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Santos / Esporte

Cuidar dos outros, o esporte favorito do médico Reinaldo Martins

Por Anderson Firmino
Da Revista Mais Santos

Longevidade, bem-estar e alta performance. Estes conceitos estão presentes na vida de atletas de diversas modalidades. Mas, para conseguir casar esses elementos numa carreira de êxito, a estrada é enorme. Mais ou menos como a distância entre Santos e Rio de Janeiro, onde o médico Reinaldo Coelho Martins se formou, no final dos anos 1990.

Com 42 anos, sendo mais de 20 anos de carreira, ele tem várias histórias para contar. O especialista em qualidade de vida ainda enxerga o ofício com um brilho no olhar. Melhor para quem conta com seus préstimos.

“Quando uma pessoa vem para mim e diz que conseguiu amarrar um sapato, que tem disposição para coisas que podem ser pequenas para outros, mas para eles são de enorme importância, fico muito feliz. As pessoas não têm noção do valor que isso tem para mim. Claro que a gente precisa do dinheiro para viver. Mas isso paga muito mais. Meu olho ainda brilha pela Medicina. Está tudo muito comercial, sabe? Não é assim”, explica o especialista em Endocrinologia, Metabologia e Medicina Esportiva.

O esporte, por sinal, é o principal fio condutor de uma história que começou ainda na infância. Mesmo sem parentes na área, já flertava com ela ainda na infância, durante as consultas que ia com seus pais. “Meus pais sempre foram muito cautelosos, porque, quando você faz Medicina, em muitos casos é obrigado a sair de casa. Ao mesmo tempo que queria ser médico, tinha a intenção de trabalhar ligado ao esporte. Era um alucinado por coisas esportivas, por eventos esportivos, e precisava estar nesse meio. Minha vida me conduziu muito para isso”, resume.

Experiências

A “volta ao mundo em 80 torneios” começou logo. Tênis, futebol, futsal… não importa: a carreira de Reinaldo Martins é recheada de passagens ligadas ás competições. No currículo, inúmeros Challengers, vários Rio Open, Grand Slams como Roland Garros (2013 e 2017) e US Open (2015 e 2017), além do torneio olímpico de Londres/2012, em Wimbledon, a Copa América de Futsal deste ano… Mas dois campeonatos do mundo possuem uma deferência especial: o Mundial de Futsal, ano passado, na Lituânia, e a Copa de 2014, no Brasil.

A experiência mais recente teve um ingrediente extra nada desejado: a pandemia de Covid-19. Segundo Reinaldo, ela foi decisiva para atrapalhar os planos da seleção, que acabou caindo na semifinal diante da Argentina. “Só nessa viagem a gente fez 50 testes de PCR e antígeno. Perdemos atletas no meio da competição. Fomos muito prejudicados. Na fase de preparação, viajamos com 16 atletas. Tivemos 10 casos de Covid. Na época, o protocolo era isolar o atleta por dez dias. Estamos falando de 15 dias antes do Mundial. Fizemos a fase preparatória do Mundial com seis atletas. Eu jogava de ala, de pivô, para completar (risos). Foi muito complicado”, resume o médico, que tem entre seus assistidos Ferrão, eleito pela segunda vez consecutiva o melhor jogador de futsal do mundo.

No futebol, a Copa do Mundo representou um momento ímpar para Reinaldo Martins. Selecionado pela Fifa, ele acompanhou de perto as seleções dos Estados Unidos e da Colômbia, que ficaram em São Paulo, bem como deu expediente na Arena Corinthians, que recebeu diversos jogos, como a abertura (Brasil x Croácia) e a semifinal (Argentina x Holanda). Mas até começar o trabalho, muita expectativa.

“Fiz algumas provas para a Fifa via Skype na época, e você recebia um e-mail relatando sua aprovação para a próxima fase. Minha última etapa não poderia ter sido mais fácil, perguntando sobre protocolo para choques e traumas de cabeça. Tinha isso muito “mastigado. Falei: ‘passei”, mas ninguém me mandava o tal e-mail. Normalmente, chegava entre 7 e 10 dias. No último dia, me ligaram em casa, 11 horas da noite. Para Itaquera, ia um dia antes dos jogos, para receber as comissões médicas das seleções que iam jogar, numa espécie de manager para eles, mostrar como funcionava a rotina médica. Auxiliar mesmo, até em questões de idioma, de tradução”, relembra. Também passou pelas Sereias da Vila, categorias de base do Santos, além de Botafogo e América/MG.

Precocidade x longevidade

O médico salienta uma preocupação importante: a precocidade de muitas famílias com crianças e adolescentes, que almejam sua ascensão no esporte, mesmo sacrificando uma fase importante de desenvolvimento físico e emocional. Para ele, falta sensibilidade em alguns casos.

“As coisas têm mudado bastante. Hoje, estou atendendo atletas de 11 anos de idade. Como não atendo Pediatria, peço para voltar dali um, dois anos. Mas eles, com 11, já têm uma exigência profissional de patrocinador, de empresário. É bem difícil. Porque, ao mesmo tempo, você pega um atleta que é uma criança ou adolescente, que tem o tempo dele, não só de maturação física, mas de maturação social e familiar também. Alguns têm exigência da própria família, de aquele adolescente virar um atleta profissional. Tenho conversado com alguns pais: ‘Vamos respeitar a maturação hormonal e fisiológica’. Mas há pessoas que te procuram para ‘crescer’ o filho delas a todo custo”, alega.

Reinaldo entende que atualmente a forma física se sobrepõe. E, em alguns casos, ao simples talento. “Você tem que deixá-lo no auge da forma física, para ele conseguir, com essa competência física, se sobressair. Valorizo demais esse trabalho em equipe, com profissionais de Educação Física, psicólogos. Às vezes, eu até procuro conversar com professores de escola”.

No tênis, segundo ele, a situação é ainda pior para as jovens promessas. Além da rotina puxada de viagens e torneios, há um outro elemento: a solidão. “No tênis, também existe uma cobrança muito grande. Julgo mais difícil a vida de um tenista do que a de um jogador de futebol. Possuem uma exigência com relação a torneios, que viajam umas 30 semanas durante o ano, longe da família, da escola. Você nota que os atletas de tênis aparentam sempre uma carência. Costumo conversar com eles. Casam-se com a primeira namorada, a primeira pessoa que lhe dá uma atenção sem ser aquela exigência de treinador. Eles viajam sob cobrança o tempo todo”, pontua.

No outro extremo, a corrida é pela extensão da carreira, de preferência em alto nível. Ele cita como exemplo o atacante Hulk, do Atlético/MG, escolhido como o Craque do Brasileirão do ano passado aos 35 anos. Zé Roberto, ex-Palmeiras e Santos, que largou o futebol aos 41 anos, é outro modelo. A evolução da Medicina do Esporte, no seu entender, é decisiva para esse fato.

“A Medicina Esportiva tem feito uma coisa muito legal na longevidade do atleta profissional, da qualidade com que o atleta chega numa idade mais avançada. Também na periodicidade de treinamento, na realização de uma suplementação adequada. Porque cada atleta é um atleta. Também é notório o avanço dos exames laboratoriais”, conta Reinaldo, que tem o ex-santista Rodrygo Góes, atualmente no Real Madrid, e os jovens craques do Peixe, Ângelo e Marcos Leonardo, entre seus clientes.

Desafio contra a obesidade

O trabalho do médico não se restringe a atletas. Também há espaço para quem busca viver melhor, com a saúde de em dia e longe dos problemas causados pela obesidade. A batalha no trato com a alimentação é um norte para muitas pessoas, e Reinaldo Martins se coloca como um importante aliado – mas não maior do que o empenho de cada um.

“Um ponto importante é a falta de captação de prazer. E comida é prazerosa. Vou citar um exemplo ocorrido durante a pandemia: você está comendo, almoçando, olha para o outro e pergunta: ‘Vamos pedir uma pizza à noite?’. Não é por gula ou ansiedade que isso acontece. Nosso cérebro sabe que essa situação de comer e socializar é extremamente prazerosa. O próprio dia a dia sacrificante das pessoas faz com que a gente sinta vontade de comer coisas mais gostosas. Se você não tiver o prazer em uma vida mais saudável, a gente precisa observar uma série de fatores em torno disso, para poder tratar o paciente”, analisa.

Segundo ele, o cuidado é colocado em prática desde a primeira consulta. “Mas, quando a pessoa senta comigo, eu tento observar o que está levando ela ao sobrepeso. Ajudar até com um trabalho multidisciplinar. Minha filosofia de trabalho não é focar apenas nas questões metabólicas. A pessoa passa comigo, eu solicito umas 40 páginas de exames. Dessa forma, consigo analisar meu paciente e o eixo glicêmico dele, alguma disfunção glandular. Ou então procuro em fatores psicológicos, ansiedades, pressões, algumas coisas que acabam sobrecarregando e desaguam em distúrbios alimentares”.

O médico é favorável à cirurgia bariátrica, mas apenas em algumas situações. “Vejo a cirurgia bariátrica como uma bela solução. As técnicas cirúrgicas evoluíram demais. Tem pacientes para os quais eu indico, porque acho que aquela é a solução. O emagrecimento só se baseia em uma coisa: déficit calórico”.

Pai, fã de motos e de samba

Também existem os momentos de descompressão, dos quais o médico não abre mão. É quando pode aproveitar o tempo com a namorada e a filha, a pequena Ana Clara, de sete anos. “O tempo que tenho, gosto de passar com elas. Sou um cara muito família. Também estou sempre na casa dos meus pais. O esporte me permitiu conhecer 43 países. Gosto muito de viajar. Estou me programando para conhecer o Egito. Também gostaria de ver de perto a Aurora Boreal”, conta.

Ele não dispensa um bom passeio de Harley Davidson, bem como momentos de descontração ao lado de outros médicos. Saem os consultórios e entram os tantãs, pandeiros e cavaquinho: ele é integrante do Doctor Samba, um grupo que se diverte com o melhor do “pagode 90” e tocam em reuniões de amigos.  Corpo e mente sãos formam a receita do profissional.

“Estou aqui para entregar uma vida saudável. Cada paciente é único, meu trabalho é dessa forma. Acho que a gente tem que se cuidar”, finaliza Reinaldo, cujo esporte favorito é cuidar bem dos outros.

Foto: Divulgação