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Santos / Cotidiano

Pondo no alto o sonho da inclusão plena

Por Anderson Firmino
Da Revista Mais Santos

Levar um sonho o mais alto que puder. O desafio de muitos foi, literalmente, posto em prática pelo administrador de empresas Rodrigo Nunes, de 38 anos. Ele colocou no alto uma pipa com luzes de LED bem na noite de Réveillon, na praia de Santos. Uma satisfação que se encerraria em si. Mas que pode fazer a diferença para muita gente.

O ato de construir um brinquedo tão querido desde os tempos de infância move a vida do Thoperson, alcunha que virou marca registrada. Para ele, a união de varetas, papel e cola, pode fazer a diferença na vida de crianças, especialmente em situação de vulnerabilidade social. Um projeto já desenvolvido em escolas na Capital está nos planos, agora, para ser realizado na Região. Morando há dois anos em Santos, ele sonha com a repetição do êxito verificado no Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo.

“Um amigo falava que eu fazia isso bem. ‘Por que você não ensina a criançada aqui da comunidade?’, questionava. Ele pediu para eu elaborar um projeto, e, como ela já tinha pós-graduação, me deu uma noção de como escrever. E a gente entendeu, na época, que a pipa não era apenas só algo a se colocar no alto para se divertir. Poderia ter essa parte da integração da comunidade dentro da escolaâ€, recorda.

A semente estava lançada. Levar os meninos que estavam na rua e também não tinham dinheiro para atividades aos finais de semana, na escola do bairro. E eles aprendiam muito – além de fazer pipas. â€A gente conversava sobre família, sobre escola. Em seguida, vieram os pais. Por mais que tivesse apenas 22, 23 anos, já enxergava a distância que havia entre alguns pais e filhosâ€, relata Nunes.

O convívio com as crianças que aprendiam a fazer pipas reforçou a visão de que a integração familiar era chave naquele contexto. “Tinha o pai que era idolatrado pelo filho porque sabia jogar bola. E o que era querido por saber em- pinar pipa. Na minha visão, não importava se o pai dele era bom, mas eu me satisfazia de ver os dois juntosâ€, conta o administrador de empresas. Ele também abriu espaço para as meninas nas aulas.

“Eu mostrava que as meninas também poderiam brincar, não era algo restrito aos meninos. As mães se sentiam privilegiadas pelo convite, porque naquela comunidade, naquele aspecto de periferia, era algo que ninguém fazia. Era um evento comunitário, algo que a criança esperava a semana toda para participar. Daqui a pouco essas mães estavam fazendo oficina de biscuit, os pais fazendo aula de violão, e por aí vai. Famílias inteiras interagiam dentro da escola naquele final de semana. Esse era meu objetivoâ€, acrescenta.

Banheiros sem porta e falta de comida

A proximidade das famílias fez Rodrigo entrar na vida da comunidade. Surpreendeu-se com o que viu. Algumas casas tinham vários irmãos dormindo no mesmo colchão e casas com banheiro sem porta. Além disso, a comida era escassa. Com a ajuda de amigos, conseguiu montar cestas básicas e distribuir na comunidade. E tudo começou com as pipas.

Em Santos desde o final de 2019, o profissional, que trabalha na Unisanta, ainda não pôde colocar o projeto em prática na Baixada Santista. Culpa da pandemia que, apesar disso, não sepultou a ideia de fazer o bem em áreas periféricas da Região.

“Ainda não consegui sentir como as coisas funcionam aqui, quem poderia nos apoiar. Mas a ideia segue viva. Vim para Santos e ainda não pude apresentar esse projeto para a Prefeitura, por exemplo. Mas sei que ele funciona, porque, no mundo inteiro, crianças precisam de atenção, de carinhoâ€, pondera.

Enquanto isso, ele segue colocando pipas no alto, em áreas como Macuco e Zona Noroeste. E aguardando a oportunidade de colocar mais vidas apontando para o alto. “Basta as pessoas olharem para o próximo com um pouco mais de carinho. Com atitudes bem simples, a gente pode mudar a vida de alguémâ€. O céu das pipas é o limite.

Foto: Divulgação