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2.0 - REGIÃO

Vítima denuncia abusos de padre suspeito de praticar pedofilia em Guarujá

A reportagem da Revista Veja desta segunda-feira (14) traz a denuncia dos abusos de um padre da Diocese de Santos no ano de 2009 contra um rapaz, na época menor de idade, de apenas 12 anos. Hoje Lucas Grudzien, com 22 anos, relata o trauma, a dor, o tormento em ter sido vítima do padre Edson Felipe Monteiro Gonzalez, ou simplesmente, padre Felipe. Tudo acontecia no interior da Paróquia São João Batista em Guarujá, litoral de São Paulo.

Segundo a reportagem, os abusos começaram depois que o menino se matriculou no curso de formação de coroinha. “Tudo corria bem na rotina casa-escola-igreja até a chegada de um novo pároco, tido como mais jovem e modernoâ€, destaca o texto da matéria.

O padre era conhecido da família Grudzien e fez a proposta aos pais do garoto para ele trabalhar na casa paroquial. “O garoto cursava o início do ensino médio e agarrou a oportunidade, até para poder ajudar os pais com as contas. A sua atribuição: organizar a documentação da igrejaâ€.

De acordo com a denuncia da Veja, padre Felipe chamava o novo funcionários para ver filmes, desenhos populares entre os jovens. Em um desses momentos, houve o primeiro ataque contra o adolescente. “O padre pediu para eu ir até o mesmo sofá onde ele estavaâ€, lembra Lucas. Foi quando o primeiro contato físico começou. O sacerdote colocou a mão em cima da barriga, subiu a camiseta e alisou o peito do jovem então com 14 anos. “Eu me levantei assustado e saí correndoâ€, lembra Lucas, que saiu de lá com lágrimas e suor nas mãos. O garoto até então nunca havia beijado ninguém. Aquele seria o primeiro de muitos ataques.

Padre Felipe gostava de assistir desenhos infantis do Cartoon Network, um dos preferidos era ‘Hora de Aventura’. “Após molestá-lo, o religioso dizia: ‘isso tudo fica entre nós, não conte nada aos seus pais’. Os toques evoluíram. “Desde que entrou na igreja, o padre Felipe me perguntava se eu já tinha beijado menina ou menino. Eu era novo, sem nenhuma experiência, e ele me falava para experimentar as duas coisas para poder escolher.â€

O estupro

Lucas conta em entrevista à revista que o primeiro ato sexual foi na sala paroquial, em um anexo da igreja. Após terminar, o padre disse: ‘Lucas, nós só assistimos filme, viu? Deus sabe disso tudo’. A tentativa do padre era tentar normalizar a situação até para o coroinha não contestar nada. No dia seguinte, o garoto foi conversar com o religioso, a quem se referia pela alcunha de “senhorâ€, com medo de sua família descobrir. O motivo do temor: sua cueca ficara suja de sangue. O padre pediu para o menino lavar a peça antes de colocá-la no cesto de roupas sujas. O segundo episódio foi ainda mais emblemático: após o ato, o padre Felipe foi celebrar uma missa tendo Lucas como seu coroinha. Predador e presa estavam em cima do altar, juntos, sem que a plateia de fiéis pudesse imaginar o pesadelo do adolescente.

Lucas deixou de ser o garoto dócil e o comportamento foi mudando ao longo do tempo. Já não ia bem na escola, respondia aos pais era outro menino. A mãe, então, foi buscar ajuda justamente para o agressor. “Por desconhecimento, pedi ajuda a quem destruía minha famíliaâ€, conta Claudete. Com medo que a verdade fosse descoberta, Felipe começou a pressionar Lucas para mantê-lo de boca fechada. “Você não pode confessar com nenhum outro padre, além de mimâ€, ordenou ao garoto.

Denuncia

Por trás deste lado cruel e criminoso, o padre se mostrava a sociedade como um homem de respeito. Tanto que celebrou o casamento da prefeita de Guarujá Maria Antonieta Brito, em dezembro de 2012. Lucas foi o coroinha da cerimônia.

À Veja o rapaz conta que a descoberta do crime no qual sofria veio pelos pais. Eles pegaram uma conversa pelo Messenger entre o padre e o garoto. “O papo de intimidade e coerção (o padre se referia ao menino como “viado†e pedia para deletar toda conversa entre eles) levantou a suspeita dos pais, que pressionaram o garoto para saber o que estava acontecendo. Com a ajuda do padre Felipe, Lucas fugiu de casa e, com 100 reais dados pelo religioso, tomou a balsa para ir até a casa de uma tia, localizada em uma cidade vizinha. Semanas depois, Lucas contou seu martírio aos pais. “O padre me deu carona até a balsa e me disse ao se despedir: ‘se eu fosse você, não voltaria mais para a casa’.

Em busca por justiça, a família registrou um boletim de ocorrência e fez uma denuncia no Ministério Público. “Sua mãe, Claudete Aparecida, procurou o vigário-geral de Santos para relatar o assunto, e escutou do religioso: ‘cuidado expor tudo isso, seu filho vai ficar conhecido como comida de padre’. Inconformada, Claudete enviou uma carta ao Vaticano. Após algumas semanas, foi chamada para um encontro com o bispo de Santos, Dom Tarcísio Sacaramussa, chefe do padre Felipe. “Logo que tomei conhecimento da denúncia, iniciei imediatamente a investigação prévia, em 2 de outubro de 2016, de acordo com as normas canônicas, e decretei o afastamento cautelar do padre do exercício do ministério sacerdotal. Toda a documentação relativa à investigação prévia foi enviada à Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, no dia 1 de novembro de 2016â€, disse o bispo à Revista Veja.

Punição

Segundo a reportagem, hoje, o padre Felipe trabalha hoje diretamente ao lado do bispo, no departamento de patrimônio imobiliário da Igreja Católica. Ele segue recebendo salário e tem contato com o público.

Há fiéis que acreditam que a proteção ao padre se dá porque ele, adepto de um estilo carismático, conseguiu aumentar o dízimo arrecadado nos tempos em que comandava a Igreja Comunidade São João Batista.

Vítima

Lucas hoje estuda engenharia civil em uma faculdade de Santos e faz terapia com psicólogos desde os 16 anos. Seus traumas são muitos. Ele fica com a boca seca e mãos trêmulas quando lembra dos abusos do padre Felipe. Suas advogadas Dilene de Jesus Miranda e Andressa Fraga lutam para que o padre Felipe seja condenado por abuso sexual e expulso da Igreja Católica: “para nós, que atuamos na área do direito de famílias, o discurso da doutrina social da igreja, de que a família é a “célula vital da sociedadeâ€, que deve ser protegida e receber tratamento prioritário, não é observado por alguns representantes da própria Igreja Católica, que se omitem diante de fatos graves praticados pelos párocos. Com isso, a instituição passa a ser vista como verdadeira cúmplice e corresponsável pelos danos perpetrados, por corroborar com a perpetuação destes abusos.

Ainda dizem as advogadas: “a família teve a confiança depositada na Igreja Católica quebrada por duas vezes. A primeira quando entregou seu filho ao Ministério do “Padre Felipeâ€, que se aproveitou dessa confiança para cometer os abusos. A segunda quando buscou amparo junto à Mitra Diocesana de Santos, mas ouviu do Vigário-Geral que se levassem o caso a diante o adolescente ficaria conhecido como “comida de padreâ€. Somente depois que a família procurou o Vaticano, o procedimento canônico foi instaurado. Mesmo assim, esperou por vários anos por uma resposta que nunca chegou, imperando a impunidade, já que ao invés de ser penalizado, Felipe foi premiado e hoje trabalha ao lado do Bispo Dom Tarcísio.â€

Lucas mantém a fé em Deus, agora frequentando a Igreja Anglicana. “Eu busco a Justiça. Está na hora da igreja cumprir o seu papel. Enquanto o Felipe continua como padre e recebendo seus salários, minha família está despedaçada: meus pais separados e eu com muita dificuldade de manter em um relacionamento. Até hoje tenho dificuldade para compreender que isso foi culpa dele, acho que essa é a parte mais difícil para alguém que, como eu, sofre abuso.â€

*Com informações da Revista Veja