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1.0 - SANTOS

Livro previu epidemia no Brasil em 2020

“O telejornal anuncia: Uma epidemia mortal e fora de controle que a Organização Mundial de Saúde considera uma ameaça mundial. O vírus  atingiu muitas pessoas do Brasil e do restante do mundo, de todas as faixas etárias.”

Este e outros trechos de Caminho para ver estrelas, livro de Lúcia Teixeira,  publicado em 2019, fazem lembrar o momento atual do país e do mundo, com a pandemia de Covid-19. Já na apresentação, a autora, que é psicóloga e educadora, adverte, usando frase de Jorge Luis Borges: A Literatura não é outra coisa senão uma mentira que diz a verdade.

Na história, os personagens adolescentes do livro, Lucas e Ana, estão em 2020, em uma cidade praiana do Brasil. As autoridades decretaram  quarentena, devido ao rápido e letal contágio, impedindo todos os jovens de sair de casa, ir à escola e deixar a cidade.

Os dois adolescentes se espantam com o fato de que, em pleno século vinte e um, doenças aparecem, outras sofrem mutações ou reaparecem em surtos e epidemias, sem controle, vitimando tantas pessoas. Ana apresenta sintomas da epidemia, mas Lucas aparentemente não, por isso ele não sabe se está infectado.

A Covid-19, o novo coronavírus, causa infecções respiratórias. No livro, a infecção se dá pelo vírus chamado Alienatio, que faz os jovens perderem a capacidade de imaginar, de ter desejos, de criar e de acreditar em si mesmos. A passagem desse sentimento de incapacidade em seu íntimo, por vias neurais, criou nos infectados um hábito de medo e tristeza, além da falta de confiança em si e de reação às decepções.

Os sintomas da epidemia retratada do livro têm relação com consequências psicológicas e mentais do novo coronavírus, apontadas por vários especialistas e pela Organização Mundial da Saúde. A pandemia gera estresse psicológico porque as pessoas se veem à mercê de outros e de forças incontroláveis, com risco de contaminação, incertezas, isolamento social e dificuldades econômicas, que podem agravar ou gerar problemas mentais. É necessário estar consciente para buscar recursos internos diante desse cenário ameaçador, para se proteger física e mentalmente, ajudando os demais.

O livro aponta caminhos, trilhados pelos personagens, que trabalharam seu sofrimento internamente, mas também aprenderam a se colocar no lugar de outros, para amenizar sua dor, com empatia e compaixão. Aprenderam que o medo, a ansiedade, alertam que há ameaças no horizonte, demonstram que é preciso estar preparado, atento e forte para lidar com grandes mudanças, trazidas por pandemias e outros eventos críticos. Esses novos dados da realidade não devem ser negados, existem, mas não podem se transformar em pânico, individual e coletivo.

Os jovens viajam no espaço-tempo em busca da cura, atravessam portais, vivenciam fatos históricos e a relatividade do tempo cronológico.  Uma alusão ao estado de isolamento social e suas possibilidades de romper as limitações físicas atuais, com criatividade. Uma viagem para dentro de si, do autoconhecimento. A aventura em que embarcam fornece respostas não apenas para crianças e jovens. São úteis também para adultos, principalmente hoje em que as famílias, não tendo a mediação de escolas, babás, avós, empregadas domésticas, podem aprender com essa convivência maior, inventar coisas para fazer juntos. Atualmente, 87% de crianças e jovens do mundo, um bilhão e meio, estão sem aulas presenciais, recebendo os conhecimentos no ambiente familiar.

Em Caminho para ver estrelas, os adolescentes encontram no futuro, em 2038, um professor que diz: “a epidemia de 2020 está entre as maiores da História e matou muita gente. Assim como a Gripe Espanhola, em 1918, no final da Primeira Guerra Mundial; e a Peste Negra, na era medieval, em 1346”. Tanto no livro como no momento atual do mundo, um dos remédios é a solidariedade.Uma chamada para que a solidariedade presente em algumas ações, motivadas pela pandemia da Covid-19, se introduza de fato na sociedade como algo duradouro.

O livro deixa várias lições e reflexões, ao ressaltar que nossas simples ações influenciam muito mais do que o mundinho ao nosso redor. Ao tomar uma decisão, cada um pode afetar mais do que sua própria vida e influenciar a vida de outros.

Mostrando na história cenários apocalípticos de futuro próximo, Caminho para ver estrelas ensina que o conceito de progresso precisa incluir desenvolvimento sustentável e humano, baseado em justiça global, e não apenas na economia. As escolhas feitas hoje não devem limitar as possibilidades disponíveis para as pessoas no futuro.