Da Revista Mais Santos
“Tudo é samba. Mas isso, essa bossa, é outra coisa: é samba e não é sambaâ€. A frase de João Gilberto, um dos Ãcones da bossa nova, é perfeita para resumir o novo projeto de Ederson Santhos: Quase Bossa, trilogia com 12 músicas cujo primeiro volume será lançado nas plataformas digitais neste domingo (10).
Segundo Ederson, Quase Bossa “é um projeto de samba e pagode e que natural- mente poderia ser interpretado nas rodas de samba, mas com uma cara e com uma roupa de bossaâ€. Entendeu agora a referência à frase de João Gilberto?
Com 26 anos de carreira no samba, Eder- son apostou num trabalho bem diferente do que está acostumado. A decisão de sair da zona de conforto foi como dizer “chega de saudadeâ€. Pronto! Voltamos a João Gilberto que é dono, até hoje, da melhor interpretação da música Chega de Saudade, marco inicial da bossa nova, em 1958.
Na verdade, mais que uma saudade do estilo musical que Ederson ouvia na adolescência, a ideia do Quase Bossa é para ele mais como uma forma de quebrar o paradigma de que o samba seria menos nobre que a MPB clássica.
“A gente sempre ouve comentários que a MPB clássica e a bossa têm sofisticação e que o samba não tem. E eu nunca achei isso. Sempre achei que o samba tem sim, nobreza. Para mim, definitivamente, a bossa é uma variante do sambaâ€. Com esse pensamento Ederson selecionou 12 sambas (metade deles autorais) e deu a eles uma versão bossa-novista com piano, contrabaixo, bateria e violão. Também foi preciso interpretar diferente. Acostumado com as rodas de samba, com o partido alto e o samba batido na palma da mão, a forma de cantar nesse álbum é bem mais amena.
São quatro músicas em cada volume. O primeiro, Clareou, tem as faixas Samba é a nossa cara, Se não fosse você, Clareou e TaÃ. “Eu estou muito feliz com o resultado. Ficou bem diferente de tudo que eu fiz, mas com a mesma verdade e entregaâ€, resume.
Inspirações
DifÃcil encontrar algum estudioso da bossa nova que discorde sobre os principais Ãcones do movimento. Afinal, o estilo musical que vinha sendo formado em apartamentos da zona sul do Rio de Janeiro e que ganhou o Brasil e o mundo, só se concretizou a partir do encontro de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto, considerados a SantÃssima Trindade da bossa. E foi nessa fonte que a Fixe, produtora de audiovisual de Santos com larga experiência na produção de videoclipes e DVDs musicais, foi beber para produzir as capas da trilogia Quase Bossa.
“A Fixe sempre que tem oportunidade de trabalhar com artistas, entrega DVDs, clipes, lives. No Quase Bossa, nós montamos animações em after effects e também as capas dos três volumes. As fotografias são releituras de capas dos três principais Ãcones da bossa: Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto. Neste projeto, a gente saiu daquele normal que é gravar a banda tocando e o cara cantando. Com as músicas prontas, a gente vai conseguir levar para as plataformas digitais um conteúdo de animaçãoâ€, explicou André Vieira, proprietário da Fixe.
A ideia de fazer as fotos inspiradas em capas de discos antigos foi do próprio Ederson. Segundo André, no estúdio toda a iluminação foi montada buscando o mesmo clima de luz e sombra das imagens originais. Já o figurino e os adereços utilizados pelo artista têm pequenas diferenças. A capa inspirada em Vinicius foi a escolhida para o primeiro volume da trilogia, que será lançado neste domingo (10). Na imagem original, de 1967, Vinicius está usando sapato. Ederson está de tênis.
Sem retroceder é o tÃtulo do segundo volume e será lançado em 12 de junho. A capa foi inspirada no álbum Stone Flower, de Tom Jobim. O tom alaranjado do fundo e a silhueta da capa original foram mantidos. Mas na mão, diferente de Tom, que tinha um cigarro, Ederson segura uma caneta.
O terceiro volume é o Tô de Volta e faz uma releitura da capa de Chega de Saudade, primeiro LP de João Gilberto, lançado em 1959. No fim a gente acabou voltando no João Gilberto. Não tem jeito, mais de 60 anos depois, não tem como cantar bossa ou quase bossa, sem falar desses três.
Carreira
Aos 40 anos, Ederson Santhos, compositor, cantor e músico nascido no Jardim Piratininga, é um dos sambistas da Baixada Santista mais requisitados nacionalmente. Algumas de suas composições – individuais ou em parcerias – já foram gravadas por grandes nomes do samba, como Fundo de Quintal e Mario Sérgio. Uma delas ganhou presença na televisão, com o Programa Esquenta, da Rede Globo, que executava a faixa Xô, Preconceito (www.youtube.com/watch?v=SnRu451xo8g).
Nas rodas e casas de samba do Rio de Janeiro, Ederson também garantiu espaço com a música Comunidade (www.youtube. com/watch?v=A5oWDJV8V3M), gravada por Ito Melodia, cantor da escola de samba União da Ilha do Governador e ganhador do prêmio Estandarte de Ouro, pelo voto popular, como melhor intérprete do carnaval carioca.
Em 2013, Ederson gravou o CD Meu Samba Vai te Conquistar com 12 músicas autorais. Seu trabalho mais recente, o DVD Na Laje (www.youtube.com/watch?v=T4O- qsL-2VQA) é de 2021. O single Nasci pra Cantar (www.youtube.com/watch?v=97P- DGgPFW3E&list=OLAK5uy_n3cu8wePMX- 3D9HclYlrdRu0Ut7YJ2qf0U), de Vinicius Domiciano, foi gravado no mesmo ano.
No currÃculo ainda constam o DVD Pagode Puro (2015), e os singles Olhando pra frente (2017), com participação de Reinaldo, o prÃncipe do pagode (www.youtube.com/ watch?v=NgTBcklfugc), Na moral (2018), com participação do cantor Ferrugem (www. youtube.com/watch?v=vPRUBwI9oHI) e Humildemente (2019), com participação de Renato da Rocinha (www.youtube.com/wa- tch?v=CDRtP5K1kHs).
Foto: Divulgação