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2.0 - REGIÃO

A importância da prevenção e conscientização do Câncer de Mama

Doença é o segundo tipo de câncer que mais atinge mulheres

Por Carolina Ribeiro

O mês de outubro é considerado muito importante para a conscientização e prevenção de uma grave doença que atinge em sua maioria mulheres, o câncer de mama.  Esse tipo de câncer é o mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo, depois do câncer de pele não melanoma.

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a expectativa para o biênio 2018-2019 é de 59.700 novos casos (29,5%) de câncer de mama detectados, o que representa um risco estimado de 56,33 casos a cada 100 mil mulheres.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Antonio Luiz Frasson, o câncer de mama é causado por uma multiplicação de células anormais da mama, que formam um tumor. “As células são pequenas estruturas que formam o corpo humano. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido enquanto outros são mais lentosâ€, afirma Frasson.

Exames de rotina podem e até mesmo os exames de toque nas mamas podem trazer à tona as suspeitas de casos para serem investigados.

“Pode ser investigado através do exame clínico das mamas, exames de imagem como mamografia, ultrassonografia e ressonância nuclear magnética. A confirmação diagnóstica, porém, só pode ser feita através da biópsiaâ€, afirma o também médico mastologista, ginecologista e obstetra, doutor Leopoldo Cruz Vieira, do HSANP.

Já Frasson, recomenda que as mulheres com a faixa etária de risco realizem o exame específico de detecção anualmente.

“Recomendamos que toda mulher a partir dos 40 anos realize a mamografia anualmente porque este exame é o mais indicado para detectar a doença precocemente, capaz de identificar lesões precoces, que ainda não podem ser palpadas. Quanto antes detectada a doença as chances de cura podem chegar a 95%â€, afirma.

Apesar das chances de cura serem altas se o câncer for identificado logo nos estágios iniciais, há casos em que a doença já pode possuir metástases, Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo. No caso de a doença já possuir metástases, que é quando ocorre a formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra. Segundo o doutor Leopoldo Cruz, nesses casos, o tratamento busca prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida da paciente.

Apesar da idade mínima para a realização da mamografia ser a partir de 40 anos, que é a idade de risco, mulheres com idade inferior, a partir de 20 anos, também acabam descobrindo a doença.

De acordo com Frasson, a prevenção primária deve ser iniciada na juventude, evitando excesso de peso, dar preferência a alimentos saudáveis com pouca ingestão de gordura e álcool e praticar atividades físicas. O que pode colaborar na redução de 28% do desenvolvimento da doença.

A realização de check-ups e do exame de toque diariamente podem ajudar bastante na detecção dos primeiros sintomas. Caso exista histórico familiar, também é importante fazer um acompanhamento médico para investigar possíveis predisposições genéticas.

Já a indicação da realização da mamografia para mulheres somente acima dos 40 anos é explicada pelo fato da mama antes dessa idade não ser tão densa, o que impossibilita a identificação de anormalidades no exame.

Para o tratamento existem duas opções segundo o especialista Leopoldo Cruz Vieira: o tratamento local, que inclui a cirurgia e radioterapia e o tratamento sistêmico, que inclui a quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.

Na questão dos avanços na área, Leopoldo afirmou que vêm ocorrendo avanços em relação ao maior conhecimento da doença, através do estudo da biologia molecular tumoral, possibilitando tratamentos mais eficazes e menos invasivos.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta

Uma mudança de vida

Aos 27 anos, receber o diagnóstico de um câncer de mama agressivo que já estava no estágio 3 foi uma situação dura para a fisioterapeuta e professora de Yoga, Roberta Baraçal Perez Peres, de 30 anos.

Nascida em Santos, mas atualmente morando em São Paulo, Roberta tinha um rotina corrida no hospital em que trabalhava, e apesar de cuidar da saúde dos seus pacientes, acabava deixando a própria saúde de lado.

Roberta passou a prestar um pouco mais de atenção à sua saúde quando em junho de 2015 viu um post na internet de uma colega que havia descoberto um câncer de mama aos 26 anos.

“Fiquei perplexa porque sou da área da saúde e não via casos de câncer de mama em jovens. Lembro de ter ligado para minha irmã para relatar o que tinha lido, e contei a ela que não fazia exames há anos, então combinamos de cuidarmos mais da nossa saúde, que iríamos marcar médicos e fazer nossos check-ups. Fui a endocrinologistas, cardiologistas, mas não a um ginecologista, apenas fazia auto exame todos os dias enquanto tomava banho. Até que em julho de 2016 eu senti um nódulo no seio esquerdo, que num primeiro momento pensei que tivesse relação com o período menstrual. Esperei 5 dias e lá estava ele bem aparente, acho que na hora eu já sabia, então marquei um ginecologista que também era mastologista. Ele fez um ultrassom, disse que normalmente esses nódulos são benignos em mulheres jovens, que não estava preocupado porque eu era jovem e não tinha histórico familiar…Mas devido a minha extrema preocupação ele pediria uma biópsiaâ€, explica a fisioterapeuta.

Dias depois, ao buscar o resultado do exame na clínica, veio o resultado positivo para o diagnóstico do câncer de mama, aos 27 anos.

“Li dentro do carro ao lado do meu marido, com quem completaria meu primeiro ano de casada no mês seguinte. Para ele foi um choque. Eu chorei desesperadamente por alguns minutos, pensei que era minha sentença de morte e que se eu morresse não teria feito nada do que realmente me fazia felizâ€, conta Roberta.

O tratamento inicial, segundo Roberta, foi a quimioterapia, fazendo dois protocolos: um com 4 ciclos e o outro com 12 ciclos. O que durou aproximadamente 6 meses. Já em início de 2017, Roberta precisou realizar a adenomastectomia bilateral, que é a retirada das duas glândulas mamárias e colocação das próteses de silicone no mesmo momento.

“Tive várias complicações de cicatrização, e por esse motivo fui submetida a mais uns 3 procedimentos cirúrgicos, mas não precisei fazer radioterapiaâ€, explicou.

Durante o tratamento do câncer de mama, Roberta teve um tumor benigno no ovário direito e precisou operar para retirá-lo. Meses depois, apresentou alteração no ovário esquerdo também, e para não retirá-lo, como o outro, o tratamento de bloqueio hormonal foi interrompido.

Para ela, a fase da quimioterapia foi muito difícil e quando iniciou o segundo protocolo, as dores ósseas eram intensas. O que fez acreditar que talvez o seu corpo não suportaria a dor até o fim do tratamento.

“Meu marido me levou até um parque para caminhar e me senti muito melhor depois disso. Resolvi ver se eu era capaz de correr, e apesar de achar que eu morreria de cansaço, consegui correr 2 km. Minha médica ficou extremamente feliz e disse para eu continuar a cuidar de mim. Mudei completamente meus hábitos alimentares, comecei a correr e fazer academia ainda em quimioterapia. E ironicamente foi doente que comecei a me sentir saudávelâ€, conta Roberta.

A fase das cirurgias também foi difícil para a jovem, já que não poderia realizar atividades físicas e se tornou completamente dependente do marido. Nesse período, Roberta desenvolveu depressão.

“A partir daí comecei a dar mais atenção a minha saúde mental, apesar de ter começado a fazer terapia logo na fase das quimios. Ali comecei a meditar e fazer Yoga, cuidar das minhas emoções e pensamentos. Passei a estudar muito sobre esses assuntos, sobre autoconhecimento e espiritualidade. Foi aí que descobri que poderia ser uma nova área de atuação a seguir. Em 2018, quando pedi alta da psiquiatria, voltei ao hospital e pedi demissãoâ€, conta.

“Depois do diagnóstico eu passei a não ter mais medo de morrer, hoje tenho medo de não viver”.

Com a mudança de hábitos e a forma de ver a vida, Roberta decidiu expor sua história compartilhando sua jornada oncológica no Portal Vai por Mim. Segundo a jovem, o projeto é como se fosse seu diário de bordo. Atualmente, a página do portal possui mais de 3 mil curtidas no Facebook.

“Nunca imaginei que as pessoas se interessariam por esse assunto justamente porque nós temos o costume de rejeitar aquilo que tememos. Mas acho que a linguagem leve que uso para falar das minhas dificuldades acabou atraindo a atenção das pessoas, e fico feliz por inspirar a sociedade a ser mais saudável, a olhar para a vida com mais carinho, porque eu não desejo que ninguém passe pelo o que eu passei para aprender o que aprendi!â€, conta Roberta.

A atualmente professora de yoga, contou que o projeto tomou proporções maiores, que a fizeram atuar muito além das mídias sociais. Roberta também precisou atuar dentro de empresas, trabalhando através da sua história diversos focos, como gerenciamento de estresse, Yoga, meditação e motivação, através de palestras.

O lema de Roberta é dizer para quem vive ou já viveu a doença de que eles não estão sozinhos e que conversar com quem já passou pela mesma situação acaba sendo um refúgio para muitos pacientes, já que quem não passa pela situação muitas vezes não compreende os medos e particularidades de quem sofre.

“Eu sempre falo para essas pessoas que as tristezas são para serem sentidas. Faz parte ficar triste, mas somos nós quem determinamos o tempo que a tristeza ficará com a gente. 

As dificuldades sempre vão existir, na vida de qualquer pessoa inclusive, mas apesar da dor podemos escolher a felicidade. Não significa que a dor vai parar de doer, apenas significa que existe uma vida cheia de possibilidades além daquela dorâ€, explica Roberta.

Sobre casos de câncer de mama detectados em mulheres jovens como ela, a jovem acredita que precisa ser trabalhada mais a ideia de prevenção do que da detecção precoce.

“Hoje em dia as campanhas estão voltadas aos exames preventivos e é uma ótima estratégia.

Mas com certeza as políticas públicas de saúde pecam no aspecto de prevenção. O câncer de mama possui diversos fatores de risco que são considerados modificáveis, como hábitos alimentares, sedentarismo, consumo de álcool, anticoncepcionais. Os jovens acham que são imunes às doenças, acham que vão morrer velhinhos e por isso descuidam tanto da saúde. Alertar sobre a prevenção é o que pode mudar o cenário de incidência de câncer de mama em pessoas jovensâ€, conclui Roberta.