Por Alexandre Piqui
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) divulgou dados em relação aos atendimentos nos hospitais da Baixada Santista. Entre os números, uma unidade administrada pela Prefeitura de São Vicente e outra pelo Governo do Estado em Guarujá se destacam pela porcentagem de óbitos entre janeiro a junho de 2019.
No Hospital Municipal de São Vicente, considerado de porte médio, 377 pacientes morreram no período avaliado (13,67%). Já em Guarujá, no Instituto de Infectologia Emilio Ribas II, gerenciado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo foram 57 óbitos (13,44%). A unidade é de porte pequeno.
A reportagem do portal MAIS SANTOS procurou um especialista para entender o que representa esses índices.
Milton Osaki é médico, formado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com Pós-Graduação em Administração Hospitalar e coordenador do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) da Associação Paulista de Medicina.
Ele explica que a taxa de mortalidade institucional é um indicador de desempenho dos hospitais e trata-se de uma relação porcentual entre o número de óbitos após 24 horas de internação e o total de saídas em determinado período.
“A meta de mortalidade para qualquer hospital; seja de pequeno, médio ou grande porte deve ser a menor possível considerando-se a mortalidade evitável. A morte evitável pode estar relacionada a diversas causas que incluem as infecções hospitalares, o uso inadequado de medicamentos e de outras tecnologias, as falhas na supervisão, os erros durante a cirurgia ou as altas inapropriadas”, revela.
Sobre os números das duas unidades citadas na matéria, o médico diz que o indicador de mortalidade apresenta dificuldades de interpretação. Isso pelo fato de não deixar claro as variações nas taxas de óbitos entre hospitais. “Este modelo explicativo necessita considerar variáveis como, por exemplo, a população de pacientes e o perfil de gravidade dos casos internados, de forma que as diferenças na qualidade como a eficácia das tecnologias, adequação dos processos envolvidos na assistência médico-hospitalar representem variação mínima”, comenta Dr. Milton Osaki.
Programa CQH
Na visão dele, para diminuir o número de óbitos é necessário colocar em prática uma metodologia administrativa, o uso de um modelo de gestão. Esse trabalho vem sendo realizado pelo programa no qual coordena, o ‘Compromisso com a Qualidade Hospitalar’ (CQH) que propõe disponibilizar aos hospitais formas para que os processos de cuidado aos pacientes tenham sistematização para evitar erros.
O CQH é um projeto de responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina que se iniciou em 1991 e é operacionalizado pela Sociedade Paulista de Medicina Preventiva e Administração em Saúde-SOMPAS.
Todos os participantes são voluntários e nestes 29 anos de atividade conta com cerca de 286 hospitais participantes. A adesão é voluntaria. O modelo de gestão estimula a participação e a auto avaliação e contém um componente educacional muito importante, que é o incentivo à mudança de atitudes e de comportamentos. Incentiva o trabalho coletivo, principalmente o de grupos multidisciplinares, no aprimoramento dos processos de atendimento.
Reposta
Sobre o Hospital Municipal de São Vicente, a prefeitura da cidade, por meio da Secretaria de Saúde (Sesau), informa “que a unidade possui um pronto atendimento e o hospital no mesmo endereço, diferentemente de outras unidades hospitalares da região, nas quais o paciente dá entrada em determinada unidade de emergência, é estabilizado e somente após esse procedimento é transferido para segmento hospitalar (internação).
Aproximadamente 40% dos óbitos se dão com menos de 24 horas da admissão, ou seja, ainda na unidade de pronto-atendimento, com quadros como parada cardiorrespiratória, politrauma, ferimento por arma de fogo, infarto agudo do miocárdio, entre outros.
Diante disso, justifica-se o motivo para que o Hospital Municipal apresente maior índice de ocorrência de óbitos, pois são somadas mortes de pacientes do pronto-atendimento e de pessoas internadas na unidade hospitalar”.
A reportagem entrou em contato com a Secretária de Saúde do Estado de São Paulo solicitando uma nota em relação ao Instituto de Infectologia Emilio Ribas II, em Guarujá. Mas até o momento não recebemos resposta.
Dados
Abaixo está a relação completa da taxa de mortalidade nos hospitais públicos da Baixada Santista entre janeiro a junho de 2019.
Santos
Hospital Guilherme Álvaro/ Porte: Grande
Óbitos: 163 – 4,28%
Hospital Municipal dos Estivadores/ Porte: Médio
Óbitos: 115 – 4,49%
Maternidade Silvério Fontes/ Porte: Pequeno
Óbitos: 2 – 0,57%
Hospital Municipal Dr. Arthur Domingues Pinto/ Porte: Pequeno
Óbitos: 28 – 5,02%
São Vicente
Hospital Municipal de São Vicente/ Porte: Médio
Óbitos: 377 – 13,67%
Hospital Municipal Dr. Olavo Horneuax de Moura/ Porte: Pequeno
Óbitos: 20 – 8,03%
Hospital e Maternidade Municipal de São Vicente/ Porte: Pequeno
Óbitos: 9 – 0,6%
Guarujá
Instituto de Infectologia Emilio Ribas II – Baixada Santista/ Porte: Pequeno
Óbitos: 57 – 13,44%
Praia Grande
Hospital Irmã Dulce/ Porte: Grande
Óbitos: 282 – 7,22%
Mongaguá
Hospital e Maternidade Dr. Adoniran Correia Campos/ Porte: Pequeno
Óbitos: 20 – 5,93%
Itanhaém
Hospital Regional de Itanhaém/ Porte: Médio
Óbitos: 133 – 2,59%