Atividades de serviço ecológico são essenciais para avanços na qualidade vida, manutenção e geração de empregos, e para o desenvolvimento econômico das regiões turÃsticas
Viajar é preciso. Para conhecer novas culturas, povos e geografias. Em um mundo que sofre com os impactos das mudanças climáticas e que, por isso, observa com urgência a questão ambiental, o turismo de conservação se torna uma alternativa cada vez mais relevante. A melhor opção, certamente, para aqueles que desejam, não apenas usufruir dos lugares, mas contribuir para a preservação do meio ambiente e ainda melhorar a situação social e econômica da região.
O turismo de conservação faz parte das ferramentas utilizadas pelo Projeto Lontra, iniciativa realizada pelo Instituto Ekko Brasil (IEB), desde 1986, com o objetivo de recuperação e conservação da lontra neotropical (Lontra longicaudius) e da ariranha (Pteronura brasiliensis) nos biomas da Mata Atlântica e do Pantanal. De acordo com a presidente do IEB, Alesandra Bez Birolo, o objetivo desse tipo de turismo é proporcionar a participação ativa do turista em ações voltadas para a conservação da biodiversidade, envolvendo a comunidade do entorno, além da aplicar técnicas de educação ambiental voltadas à mobilização social.
No caso especÃfico do Projeto Lontra, como se trata de uma inciativa realizada por uma Organização Não-Governamental (ONG), as pessoas que costumam participar não são chamadas de turistas, mas de ecovoluntárias. Basicamente, elas auxiliam em todas as ações relacionadas à s pesquisas sobre os animais que estiveram sendo desenvolvidas no momento. Na sede do Projeto, localizada no litoral de Santa Catarina, ajudam no manejo, desde alimentação e estudo do comportamento dos animais em cativeiro. Em saÃdas a campo, feitas por meio de trilhas e deslocamento de caiaques, observam e coletam dados.
Para desenvolver suas atividades da melhor maneira possÃvel, os ecovoluntários são instruÃdos por técnicos especializados, pela comunidade local e por outros voluntários durante o projeto. Ou seja, adquirem conhecimento que pode ser difundido e empregado no futuro para a melhoria da região de turismo de conservação. “O ecovoluntário acaba sendo um multiplicador de ideias, conceitos e técnicas, auxiliando diretamente na sustentabilidade do projeto ao qual se dedicaâ€, explica Alesandra.
O gerente de Pesquisa e Projeto do IEB, o oceanógrafo Dr. Oldemar Carvalho Junior, explica que esse tipo de ação desenvolvida pelo instituto é uma alternativa para a sustentabilidade, tratando-se de um negócio social, que incentiva a economia sem visar lucro, somente processos e custos básicos. O IEB não dispõe de recursos financeiros abundantes, por isso os ecovoluntários pagam uma taxa diária, que inclui traslado de ida e volta do aeroporto até a base do projeto e hospedagem no local, que conta com estrutura de quartos e banheiros compartilhados, além de Wi-Fi gratuito. O valor obtido com a disponibilidade desses serviços é revertido integralmente para as necessidades do Projeto Lontra.
Dr. Oldemar afirma ainda que o ecovoluntariado se trata de turismo diferente e responsável e, assim, quem o faz necessariamente ama a natureza e deseja auxiliar uma causa que assegura a sobrevivência das espécies, no caso a lontra neotropical. O que não significa que os participantes não recebam folgas no sentido de praticarem um pouco do turismo tradicional. O trabalho é realizado de segunda a sexta-feira e, nos finais de semana, os ecovoluntários ficam livres para usufruir da cidade de Florianópolis de outras regiões de Santa Catarina.
Empreendimentos como o do Projeto Lontra, que tem como uma de suas bases o ecovoluntariado, são essenciais para regiões brasileiras já relativamente urbanizadas, e que, historicamente, dependem do turismo. Contrapondo-se a iniciativas ecológicas que procuram transformar locais com ricos ecossistemas em área de proteção integral, as ações desenvolvidas pelo IEB parecem ser a melhor saÃda no intuito de balancear a questão ambiental e a econômica, não colocando em risco a sustentabilidade das famÃlias e a arrecadação dos municÃpios.
“A realidade atual impõe que se considere os serviços ecológicos que o local presta à sociedade, sendo a sua preservação fundamental para a melhoria da qualidade de vida, para a manutenção e geração de empregos, e para o desenvolvimento econômicoâ€, destaca o gerente de Pesquisa e Projeto do IEB.