Da Redação
Tradicionais em Santos, as casas de shows atraem moradores de outras cidades do litoral paulista que querem curtir a noite na cidade santista. Entre bares e restaurantes acostumados a trazer artistas do funk, pagode e sertanejo, a Arena Club, administrada pelo empresário Daniel Lobo Azevedo, mudou esse cenário na cidade há cinco anos, em 2017.
Com capacidade para 1.650 pessoas, a casa fica na Avenida Senador Pinheiro Machado (o Canal 1), na Vila Mathias, em frente ao Teatro Municipal, e se destacou depois de apostar na diversidade de gêneros musicais, trazendo cantores e bandas de rock alternativo, reggae, rap, forró, indie pop, entre outros estilos.
Movimentada por grandes eventos, Santos sempre foi um sinal de referência para curtir bons shows na região da Baixada Santista. Mas, apesar da grande oferta cultural, o empresário Daniel Lobo, hoje com 27 anos, percebia desde a juventude a existência de um público mal assistido, apreciador de gêneros diferentes dos comuns.
Foi a partir dessa percepção e de uma frustração na adolescência – quando com sua banda de rock ouvia muitos nãos de casas noturnas e bares da cidade – que Daniel encontrou, aos 16, o seu talento profissional: promover eventos. O empresário embarcou, então, no cenário musical alugando espaços para fazer shows com a própria banda, o que acabou sendo também a solução para dar espaço a outros artistas. A iniciativa não demorou para se transformar em um negócio, o que preparou Daniel para o momento que vive atualmente.
Habilidoso com comunicação, o empresário também transformou o espaço que era utilizado para fazer shows independentes em uma produtora e começou a dar oportunidade para outras bandas tocarem no local. Em pouco tempo, o jovem observou que a ideia estava dando certo financeiramente e decidiu levar adiante como trabalho mais sério e se dedicou para conquistar o espaço que tem hoje.
“Eu alugava um espaço pequeno para 200 pessoas e fazia um monte de shows. Isso começou a dar muito certo financeiramente, e quis começar a investir porque sabia que eu era bom com comunicação e venda. Percebi que eu estava fazendo algo que eu gostava, trabalhava só de final de semana, uma vez por mês, e ganhava duas, três vezes mais do que meus amigos que estavam trabalhando com carteira assinada. Aà que eu decidi fazer isso da minha vidaâ€, explica Daniel.
Até abrir a Arena Club, o empresário vivenciou experiências que o fizeram perceber que a área de eventos era um destino certo traçado em sua vida. Isso foi comprovado quando, aos 21 anos, Daniel resolveu investir todas as suas economias para abrir um estúdio, uma aposta que não deu certo financeiramente e o fez voltar para a área de eventos. “A gente ficava ali tentando, tentando e tentando, todos os dias e não ganhava dinheiro. No final do mês pagávamos as contas e não sobrava nadaâ€, relata.
De volta para o mercado de shows, Daniel utilizou o estúdio para promover eventos, mas logo começou a procurar um local para abrir uma casa de shows junto aos seus sócios Tiago Lobo Azevedo e Antônio Carlos Martins Azevedo. A degradação do espaço que utilizavam fez com que eles vendessem os equipamentos, pois poucas pessoas se interessaram em comprar o ambiente.
“Nós saÃmos do estúdio em 2017, pegamos um empréstimo, conseguimos um investidor e compramos o espaço onde hoje é a Arena Club, que na época estava caindo aos pedaços e tivemos que fazer reformasâ€, conta.
A Arena Club
Idealizado para ser um espaço acolhedor e aberto para diferentes estilos musicais, a Arena Club passou por muitos momentos de reformas e incertezas desde que foi inaugurada, em 2017, na Vila Mathias.
“Pela minha visão é muito mais inteligente investir em um público para o qual ninguém estava olhando, ao invés de bater de frente com todos os bares e baladas de Santos. Simplesmente não faria sentido. Criamos um novo segmento na Cidadeâ€, define.
Após conseguirem o espaço para receber um público maior, Daniel e os sócios perceberam que não tinham na época conhecimento suficiente para comandar eventos de grande porte para mais de mil pessoas. Nesta fase, o empresário conta que eles apanharam bastante até pegar o ritmo dos negócios.
“Eu tinha 22 anos e nós tomamos muitas pancadas. Ficamos os primeiros seis meses da Arena só queimando o restinho de caixa que a gente tinha, e foi uma fase bem difÃcilâ€, lembra Daniel. Com o tempo, os sócios conseguiram entender as necessidades do mercado, conheceram melhor o público e começaram a caminhar para momentos melhores.
Entre problemas de estrutura, reformas e investimentos que custaram cerca de R$ 2 milhões, Daniel conseguiu, então, tocar a casa de shows. Em 2019, o empresário se planejou para o ano seguinte, preparando uma agenda completa, mas que foi impedida de ser trabalhada por conta da pandemia.
A crise sanitária mundial inviabilizou o desenvolvimento da empresa por mais de um ano. Foi somente em outubro de 2021 que o empresário conseguiu abrir novamente as portas, mesmo com restrições.
“Nesse perÃodo da pandemia, nós ficamos com um monte de ingressos represados para fazer reembolso, não sabÃamos como Ãamos sustentar a empresa e, para nós foi muito difÃcil, porque a casa estava totalmente proibida de abrir. Já agora em 2022, nós finalmente conseguimos funcionar sem restrições e pegamos pesado na agenda, montando uma programação bem completa para cada mês. Esse é o momento em que trabalhamos por cinco anos para vivenciá-lo agora com muito sucessoâ€, comemora Daniel.
O empresário acredita que o mercado está muito aquecido neste momento. “Depois de anos presas em casa, as pessoas estão sedentas por diversão e interação. É um momento de ouro para a indústria do entretenimento ao vivo. Acredito que ainda teremos um bom tempo com essa demanda aumentada, um alÃvio para quem passou dois anos proibidos de trabalharâ€, justifica. “O público aumentou por essa demanda reprimida, mas também pelo trabalho intenso de agenda que estamos fazendo. Não vejo alguém que esteja fazendo um trabalho tão completo hoje na regiãoâ€, emenda.
Diversidade musical
Para o empresário, a Arena Club é uma ilha que possibilita aos moradores de Santos e de outras cidades da Baixada Santista experimentarem estilos musicais diferentes daqueles que são encontrados em bares e baladas da cidade.
“Santos é uma cidade dominada pelo pagode e funk. Basta você dar uma volta pelos bares por aÃ. Parece que um imita a programação do outro. Temos sempre o mais do mesmo. Enquanto isso, o público do rock, reggae, forró, rap, pop estava totalmente carente. Onde rolavam esses shows? Só em São Paulo. Eles eram obrigados a subir a Serra para curtir shows desse segmento. O Arena veio para mudar esse cenário. Estamos com uma agenda riquÃssima com mais de seis shows por mês de estilos variados. Agora, finalmente, Santos tem uma boa variedade de oferta de shows. Acredito que resolvemos esse problemaâ€, explica.
Segundo Daniel, o momento que a casa de shows vive atualmente é o resultado de muitos prejuÃzos do passado.  “A gente se acostumou muito a apanhar, não só aqui nos trabalhos da casa, mas na época do estúdio também. Foi muito na base da garra mesmo para conseguir. Não vivemos aquela história de empreendedor perfeito onde a pessoa cria uma empresa e dá certo. Foi meio que à força mesmo. E é gratificante ver uma ideia que só existia na sua cabeça um dia tomar a cidade do jeito que tomou. Um dia nós entramos nesse espaço e ele era só lixo. Hoje é uma das principais casas de shows de Santos, o que não foi nenhuma genialidade, foi só persistênciaâ€, finaliza Daniel.
União e reeducação
O proprietário da Arena Club prega a união dos produtores de shows e reeducação do público da Baixada Santista com relação ao futuro do entretenimento na Região.
“Acho que falta um pouco de união dos produtores e uma necessidade de reeducar o público em alguns pontos. Há muito a cultura do VIP na cidade, listas, grupos de divulgação, o que dificulta a venda de ingressos. Isso é algo que não existe com tanta força em outras cidades. Os artistas até se espantam quando vêm para cá. Ou os produtores se unem para mudar esse cenário, ou o trabalho para vender ingressos em Santos sempre será muito mais difÃcil do que em qualquer região do Estadoâ€, projeta.
Foto: Reprodução/Optima Comunicação