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Santos / Esporte

Identidade da paixão: torcedores que nasceram no mesmo dia e mês do Santos FC, que completa 110 anos

Por Ted Sartori
Da Revista Mais Santos

Um dos versos mais marcantes do Hino Oficial do Santos é considerado um mantra para o torcedor do Santos: “Nascer, viver e no Santos morrer”. E é possível adaptá-lo ao surgimento do clube, em reunião marcada para 14 horas de 14 de abril de 1912, um domingo, há 110 anos.

O nascer aconteceu em um momento mais do que propício, quando o futebol organizado adormecia na Cidade, em meio ao remo, que prevalecia. O primeiro jogo na Cidade, na Praia do Embaré, em frente à Igreja, acontecera uma década antes da fundação do Peixe e os dois clubes montados logo depois acabaram. Cada qual a seu modo. O Club Athletic Internacional encerrou as atividades em 1910 e o Sport Club Americano mudou-se para São Paulo.

Para o Santos viver, a comissão organizadora, formada por Mário Ferraz, Raymundo Marques e Argemiro de Souza Júnior, já tinha trabalhado bastante antes da reunião histórica no Club Concórdia, logo acima da Confeitaria Rosário, na antiga Rua do Rosário (atual Rua João Pessoa, nº 10). Já tinham arregimentado quase 150 jovens para a nova agremiação, na maioria estudantes e empregados no comércio, e até conseguido o terreno para o campo, localizado à Rua Aguiar de Andrade (atual Rua Manoel Tourinho), próximo à Avenida Perimetral.

Diante de tanta dedicação, era impossível conjugar o verbo morrer naquele momento. No entanto, era necessário um nome para o novo clube seguir adiante. A escolha é um caso à parte. No encontro, vários foram sugeridos. África foi rejeitado. Brasil não recebeu aceitação, porque acreditavam que “associar o nome do clube ao país não é de bom tom”. E Concórdia também foi pelo mesmo caminho, pois era o local que abrigava a reunião e não teria sentido nomear outra agremiação com o mesmo nome.

Foi então que veio a ideia simples de Edmundo Jorge de Araújo: “Por que não chamamos o nosso clube de Santos, Santos Foot-Ball Club?” Geralmente o óbvio teima em não ser enxergado e, quando isso acontece, os elogios aparecem. Neste caso, o símbolo foi em forma de aplauso dos que compareceram à reunião. Mais tarde, seriam as palmas do mundo inteiro.

Ao contrário do Santos, não foram necessários 39 fundadores para que torcedores apaixonados viessem ao mundo justamente no mesmo dia e mês que o clube. A Mais Santos Online conversou com dois deles, donos de um orgulho que nem todos podem ter, cumprindo de outra maneira um verso igualmente emblemático do Hino Oficial.

Santista de cadeira

O empresário Eduardo Moreira Brandão cumpre à risca a hereditariedade na paixão pelo Santos. O avô era santista, passou para o pai dele, que transferiu para Eduardo e, atualmente, é um dos filhos (Davi, de 7 anos) o responsável por dar continuidade a uma tradição familiar.

“Tornei-me sócio do Santos como dependente do meu pai quando eu tinha uns 7 anos. Ele comprou seis cadeiras cativas, sendo duas no meu nome. Aos 18, me tornei independente. Neste ano, inclusive, faço 30 anos nessa condição. Minha família toda é santista”, conta. “Meu filho é santista desde antes nascer. Nunca teve opção. Ele ainda não é sócio. Quero passar uma das minhas cadeiras cativas para ele, mas ainda não consegui fazer isso por burocracia do clube. Assim que eu conseguir, ele vai ser associado já com a cadeira dele. Estender esta paixão é um orgulho gigantesco. Torci muito para o Santos junto com o meu pai e, hoje, consegui dividir isso com meu filho. Ir ao estádio com ele é o maior orgulho que tenho atualmente de ser santista”, emenda.

Prestes a completar 48 anos no mesmo dia e mês que o Peixe, Eduardo – que também integrou o Conselho Deliberativo do clube – descobriu essa coincidência quando tinha por volta de 10 anos. “Fiquei muito contente com isso e comecei a contar vantagem para os meus amiguinhos santistas, por ter esse dia especial tanto para mim quanto para o Santos”, afirma.

As recordações como torcedor passam pelos muitos títulos comemorados nas arquibancadas dos estádios Brasil afora, mas também existem outras que vão além dos momentos vistos nas quatro linhas. E começam justamente nestes tempos infantis, como o encontro com Pita, campeão paulista de 1978.

O meia tinha sido convocado por Carlos Alberto Parreira para a Seleção Brasileira em maio de 1983, para a disputa de quatro amistosos na Europa: Portugal, País de Gales, Suíça e Suécia. Outros quatro jogadores do Peixe também tinham sido chamados: Márcio Rossini, Toninho Carlos, Paulo Isidoro e João Paulo.

“Meu pai tinha uma locadora de carro e ficou encarregado de levar o Pita ao aeroporto (de Congonhas, em São Paulo) e me levou junto. Foi sensacional estar em contato com um ídolo da época”, relembra Eduardo.

Já adulto, o empresário tinha quase 23 anos quando passou apuros antes de um clássico diante do São Paulo, em março de 1997, pelo Paulistão. Em campo, o jogo terminou 1 a 1, mas ele foi vencedor de outra forma.

“Eu tinha operado recentemente o joelho e fui, de muletas, ao clássico no Morumbi, junto com dois amigos. Assim que estávamos chegando ao estádio, demos de cara com a Torcida Independente, do São Paulo. Como eles estavam agredindo torcedores santistas bem perto de mim, tive que largar as muletas e correr quase 500 metros até o Morumbi”, conta.

Outra recordação, desta vez emocionante sob outro aspecto, envolve Pelé. “Quando eu era criança, encontramos com ele na escadaria da Vila Belmiro. Ele me deu um autógrafo, me pegou no colo e me deu um beijo. Por isso, ele vai ser meu eterno Rei do Futebol”. Um momento típico de um santista de cadeira.

Cardápio em branco e preto

A chefe de cozinha Aline P. Guimarães, que completa 35 anos exatamente quando o Santos sopra 110 velinhas, passa por sérios problemas nas ocasiões em que o Santos perde. Justamente pela profissão.

“Sempre ouço piadinhas. As pessoas dizem que vão comer peixe assado e que eu poderia fazer uma peixada para comemorar. Mas levo tudo na esportiva. Afinal, não vivemos só de vitórias”, conta, aos risos.

A conquista maior da vida de Aline é dizer que é “santista de corpo, alma e coração”. Além de fazer aniversário no mesmo dia em que o clube, ela nasceu em Santos, no bairro da Vila Mathias e reside na Cidade. “Só faltou Santos no meu nome”, afirma.

Apesar da família ser bastante dividida entre os integrantes com relação aos times que torcem, a maioria é santista. Desde pequena, a filha Yasmin acompanha a mãe no amor pelo Peixe, compondo outro importante item desta relação com o clube.

“Demorei até um pouco para ser associada. Quando me apresentaram as facilidades, não pensei duas vezes. Minha filha ainda não é e está me cobrando. Para ainda esse ano, essa promessa vira realidade”, afirma. “Sempre fui apaixonada pelo Santos, mas só me dei conta depois de crescida da sorte que tive em fazer aniversário no mesmo dia do meu clube de coração. Foi quando passei a entender mais sobre futebol, conquistas e títulos”, emenda.

Quando se trata de Santos, Aline considera que todos os momentos são marcantes, mas ela faz questão de destacar alguns que guardam ligação direta com sua vida. A primeira vez que pisou na Vila Belmiro foi o principal desses, símbolo de muito amor. E o outro foi consequência. “Conheci um namorado meu na Vila. Unidos pelo Santos. Porém, o romance não deu certo e, atualmente, é o melhor amigo que eu poderia ter. Só tenho a agradecer ao Santos”.

Se depender da filha, o Alçapão santista também entrará em sua história de outra forma. “Ela vai fazer 15 anos e a maior paixão dela é o Santos. Tanto que ela quer fazer o ensaio fotográfico da festa dentro da Vila Belmiro e é louca para conhecer o (atacante) Ângelo (integrante do atual elenco)”, conta. “Ver esse amor que eu tenho pelo clube se estender para ela é a maior emoção da vida. O coração se enche de felicidade e orgulho. Ainda lembro dos olhinhos dela brilhando na primeira vez que a levei no estádio para assistir um jogo. Foi uma emoção indescritível. E é pé-quente. Toda vez que a levo o Santos ganha”, emenda, rindo. É a melhor forma de não pedirem à chefe de cozinha peixe no cardápio.

O Santos é 10!

10 fatos marcantes em 110 anos de clube

PRIMEIRA VEZ

O Santos foi campeão paulista pela primeira vez em 1935, ao derrotar o Corinthians por 2 a 0, em 17 de novembro daquele ano, no Parque São Jorge. Os gols foram de Raul e Araken.

CAMISA BRANCA

A camisa 1 do Santos foi a listrada em branco e preto até 2011. Neste ano, houve mudança no estatuto do clube, que passou a estabelecer, dentre outras coisas, que a branca seria a principal.

ESCUDOS

O escudo do Santos, conhecido atualmente, passou a ser utilizado nas camisas brancas em 1924. A listrada não levava o distintivo.

A LUZ

A Vila Belmiro foi inaugurada em 1916. Fazer jogos noturnos, no entanto, só foi possível em 1931, a partir de 21 de março daquele ano, quando Santos e Seleção da Associação Santista de Esportes Atléticos empataram por 1 a 1.

A ESTREIA DE UM REI

Pelé estreou pelo Santos em 7 de setembro de 1956, na goleada sobre o extinto Corinthians de Santo André, em amistoso realizado na cidade do ABC. O futuro Rei do Futebol entrou durante a partida e marcou o sexto da incrível vitória por 7 a 1.

PARA A AMÉRICA E O MUNDO

O Santos foi o primeiro clube brasileiro a se sagrar campeão da Libertadores e Mundial. E logo em sequência, nos anos de 1962 (Peñarol e Benfica) e 1963 (Boca Juniors e Milan).

ESTRELAS

As estrelas referentes ao bi mundial foram inseridas na camisa do Santos em 23 de maio de 1968, em amistoso contra o Boca Juniors, na Vila Belmiro. Na ocasião, o Peixe perdeu por 1 a 0.

TRÊS VEZES TRI

O Santos foi três vezes tricampeão paulista, sendo duas com Pelé em campo (1960-1961-1962 e 1967-1968-1969) e uma com Neymar liderando o time (2010-2011-2012).

PAROU A GUERRA!

A Guerra de Biafra parou para que o povo da Nigéria acompanhasse um jogo do Santos em 4 de fevereiro de 1969. O Peixe jogou em Benin, quase na fronteira da Nigéria com a região separatista de Biafra, e bateu a Seleção do Meio-Oeste por 2 a 1.

OITO VEZES

O Santos foi oito vezes campeão brasileiro, de acordo com a unificação de títulos nacionais homologada pela CBF em 2010: são cinco títulos da Taça Brasil (1961 a 1965), um do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968) e dois do Brasileirão (2002 e 2004).

Foto: Guilherme Santi/Mais Santos