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Região / Cotidiano

Educafro, espaço para crescer e fazer a diferença

Por Anderson Firmino
Da Revista Mais Santos

Oportunizar. Palavra da moda, às vezes é descartada por ser tão surrada. Mas que reflete bem o que acontece com os alunos oriundos do Núcleo Cubatão do Educafro. O projeto, presente na Baixada Santista há 22 anos, possui uma lista extensa de pessoas que venceram, graças às aulas e atividades ministradas pelo projeto. Mas cada vitória é pessoal e o desafio é torna-la perene.

Numa sociedade que, de modo geral, vira as costas para os mais pobres e pre- tos, o espaço é uma plataforma de lan- çamento de talentos, mas, sobretudo, de cidadãos. Um desses casos é o de Palo- ma dos Santos de 41 anos. Ela conhece o projeto há 13 anos e, atualmente, como coordenadora, olha sua trajetória com carinho e gratidão. E pensar que uma foto 3 x 4 quase atrapalhou esse sonho.

“Eu era auxiliar de limpeza, morava na periferia de Cubatão, na Vila Esperança, e tinha parado de estudar havia bastante tempo. Um dia, estava indo embora para casa, saindo do serviço, e vi uma faixa in- dicando que havia um curso pré-vestibular comunitário aqui na cidade com o nome de Educafro. No dia da inscrição, eu fui, mas não tinha foto 3 x 4, nem dinheiro para tirá-la. Aí, comecei a participar das aulas escondida., porque faltava a bendita foto. Até que os coordenadores acabaram deixando eu cursar. Depois de um ano, eu consegui uma bolsa 100 de Direito na Unisanta via Prouni, por intermédio do projetoâ€, relata.

O curso precisou ser interrompido, por conta da maternidade. Ser mulher, mãe, pobre e preta, em muitos casos, fecha portas. Mas, graças ao trabalho do Edu- cafro, pessoas como Paloma “metem o pé na porta†e buscam ocupar as posições necessárias para fazer uma sociedade diversa. Hoje, ela, formada em Gestão em Turismo pelo Instituto Federal de Cubatão, e atualmente cursando Assistência Social, sabe bem os caminhos para autoafirmação e o que é preciso ser feito.

“A educação me oportunizou a estrar na sociedade e lutar contra o racismo, que é um dos nossos temas principais. Se hoje eu sou uma mulher lésbica assumida, uma ativista negra, dirigente sindical, devo muito ao Educafro, às aulas de cidadania, que são essenciais durante todo o curso. É uma transformação pela educação, tão necessária em nossas vidas. Nosso foco é nas pessoas de baixa renda, para que possa- mos ocupar todos os espaços que nos são devidos dentro dessa sociedadeâ€, afirma.

Gratidão, reconhecimento e retorno

O carinho de Paloma pelo Núcleo de Cuba- tão do Educafro é replicado por diversos alunos. Como a estudante de Engenharia na Unicamp Rúbia Grazielly. “Vocês me ajudaram muito na minha aprovação na Faculdade. Espero que muitas pessoas consigam tambémâ€, escreveu a estudante, em mensagem para os coordenadores do projeto.

“Hoje, não dá para mensurar o número de pessoas que passaram por nós que entraram numa universidade pública, que conseguiram se formar, que hoje são professores, advogados, dentistas, fisioterapeutas, engenheiros. A maioria dessas pessoas que se formam, voltam para ajudar, para ser coordenador ou professor voluntário. Para mim, é uma satisfação, porque só estou devolvendo tudo aquilo que fizeram por mimâ€, explica Paloma.

O núcleo

A iniciativa prevê, aulas de orientação vocacional e cidadania com foco nos direitos humanos, além das aulas tradicionais preparatórias para o ENEM, PROUNI, SISU e demais vestibulares e concursos públicos. Também realiza simulados e visitas monitoradas a universidades públicas, museus e espaços afins.

As aulas no Núcleo Cubatão terão iní- cio no mês de abril em data a confirmar nas dependências da E.E. Ari de Oliveira Garcia, na Vila Nova. Geralmente, as aulas acontecem aos sábados, e os alunos colaboram com doação de alimentos, para que sejam fornecidos café da manhã, almoço e café da tarde.

A rede de pré-vestibulares comunitários EDUCAFRO (sigla de Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) é uma rede de educação alternativa formada de professores e coordenadores voluntários e já existe há 22 anos na Baixada Santista lutando pela inclusão do negro e do pobre no ensino superior, além do combate ao racismo, machismo, intolerância religiosa e homofobia.

Além de Cubatão, o Projeto possui núcleos nas cidades de Santos, Guarujá, Praia Grande e São Vicente. Maiores informações no site do Projeto na Região, que é www.educafrobaixada.org.

Foto: Divulgação