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Região / Cotidiano

Associação luta para trocar nome de avenida de Guarujá que homenageia escravocrata

 - REVISTA MAIS SANTOS

Por Alexandre Piqui

Um abaixo-assinado (clique aqui para assinar) organizado pela Associação Cultural Afro Ketu busca corrigir um erro histórico na Cidade de Guarujá. Trocar o nome da Avenida Leomil, uma das principais vias do Município, que fica no bairro Pitangueiras. Há tempos setores da sociedade mostram através de estudos que o passado do homenageado tem evidências nas quais desqualificam tal honraria.

Documentos revelam que Valêncio Augusto Teixeira Leomil foi um dos maiores traficantes de escravos da Cidade. Além disso, ele assassinou um marinheiro que estava prestes a denunciar o esquema em um período onde a escravidão já era proibida no Brasil.

Homem rico, Leomil era dono de uma extensa área entre o Perequê e o Canal de Bertioga. Tinha também muitas terras em Santos. Ele foi condenado e preso por causa dos crimes que cometeu e depois se retirou do país. Quando retornou, construiu uma linha férrea que parece ter feito apagar todo o passado cruel.

O fato abriu uma discussão dentro da sala de aula em 2017, entre os alunos do 5° ano do ensino fundamental da Escola Municipal Myrian Terezinha Wichrowski. Eles fizeram um trabalho coordenado pela professora Ademara Santos e colheram assinaturas para encaminhar à Câmara Municipal de Guarujá pedindo a mudança de nome da avenida. Na época, a turma de estudantes recebeu muito apoio nas redes sociais e também críticas. Porém, o projeto de lei nunca foi debatido entre os vereadores.

Desta vez, uma nova tentativa de mudança de nome da via vem através da Associação Cultural Afro Ketu. Segundo Elizabete Gonçalves da Silva, presidente entidade que defende a igualdade e o respeito étnico racial, é preciso reparar os anos de escravidão e de genocídio do povo negro.

“Nada mais justo que apagar da história o nome de alguém que traficava vidas humanas, alguém que manchou a história de nossa Cidade com sangue de nossos irmãos e irmãs. Manter o nome de alguém tão repulsivo quanto Leomil em um logradouro situado numa área burguesa é a mesma coisa que a casa grande transformar em mártir o açoitador de homens, mulheres e crianças“, desabafa Elizabete.

 - REVISTA MAIS SANTOSNova homenagem

O mesmo abaixo-assinado pede para incluir no logradouro o nome do Mestre Rafael Rodrigues (foto). Professor, capoeirista e uma pessoa muito querida no Município. Ele era assessor de juventude e também foi presidente do conselho da  Comunidade Negra por dois mandatos.

Ele morreu em março deste ano soterrado por uma avalanche de lama no momento em que ajudava famílias, vítimas da forte chuva no Morro do Macaco Molhado. Somente neste ponto de Guarujá, nove pessoas morreram. Ao todo, a tragédia vitimou 34 pessoas na Cidade.

Rafael completaria 37 anos, no último dia 4 de junho, nascido em Guarujá foi um militante cultural. Foi dele a ideia de criar, no ano 2000, a Associação Cultural Afro Ketu, desenvolvendo atividades socioculturais e educacionais em muitos bairros, tudo sem fins lucrativos.

Com o trabalho, conquistou um grande reconhecimento dentro e fora do estado de São Paulo.  “A partida do nosso Mestre, mentor somente é acalentada pelo fato de ser o herói em um momento de caos que assombrou a Cidade de Guarujá, na noite de 03 de março. É de suma importância o reconhecimento deste grande líder, de ter seu nome gravado em uma das avenidas centrais. Isso será para nós um avanço histórico, pois dará realmente valor aqueles que levaram e levam o nome da região através de políticas públicas culturais, sociais, educacionais e de saúde”, diz a atual presidente da Associação Cultural Afro Ketu.

Até o fechamento da matéria, a associação havia recolhido 1.844 assinaturas de um total de 2.500. Para participar da ação, basta clicar aqui e seguir as instruções na página. O abaixo-assinado será encaminhado à Câmara Municipal de Guarujá.

Fotos: Reprodução