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Santos / Cotidiano

Reforma e restauro do Teatro Coliseu integram programação para a celebração do centenário

Por Silvia Barreto
Da Revista Mais Santos

Em 21 de junho de 2024, o Teatro Coliseu irá comemorar 100 anos. Esse marco histórico será celebrado com uma programação especial, mas nada se compara a um presente que a classe artística e os santistas desejam: a reabertura das suas portas.

Esforços nesse sentido têm sido feitos pela Prefeitura com as obras de restauração. A primeira etapa de intervenção no Teatro compreende a restauração da fachada e pintura do prédio anexo, atualização do sistema de para-raios e modernização do sistema de iluminação cênica da fachada, além da cobertura do palco e recuperação do terraço da fachada. Também está incluída no projeto a recuperação da calçada do entorno, em concreto desempenado, no padrão Calçada para Todos, entre outros itens.

Já a segunda etapa de obras envolve a reforma de manutenção da estrutura superior do palco, chamada de urdimento. O sistema que aciona as cortinas e as luzes de palco (varas cênicas) será modernizado, assim como a vestimenta de palco (cortinas). Já a terceira etapa prevê o restauro das pinturas e elementos decorativos do foyer, sala de câmara e plateia.

Para reforma e restauro total do Teatro Coliseu são necessários cerca de R$ 22 milhões: R$ 11 milhões do BNDES, R$ 5,5 milhões de verba Dadetur e R$ 5,5 milhões de uma empresa do Porto de Santos para incentivo à cultura, por intermédio da Lei Rouanet. Até 2024, os espaços do Teatro poderão ir sendo gradativamente liberados para uso, a partir do término da primeira etapa de obras, de acordo com análise da Secretaria de Cultura, responsável pelo equipamento.

Na segunda-feira (22), o Município encaminhará ao Dadetur para análise toda a documentação técnica que foi atestada na fiscalização realizada na quinta-feira (18). Trata-se de relatório do Município que inclui a nova planilha licitatória para execução dos 70% dos serviços que a empreiteira deixou de fazer na primeira etapa de obras. Desta forma, o órgão estadual poderá fazer a compatibilização dos serviços com a verba existente.

Depois que o Dadetur analisar toda a documentação, encaminhará documento à Prefeitura com a aprovação para utilização dos recursos do convênio. Assim, o Município poderá lançar novo edital de licitação para dar continuidade à obra que deverá contar com pouco mais de R$ 5 milhões de verba do Estado.

A fiscalização, que estava prevista para o início de setembro, foi antecipada pelo órgão estadual. O procedimento é considerado de rotina e serve para constatar os serviços executados e os que deixaram de ser feitos pela Spalla Engenharia, relacionados em planilhas dos técnicos da Secretaria de Infraestrutura e Edificações (Siedi), gerenciadora da obra.

Na última semana, a Prefeitura multou em mais de R$ 1 milhão a empresa vencedora da licitação em 2019 por inexecução parcial da obra de reforma e restauro do Teatro Coliseu. A previsão é lançar em um mês um novo edital para dar prosseguimento à primeira etapa dos trabalhos no importante patrimônio do Centro Histórico.

Segundo informação da secretária de Infraestrutura e Edificações, Larissa Cordeiro, ao mesmo tempo a Prefeitura negocia com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) a obtenção de R$ 11 milhões para as outras etapas de obras no Teatro. O objetivo é que o Coliseu esteja totalmente reformado e restaurado para as comemorações do seu centenário, em junho de 2024.

A obra conta com verba do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur), ligado ao governo do Estado. O órgão analisa a alteração do projeto e inclusão de novos itens relacionados à acessibilidade.

PARALISAÇÃO

A Spalla Engenharia, vencedora da licitação em 2019 para executar a primeira etapa de reforma e restauro do Teatro Coliseu, foi multada no valor de exato de R$ 1.077.787,07. A importância corresponde a um terço do valor da obra, baseada na cláusula 8ª, parágrafo 4º do contrato assinado com o Município.

A contratada responde por inexecução parcial da obra, com as correspondentes sanções de acordo com as cláusulas contratuais, que incluem multa de mais de R$ 1 milhão, calculada sobre os serviços não finalizados.

No início de maio, a Secretaria de Infraestrutura e Edificações (Siedi) notificou a empresa para desmobilização da obra e retirada dos equipamentos, materiais e operários do local. O motivo da medida foi o vencimento do contrato da obra, em 26 de abril, sem que os serviços estivessem concluídos. E essa não foi a primeira notificação. Antes disso, a Siedi já havia emitido outras notificações à empresa, por atraso em diversos itens no cronograma da obra.

HISTÓRIA

De acordo com o blog Memória Santista, de autoria do jornalista e historiador Sergio Willians, a população santista não via a hora de conferir por dentro a mais nova casa de espetáculos da cidade, que seria inaugurada na noite de um sábado, 21 de junho de 1924.

Por fora, o imponente prédio impressionava, de tão majestoso que ficou após ampla reforma, iniciada no ano anterior. Todos estavam curiosos para testemunhar o resultado de uma das maiores repaginações estruturais já realizadas em Santos.

O Theatro Colyseu, rebatizado então como “Theatro Colyseu Santista”, ocupava a mesma esquina da Praça José Bonifácio desde 1897, quando debutou na forma de Velódromo, um inusitado palco que promovia corridas de bicicletas, mas que também abrigara diversas manifestações culturais e políticas.

Em 1908, o velho palco esportivo deu lugar para a primeira versão de casa teatral, porém com uma queda voltada para a sétima arte. Sob a batuta do empresário espanhol Francisco Serrador Carbonell, um dos pioneiros na exploração de salas de cinema no Brasil, o primeiro Colyseu se tornou um lugar familiar e comumente utilizado como espaço de festas para a garotada santista.

Esse segundo capítulo, no entanto, começou a chegar ao final quando outro empresário do ramo de cinema, o comendador Manuel Fins Freixo, fez uma oferta a Carbonell pelo velho Colyseu. Negócio fechado, Freixo decidiu não economizar na reforma e ofertou à cidade um espaço de alta qualidade.

Construído em estilo neo-clássico eclético, com algumas influências do art-nodecô e art-noveau, o Theatro Colyseu Santista abriu suas portas numa noite memorável, que contou com a presença do então presidente do Estado de São Paulo (cargo equivalente ao de governador), Carlos de Campos. O curioso é que a peça que marcou a estreia do novo espaço cultural santista, na verdade uma opereta, “A Bella Adormecida”, era uma obra assinada, justamente, por Carlos de Campos, que também era músico e costumava compor obras líricas.

O Colyseu, a partir daí, viveu momentos de grande júbilo, recebendo em seu palco alguns dos maiores nomes da cultura musical e cênica brasileira, como Guiomar Novais, Bidu Sayão, Conchita de Moraes, Vicente Celestino, Cacilda Becker, Bibi Ferreira, Villa Lobos, Carmem Miranda, Oscarito, Procópio Ferreira, Paulo Autran, Maria Della Costa, entre tantos outros.

Depois veio a decadência, a partir dos anos 1950 e 1960, tendo seu ápice negativo nos anos 1970 e 1980, quando o majestoso espaço foi literalmente invadido por atrações de baixa qualidade, com filmes e apresentações pornográficas ao vivo. Em 1992, foi considerado de utilidade pública, sendo desapropriado no ano seguinte, pela Prefeitura de Santos. Após muitos anos de uma reforma polêmica, foi reaberto em 2006, recuperando parte de sua rica energia do passado.

Foto: Divulgação PMS