feira, no Cemitério de Areia Branca, nesta cidade.

Os corpos em urnas lacradas devido ao falecimento por Covid-19, em suas identificações constando os horários de sepultamento com diferença de 30 minutos, respectivamente, 13h e 13h30. A informação sobre as saídas dos féretros foi invertida e quando o motorista do segundo sepultamento se preparava para sair, a equipe do Serviço de Luto percebeu o engano e de imediato entrou em contato com a direção do Cemitério onde já estava urna com o corpo que deveria ser sepultado às 13h30 e lá também estavam seus familiares.

De imediato foi providenciada a informação para que os corpos não fossem enterrados com nomes trocados. Lamentamos profundamente a dor dos familiares pela perda de seus entes queridos, bem como pelo imenso transtorno causado, pois em meio a pandemia da Covid-19, quando fatores alheios à nossa vontade, independentemente dos cuidados que procuramos ter diante das diferentes situações ocasionadas pelo momento de dor em que vivemos, aflorado pelas incontáveis perdas, somos surpreendidos por essa adversidade. A despeito das providencias que serão tomadas, nosso pedido de desculpas”.

De acordo com a Prefeitura de Santos, “o manejo e identificação dos corpos são de responsabilidade do serviço funerário, que não é da Administração Municipal – trata-se de serviço particular. A coordenadoria dos três cemitérios municipais esclarece que o Município só responde pelo translado dos caixões a partir do momento em que eles chegam – já fechados e devidamente identificados – nos cemitérios. A partir dessa etapa, os sepultadores fazem a condução do caixão até o carneiro e fazem o sepultamento”.

Além disso, a Administração também esclarece que “nos casos de óbitos por Covid-19, os caixões chegam lacrados aos cemitérios e são identificados por guias de sepultamento confeccionadas pelo serviço funerário. O enterro é feito de acordo com a identificação apontada nas guias”.

Por fim, o Hospital Ana Costa afirma que “possui rigorosos protocolos de identificação de pacientes e que, em caso de falecimento, a verificação é realizada por funcionário do hospital, por um familiar da paciente e por um agente funerário, no momento da liberação do corpo”.

Fotos: Reprodução e Arquivo Pessoal