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Santos / Cotidiano

Há seis anos, uma tragédia que ainda deixa marcas

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(Crédito: Divulgação)

Por Anderson Firmino

Todos os dias, milhares de aeronaves cruzam os céus do Brasil. Muitos ser acostumam com os sons desse vai-e-vem, outros se assustam com os fortes ruídos. E quando um avião muda sua vida para sempre? Ou, ainda, marca a história de toda uma cidade, de um país?

Esta semana, no último dia 13, completaram-se seis anos da queda do avião Cessna Citation, prefixo PR-AFA sobre o bairro do Boqueirão em Santos. No acidente, morreram sete pessoas, entre elas o então candidato a presidência, Eduardo Campos. Um dos locais atingidos foi a academia Mahatma, de Juarez Câmara. O tempo passou, mas a reconstrução – pessoal e profissional – ainda continua.

“Estamos bem e saudáveis. A gente sempre tem uma conotação de que coisas materiais, a gente recobra, reconquista. Danos, do ponto de vista psicológico, a gente te quem trabalhar em cima disso. Ver que a vida deve seguir. Todo dia o sol nasce. Tem que partir para a vida novamente. E é isso que a gente faz”, define Câmara.

No momento, ele convive com outro desafio: superar os efeitos da pandemia do novo coronavírus. A academia, garante ele, espera pela volta plena dos frequentadores, ainda inseguros com medo da Covid-19. Piscina, musculação… tudo funcionando perfeitamente. Mas quem já superou os efeitos de uma ruidosa queda de avião sobre seu negócio, não faz pouco caso da sorte.

“Estou com 74 anos, indo para 75. Já passamos por várias crises ao longo da vida.Das crises, ficam as oportunidades. A gente corre atrás, de acordo com as condições na época, tenta passar por cima das coisas e se refazer. Sempre, quando as coisas acontecem, é para melhor. Essa é a nossa filosofia”.

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Acompanhe, na sequência, o relato de como foi a manhã de Juarez no antes, durante e após a queda do avião (Crédito: Divulgação) 

Casa, café e uma tragédia

A última quinta-feira foi tranquila para Juarez Câmara. Deu aulas normalmente pela manhã e, à noite, uma entrevista para a Santa Cecília TV. Bem diferente daquela quarta-feira chuvosa de 2014.

“Tinha dado duas aulas de manhã, e ficado na academia até próximo de 10h – tudo aconteceu 10h05, por volta disso. Normalmente, dou duas aulas e vou para casa – venho em jejum, dou duas aulas, volto para casa, tomo um café e retorno. Estava sentando em casa para tomar café quando escutei o barulho da aeronave passando forte e muito baixo. De repente, veio o impacto. Falei para minha mulher: ‘Um avião caiu aqui pertinho’”, descreve.

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O que Juarez não poderia imaginar é que a sua academia teria sido atingida pela aeronave (Crédito: Divulgação) 

A experiência de quem já deu aulas próximo ao Aeroporto de Congonhas, quando o barulho dos aviões faz parte da trilha sonora, ajudou-o a descrever o impacto daquele som. “Quando liguei para a academia, contaram mais ou menos o que estava acontecendo. Fui correndo para ver se não tinha acontecido nenhum problema com funcionário, com aluno. Quando cheguei, as pessoas estavam saindo tranquilas. Tirei o resto do pessoal que estava aqui, fechei a academia e aguardei o Corpo de Bombeiros chegar. Foram rápidos, coisa de sete minutos. Então, seguiram-se duas semanas com todas as partes civis, recebendo Aeronáutica, Perícia, Cenipa, Polícia Federal…”.

O cenário, conta Juarez, era desolador. “O avião foi destruído. Não ficou nada. Nem das pessoas. Foi uma coisa bastante triste. A academia e as casas aqui perto ficaram cheias de pedaços de avião, de gente… Como ele caiu em terra, jogou uma série de coisas para cima. Tiramos uma média de oito caçambas de entulho entre a área da piscina e o segundo andar”.

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Durante semanas, equipes de reportagem de todo o País estiveram nas imediações do local onde a aeronave caiu cobrindo todos os detalhes da tragédia. Na foto, o telhado da academia

(Crédito: Divulgação)

Porém, no lugar do desespero, resiliência. “Já tenho uma certa idade. Então, você procura ser o mais tranquilo possível, para observar as coisas e ver o que é possível fazer para ajudar, melhorar, sair da situação. Manter a calma é fundamental, encarar as coisas como elas estão, como elas são. Senão, se você se desesperar, não consegue fazer nada”.

Juarez Câmara contabilizou, à época do acidente, um prejuízo de R$ 2 milhões. Tem dois processos em andamento: um de lucros cessantes, outro de danos morais e materiais. “Estamos dando sequência nas coisas, ver o que acontece ao longo do tempo”, explica.

Entenda o caso

Em 13 de agosto de 2014, o então candidato à presidência da República embarcou em um avião modelo Cessna Citation 560XLS+ de prefixo PR-AFA, cujo primeiro voo havia se realizado em 2011. O avião saiu do Aeroporto Santos Dumont, na cidade do Rio de Janeiro, por volta das 9h, com destino a Guarujá, para cumprir agenda de campanha.

A bordo da aeronave, estavam sete pessoas, das quais cinco passageiros (Campos e quatro assessores da campanha) e dois tripulantes. Morreram, além de Campos, o fotógrafo Alexandre Severo e Silva, os assessores Carlos Augusto Leal Filho (Percol) e Pedro Valadares Neto; o cinegrafista Marcelo de Oliveira Lyra, além dos pilotos Geraldo Magela Barbosa da Cunha e Marcos Martins.

Em 2019, o Ministério Público Federal (MPF) arquivou o inquérito policial que apurava o acidente de avião. De acordo com a Procuradoria, não foi possível determinar a causa exata da queda ou definir os responsáveis.

Enquanto isso, em junho deste ano, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou os recursos de dois empresários condenados a indenizar os proprietários de um imóvel atingido no acidente aéreo. O colegiado rejeitou a tese de que os empresários não seriam proprietários nem exploradores da aeronave, e por isso não poderiam ser responsabilizados pelos prejuízos causados no acidente.

Na Justiça paulista, eles foram condenados a pagar indenização por danos materiais de R$ 113 mil aos quatro proprietários de um dos imóveis atingidos, além de reparação de danos morais, no valor de R$ 10 mil para cada um.

 

Hoje, a academia de Juarez funciona plenamente. Em nada lembra o cenário desolador da tragédia de 13 de agosto de 2014. O outro desafio é a volta plena dos frequentadores, ainda inseguros com a pandemia (Crédito: Divulgação)