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Região / Cotidiano

No ar, um companheiro especial: o rádio

Por Anderson Firmino, Silvia Barreto e Ted Sartori
Da Revista Mais Santos

Ele é a companhia per- feita. Diverte, informa, emociona, faz pensar, “canta”. Seja aquele mais antigo, de pilha, ou no celular, via aplicativo ou pela internet.

Neste domingo (13), foi comemorado o Dia Mundial do Rádio. A invenção de Guglielmo Marconi atravessa gerações e mira o futuro, sem deixar de lado o seu bem mais valioso: o ouvinte.

Na Baixada Santista, diversas rádios, com estilos diferentes, tratam de levar adiante o legado de um veículo “ameaçado de morte” por inúmeras vezes. Várias vozes da Região, cada uma a seu modo, fez do microfone um parceiro de trabalho, um confidente. Confira algumas histórias de comunicadores, em um convite ao baú de memórias radiofônicas.

Capa vermelha da paixão

O rádio de capa vermelha permanece como uma das relíquias guardadas cuidadosamente pelo jornalista Walmir Lopes em uma caixa. Ele ganhou o aparelho de um de seus irmãos quando fez 10 anos, em 1976.

“Esse mesmo radinho de pilha me acompanhou por muitos anos, inclusive em minhas idas à Vila Belmiro e à Ulrico Mursa. Até colei nele pequenos distintivos do Peixe e da Briosa”, contou.

A estreia foi naquela mesma noite de seu aniversário, 5 de novembro, ao ouvir o amistoso entre Santos e Cruzeiro, no Pacaembu, com a narração de Walter Dias na Rádio Atlântica. Os gols não saíram – o jogo terminou 0 a 0 -, o aparelho não funciona mais há muito tem- po (e vieram outros, sendo que um deles está acondicionado na mesma caixa), mas a paixão do garoto Walmir pelo rádio ficou sedimentada para sempre.

“Desde a adolescência, passei a sonhar em trabalhar em rádio. Quando iniciei o então Segundo Grau, atual Ensino Médio, fiz curso técnico em Eletrônica na Escola Aristóteles Ferreira, mas percebi que aquilo não era para mim logo que as aulas específicas da carreira tiveram início”, recorda.

Walmir Lopes concluiu o curso, mas fez em paralelo, quando estava no quarto ano, um curso de locução no Colégio do Carmo, que garantia o registro profissional de radialista.

“Fui o melhor aluno da turma, o ora- dor na formatura e, creio que em razão disso, um dos meus professores, o saudoso Vicente Ayres, me recomendou à Rádio Cacique, onde trabalhava, para cobrir as suas férias”, contou.

Era outubro de 1985. A carreira de Walmir no rádio foi até agosto de 2007, quando ele pendurou o microfone. Nesta trajetória, dez emissoras contaram com sua voz, sendo seis AMs (além da Cacique, Tribuna, Atlântica, Clube, Bandeirantes e Gazeta) e quatro FMs (Guarujá, Litoral, Serra do Mar e Hits).

Nos prefixos de amplitude modulada, Walmir foi locutor musical, jornalístico e integrou equipes esportivas, sendo apresentador, repórter, comentarista, plantão e produtor), além de fazer a locução e, ao mesmo tempo, operar a mesa responsável por colocar o programa no ar nas emissoras de frequência modulada, tendência que acontece até hoje.

“O rádio mudou muito, mas estas mudanças foram necessárias para que se adaptasse ao mundo moderno. O meio conseguiu aproveitar a tecnologia para sobreviver e se mantém fundamental como fonte de informação e entretenimento. O rádio seguirá relevante. Eu ouço o dia todo”, observa Walmir. Assim como vê, com saudade, aquele rádio de capa vermelha repousando como representante de uma era. (TS)

Rádio sempre e mistérios na madrugada

O jornalista Alex Frutuoso pode ser chamado de multimídia. Atua em várias frentes, incluindo TV e internet. Mas o rádio é quem faz bater mais forte o coração dele, que milita na área desde 1993. E sem deixar a “latinha” de lado.

“É um negócio pelo qual a gente tem um amor especial, quase que um vício. Uma magia que prende a gente no rádio. Talvez porque ainda mexa com a imaginação das pessoas, mesmo com lives dos programas e tal. Mas a pessoa precisa fazer com muita paixão, porque o rádio exige da pessoa conhecimento e lado artístico – a parte artística para apresentar e conhecimento porque, caso contrário, você não cativa o ouvinte”, conta Frutuoso, atualmente apresentando o programa Entrelinhas, na Santos FM, o Esporte em Debate, na Boqnews TV e com cadeira na icônica mesa do Esporte por Esporte, na Santa Cecília TV – além do seu Canal 10 no YouTube.

Apaixonado pelo Santos Futebol Clube, o jornalista alimentou seu amor pelo rádio ouvindo os principais nomes da crônica esportiva da Baixada Santista e até da Capital, caso do narrador Osmar Santos. E, desde o dia em que pisou no antigo prédio da Facos, na Pompeia, desejou que o microfone fosse seu companheiro pela vida. E assim foi desde 1993.

“Minha motivação para ser jornalista foi o rádio. Para mim, sempre foi um sonho, que virou realidade muito cedo. Porque em 1993, já no primeiro ano da faculdade, eu estreei profissionalmente na Rádio Guarujá. Foi a primeira coisa que fiz como jornalista – e me considero jornalista desde o primeiro dia na faculdade. Aí, a partir dos anos seguintes, em especial 1996, não parei mais de fazer rádio. Sempre estive, em algum momento, participando de algum projeto”, conta.

Uma das vozes marcantes na memória, contudo, não é ligada a esportes. Mas de um repórter de oratória única e repleto de histórias contadas com absoluta maestria – mesmo que fossem as mais escabrosas. “Eu ouvia Gil Gomes na Rádio Capital. Todo dia à meia-noite. Tinha um rádio ao lado da cama, quando era adolescente, e escutava o Gil Gomes meia-noite, contando aquelas histórias dele. Eu não conseguia desligar do rádio. Enquanto ele não terminasse de contar a história. Ouvia crimes antes de dormir (risos). Mas é que ele tinha um jeito de fazer o negócio que era impressionante”, relata Frutuoso.

O “multimídia” também entende que o veículo do seu coração tem vida longa. No modelo de notícias + análises presentes nas TVs a cabo, inspirados no rádio, mas que carece de mais apoio de empresas para garantir a produção de conteúdo de qualidade.

“O público é cativo porque, se a rádio está no ar até hoje, é por ter gente que escuta. E o mercado publicitário sabe disso. Claro que o valor, para investir no rádio, é muito menor do que na televisão, mas as rádios conseguem se manter. E tem a questão da imagem: hoje, é um conteúdo multimídia. Você produz o áudio para quem está no dial, e a internet potencializou a rádio. Ela pode fazer uma entrevista e, para quem está assistindo, colocar imagens. Hoje, a gente tem a tecnologia como forte aliada. É uma questão de os empresários locais entenderem e investirem nisso. Hoje, você consegue fazer um noticiário quase de televisão, com menos recursos do que as TVs exigem. Vejo o rádio vivo por muito tempo, com um público fiel”, vislumbra Alex. (AF)

Amor antigo, selado após um e-mail

Fabíola Cidral conviveu por 21 anos com um amor latente: o rádio “All News”. Foram mais de duas décadas de CBN, na Capital, ao lado de craques da comunicação, como Heródoto Barbeiro. E foi ele quem tornou possível esse sonho para a jornalista, atualmente no portal Uol.

“Quanto às minhas referências no rádio, claro, tenho o Heródoto Barbeiro como grande referência em São Paulo, na CBN. Foi justamente ele a quem fui procurar quando cheguei na Capital paulista. Isso foi em 2000. Mandei um e-mail para o Heródoto, falei que meu sonho era trabalhar lá e ele era uma grande referência para mim. Na faculdade, comecei a estudar muito sobre a rádio Que era uma novidade, uma rádio All News. Mandei um e-mail para o Heródoto, e ele disse ‘Vem tomar um café comigo’. Foi aí que consegui meu emprego, minha porta de entrada”, diz Fabíola.

Formada em Santos, com passagem pelo Jornal da Orla, a jornalista teve sua primeira experiência com o rádio logo após a faculdade. “Quando saí, criei o projeto de um programa de rádio que se chamava Atraente. Era meu sonho, porque, na faculdade, meu projeto final do curso foi um programa de rádio. Quando saí da faculdade, disse ‘Ah, eu quero ter um programa de rádio’. Desenhei um projeto e fui batendo de porta em porta, para oferecer o meu programa. Era feminino, onde a gente discutia as questões da mulher, falava sobre comportamento, moda, saúde, e tinha até um quadro de horóscopo. Apresentei em várias rádios e a Litoral FM, na época, gostou muito e a gente colocou no ar. Fiquei no ar com ele quase um ano, e saí para vir morar em São Paulo”, conta.

Fabíola Cidral olha com gratidão para o microfone, mesmo não estando no dial atualmente. “Toda a minha escola foi o rádio, apesar de ter começado em Santos, no Jornal da Orla, e esse foi meu início de carreira, e logo depois fui para a CBN. Então, o rádio é minha grande escola no Jornalismo. E é muito maluco que, agora, que estou fora dele, percebo o quanto é importante para a formação dos jornalistas. Porque a gente está cada vez mais atuando em tempo real em tudo, e o quanto isso é forte no rádio”, observa, projetando o “futuro do presente” radiofônico na figura dos podcasts, a última moda em conteúdo falado.

“O futuro do rádio, na verdade, já está acontecendo. Sempre ouvi que ele ia morrer, mas segue cada vez mais vivo, nas suas mais diversas formas. Uma das novidades é essa história de podcast – que, na verdade, é rádio. Eu não vejo como o rádio terminar, porque é algo muito cativante, onde a gente tem mais intimidade com as pessoas que consomem as notícias, as músicas. Eu acredito que o rádio não vai acabar, vai se transformar – e já está se transformando. Talvez seja, de todos os veículos, o que tem mais facilidade em se transformar. Colocou-se imagem no rádio, transmissão no YouTube, e as pessoas acompanham, são muitos acessos. Essa coisa do rádio no podcast, que são os programas mais elaborados, isso é incrível. É a raiz do rádio também. Você vê programas totalmente baseados no rádio. Eu acredito muito nessa transformação. Vejo um futuro brilhante, ainda, com essas transformações”, complementa. (AF)

Um garoto insistente

O caminho trilhado por Thiago Paes para entrar no rádio foi com base na insistência e na proatividade, sem qualquer influência. Titular da faixa matutina (7 ao meio-dia) da Santa Cecília FM, emissora onde trabalha desde 2014, o locutor lembra que, desde criança, dava um jeito de estar junto com aquelas vozes que admirava.

“Quando eu tinha 9 anos, comecei a me encantar pelos locutores na época, pela comunicação que era feita, solta, próxima do ouvinte, com carisma, diversão e prêmios. E isso tudo me fez também ser um participante assíduo das promoções feitas pelas emissoras, para onde eu ligava todos os dias para pedir músicas, ganhar prêmios e ter a alegria de poder conversar no ar com os locutores. Perdi as contas de quantos prêmios ganhei, na quantidade de vezes em que passei horas dentro dos estúdios das emissoras simplesmente acompanhando de perto o trabalho daqueles comunicadores, seja no AM ou no FM. Tive o privilégio de trabalhar com muitos deles anos depois e alguns se tornaram amigos pessoais. Cada momento deste serviu para pavimentar a minha carreira que começaria anos depois”, conta.

O início aconteceu em 1993, quando Thiago era um adolescente de 14 anos. A tradicional Rádio Clube tinha um novo e ousado projeto. A emissora contratou grandes comunicadores, casos de Rui Pantera, Hudson Marcondes, Douglas Gonçalves, Nisio Lemos e outros. A emissora, que funcionava na Rua José Caballero, no Gonzaga, nos fundos do antigo Cine Alhambra (atualmente é um edifício), estava no caminho diário de ida e volta da escola do garoto. Era a senha.

“Certo dia, em um destes retornos, decidi abusar da cara de pau. Fui até a recepção pedir para falar com o responsável. Veio o José Rubens Marino, diretor da rádio, que me ouviu e acho que percebeu algo diferente naquele garoto cara de pau, mas cheio de vontade, pois ele me pediu para voltar no dia seguinte para atender às ligações dos ouvintes no estúdio. No dia seguinte, eu estava lá e assim seguimos por mais de um ano e meio, até que a emissora foi arrendada para a Igreja Universal do Reino de Deus e todos os que lá estavam foram dispensados”, recorda.

Já em 1997, Thiago era maior de idade e conseguiu fazer o curso de locução do Senac Santos com o professor Nisio Lemos. Com isso, ele se habilitou para exercer a função de locutor em qualquer prefi- xo. Dois meses depois, em janeiro de 1998, ele estreou na Enseada FM, a Rádio Rock do Litoral, onde permaneceu por três anos. Em grande parte do tempo, por sinal, dividiu a sua rotina atuando também como locutor da Serra do Mar FM, emissora com programação popular e pertencente ao mesmo grupo, a Mar Comunicação. “A partir daí, minha carreira seguiu o caminho natural. Antes de trabalhar na Santa Cecília FM, passei por Jovem Pan Santos, Band FM, Guarujá AM e FM, Rádio Atlântica AM, 98 FM, Tri FM e outras”, detalha o locutor.

Thiago Paes lembra que a evolução do rádio fez com que ele não se limitasse à música e ao entretenimento, indo além do dial convencional. O avanço da tecnologia provocou um desejo do ouvinte: variedade. Em todos os sentidos.

“Atualmente, as emissoras, mais do que nunca, devem contemplar tudo isso e a informação necessária para atender a uma população cada vez mais sedenta de informação, de aná- lise, de pontos de vista que possam confrontar suas ideias e, a partir daí, promover um debate sadio. As emissoras devem obrigatoriamente pensar em conteúdos para atender à parcela da população que usará o streaming para acompanhar. Rádio já é multiplataforma e este é um caminho sem volta”.

Foto principal: Anderson Firmino
Outras fotos: Anderson Firmino e Arquivo pessoal