Foto: Divulgação / Prefeitura de Santos
Da redação
Apanhar do companheiro e ter que dormir na rua, por três noites, grávida da primeira filha. Tempos depois, já com o bebê no colo, sofrer nova violência fÃsica do pai da criança. Desta última cena, a memória que ficou na filha foi a de que todos que se aproximassem da mãe iriam agredi-la. Por isso, a bebê chorou, por um tempo, quando notava que alguém abraçava a mãe. Para Flávia (nome fictÃcio), essas lembranças servem hoje apenas para ela nunca mais aceitar relacionamentos abusivos. Ela é uma das 24 atendidas na Casa das Anas, instituição que a Prefeitura de Santos mantém para acolher mulheres vÃtimas de violência ou em situação de vulnerabilidade social.
As lágrimas correm pelo rosto de Flávia, 21 anos, que está no nono mês de gestação – espera agora um menino, que já tem o nome escolhido -, quando ela conta como a Casa das Anas mudou completamente sua vida. Ela está no abrigo há apenas um mês, tempo necessário para preparar, ao menos na mente, seu futuro: ter o filho, cuidar dele, colocá-lo em uma creche, retomar os estudos e prestar vestibular para Medicina. “Quero muito ser pediatra. Adoro crianças”, diz, acariciando o barrigão.
A rotina de Flávia na Casa das Anas, instituição mantida em parceria entre Prefeitura e a ONG Vidas Recicladas, a deixa com esperanças. “Vir aqui foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida. Com a ajuda da equipe, passei a fazer o pré-natal para tudo dar certo para o meu bebê”. Ela já ganhou dois enxovais – um do Mãe Santista, viabilizado pelo Fundo Social de Solidariedade, e outro do Centro EspÃrita Ismênia de Jesus.

Foto: Divulgação / Prefeitura de Santos
Rotina familiar
Alcione  explica que o local é base de um atendimento multissetorial da Prefeitura de Santos. O espaço recebe mulheres encaminhadas pelo Centro de Referência em Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializada da Assistência Social (Creas) e pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP).
A ideia é que as mulheres, vÃtimas de violência doméstica ou que estavam em situação de rua, façam cursos, busquem profissionalização e fiquem até um ano para depois seguirem a vida fora da instituição.
Empoderamento
O secretário de Desenvolvimento Social de Santos, Carlos Alberto Ferreira Mota, explica que a atuação da Casa das Anas envolve outras secretarias municipais. As mães e seus filhos passam a ter acesso a atendimentos de Saúde e as crianças têm vagas nas escolas da rede municipal. “Tudo aqui é feito de forma a dar empoderamento a elas. A ideia é que elas tenham autonomia para seguir com as vidas quando saÃrem daqui”.
E sair da Casa das Anas é a meta de Joana (também nome fictÃcio). Depois de um relacionamento de 27 anos, que a deixou com dois filhos, de 12 e 9 anos, Joana busca se reaprumar, após sofrer violências fÃsica e psicológica por mais de duas décadas. “A violência psicológica é mais difÃcil de perceber. Ele ofende, xinga, depois diz estar arrependido e pede desculpas. Isso aconteceu comigo até tomar o primeiro soco, na cabeça, depois de cinco anos de relacionamento”, conta ela.
Joana chegou à Casa das Anas depois de registrar queixa contra o pai das crianças na Delegacia de Defesa da Mulher, onde foi encaminhada para um abrigo da Prefeitura. Há dois meses no espaço, ela busca se profissionalizar para realizar um sonho simples, mas seguro: encontrar um emprego que lhe permita alugar uma casa e cuidar dos filhos. “Não faço planejamento a longo prazo. Quero, apenas, poder dar o melhor para os meus filhos”.