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Santos / Cotidiano

Poeta expõe versos em casarões de Santos

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Por Tatyane Brito (colaboradora)

Os antigos casarões do Centro de Santos são deleites para quem ama construções históricas nos mais variados estilos arquitetônicos. Envelhecidos com o tempo, alguns desses espaços conservados oferecem hoje serviços essenciais para o dia a dia dos moradores, como estacionamentos, restaurantes, entre outros.

A Rua do Comércio é uma das principais da região central e permite uma viagem no tempo por meio de seus imóveis. Em algumas paredes dos casarões estão expostos murais de versos que retratam o cotidiano dos moradores. Escritos à mão em folhas de sulfites, as frases estão coladas sobre a tinta gasta com o tempo. O autor das poesias é um zelador comercial de 50 anos que descobriu o talento com a escrita na juventude, mas só o revelou para o mundo há dez anos.

Luís Vagner Dias, conhecido como Barney Days, ficou famoso pelas ruas após a exposição dos seus versos. Cada pensamento chama a atenção justamente por estar ali, atrelado com a história dos casarões. “As palavras sempre estiveram comigo. Meu pai era letreiro e desempenhava seu trabalho com muita dedicação e talento. Manualmente, eu o ajudava montando os letreiros com muita atençãoâ€.

A primeira redação escrita por Luís na escola ganhou elogios e incentivos para que seguisse o caminho dfoto-tatyane-brito03e escritor. “Depois de uma briga entre meu pai e eu, voltei a cena na minha cabeça e tudo o que eu senti naquele momento saiu em formas de palavras. O tempo foi passando e eu não consegui me dedicar à carreira de escritor porque precisava trabalhar para ajudar a minha famíliaâ€.

A sua releitura de mundo feita por versos curtos era conhecida apenas por pessoas próximas, conta ele. “Em 2005, um corretor de café leu alguns dos meus textos e fez uma singela exposição. Ele pediu para que eu escrevesse uma poesia. Eu peguei uma folha verde e escrevi a mão um pensamento. Ele pegou uma fita adesiva e colou a frase na parede de um casarão na rua XV de Novembro. Ela ficou visível para todos que passavam pela rua. E todos paravam e liam. O pedaço de papel ficou colado por dias e as pessoas que trabalhavam perto colavam mais fitas adesivas para que a folha não caísse. Foi então que eu percebi que o meu trabalho tinha um significado para elasâ€, diz.

Com o tempo, as pessoas comentavam cada vez mais sobre o seu talento. “Eu fiquei muito feliz em receber tanto apoio de pessoas que eu nem conhecia, mas que leram o meu texto e gostaram porque se identificaram. Recebi muitas mensagens e resolvi amadurecer a ideia de espalhar mais frases pelas ruasâ€.

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Barney, seu pseudônimo, é seu apelido desde a infância. Para assinar os trabalhos pelas ruas de Santos, trocou o Dias, seu sobrenome, por “Daysâ€.  No final de 2012, véspera de ano novo, Barney concluiu o seu mural. “Passei a madrugada preenchendo as paredes com frases e homenagens. Foram horas de dedicação para escrever 40 pensamentos. Eu chorei muito, e quando o dia amanheceu as pessoas me viram escrevendo. Quando terminei, recebi aplausos e uma homenagem das pessoas que trabalhavam no Centroâ€.

Cada frase é inspirada em um cotidiano de correrias que carece de mais relações humanas. No dia a dia, Barney escreve principalmente para os trabalhadores do Centro de Santos. “Coloco em cada pedaço de papel uma frase de motivação para que tudo nesta vida seja feito com mais amorâ€.

Os dois muros que hoje exibem as frases foram dedicados ao trabalho de Barney. “Recebi as autorizações dos donos e sempre vou renovando as frases. A minha preocupação era encontrar um meio de mostrar as frases sem estragar o imóvel. O papel colado foi um meio que deu certo. Muitas pessoas que param para ler enviam mensagens agradecendo, e pedem  para que o mural não saia daquiâ€.

O tempo vai gastando as paredes e as frases à tinta de Barney. “Cada espaço tem história e cada verso meu teu um elemento humano retratado porque escrevo para as pessoas. Dentro de mim mora o amor. E fora, as poesias de minha almaâ€.

Fotos: Frederico Dias