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Santos / Cotidiano

Museu de Arte de Santos: sonho próximo da realidade

Por Silvia Barreto
Da Revista Mais Santos

Um casarão majestoso e imponente e que, naturalmente, chama a atenção de quem passa pela avenida da praia, com suas curvas e contornos do estilo neoclássico do século 20, que remete à época dos barões do café. Esta é a Pinacoteca Benedicto Calixto.

E será no terreno da Av. Dr Epitácio Pessoa, 100 – bairro Boqueirão, em Santos que um sonho se tornará realidade: a construção do Museu de Arte de Santos (MAS). A ligação entre as áreas irá acontecer com a demolição do muro de divisa, incorporando o jardim da Pinacoteca à praça que surge a partir do terreno aberto projetado para funcionar o novo espaço. Assim, os pedestres poderão cruzar o quarteirão e acessar a Av. Bartolomeu de Gusmão de forma agradável e segura, tendo a oportunidade de visitar o Museu e a própria Pinacoteca, em uma área “alimentada” pela cultura e referências arquitetônicas.

A importância deste projeto não apenas para a cidade de Santos é descrito pela presidente da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Ângela Helena Duó da Rocha Elias. “A criação de um projeto arrojado como o MAS possibilta a produção artística e cultural, atrai visitantes, impulsiona o turismo, fomenta o desenvolvimento e aproxima as cidades da região. Para que se torne realidade, tem que acontecer a captação para viabilizar o empreendimento com a participação/envolvimento do Poder Público, da iniciativa privada e também, é claro, da comunidade em geral”, ressalta.

Uma comissão especial responsável pelo MAS foi criada para focar na viabilidade do projeto e atuar em iniciativas como a busca pela captação de recursos, tendo como presidente André Monteiro de Fazio. O projeto está concluído com os estudos de engenharia e arquitetura, aprovados pela prefeitura de Santos e o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa).

“O percurso do MAS para se chegar até aqui é bem longo, passa pelo tombamento do Casarão Branco, por autorizações e aprovações pela Prefeitura, Câmara dos Vereadores, Condepasa, entre outros órgãos de esfera administrativa, política e institucional. Contou com a participação da Unisanta e da Prefeitura de Santos, está completamente concluído, inclusive no que diz respeito ao orçamento”, garante a presidente.

De acordo com o presidente do Conselho da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Geraldo Pierotti, recentemente o museu foi orçado em R$ 45 milhões de reais. “Isso não é dinheiro para a cidade, diante das empresas portuárias que temos aqui e na própria Região, indústrias do pólo industrial de Cubatão, mas para isso é preciso que haja pertencimento, a cidade queira ter esse equipamento. O que vai mover as grandes empresas, que poderão nos apoiar para que isso se torne realidade, é a vontade popular. Este será o atrativo para as empresas que, eventualmente, tenham condições de apoiar. É um processo irreversível”, projeta.

Ele lembra que a idealização deste projeto surgiu da necessidade do município em abrigar cerca de 300 obras entre esculturas e quadros doados por Armando Sendim à cidade de Santos. “Haverá um andar só para as obras do Sendim com a exposição permanente. Tenho a honra de ter sido um dos idealizadores desse museu, especialmente porque quando assumi a Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, na presidência da diretoria executiva, dias depois o prefeito Papa me chamou na prefeitura, dizendo que o Sendim queria doar parte das obras dele para a cidade e que isso deveria ficar na Pinacoteca”, relembra.

E reforça dizendo que “a Pinacoteca é um espaço público da municipalidade. Nós da Fundação somos permissionários. Prestamos um serviço voluntário, já que tudo ali pertence ao município de Santos”, conclui.

O PROJETO

O renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha é autor do projeto conceitual do MAS, elaborado há 13 anos. Vencedor, em 2006, do Pritzker Prize, considerado o prêmio nobel da arquitetura, ele não é apenas um dos mais importantes arquitetos brasileiros. É, hoje, um nome de destaque no cenário internacional.

O crítico italiano Francesco Dal Co caracteriza a produção de Mendes da Rocha pela combinação ímpar dos seguintes atributos: a “segura racionalidade”, a “essencialidade das soluções construtivas”, a “intransigência no emprego dos materiais” e o “desprezo pelo supérfluo”.

“Uma vez concluído o MAS será um espaço adequado com climatização, iluminação e áreas adequadas para receber exposições de nível internacional que chegam ao Rio de Janeiro e São Paulo e não descem a serra por falta de local adequado.”, ressalta Pierotti.

Durante entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Paulo Mendes citou, entre as obras que gostaria de ver concluída, o Museu de Arte de Santos. “Um sonho que sonhamos lá atrás e que cada vez se torna mais próximo da realidade”, destaca Pierotti.

A presidente da Fundação destaca que a Pinacoteca está situada num terreno de tamanho e localização privilegiados, sendo o último imóvel da época áurea do café de frente para o mar. A importância do MAS será projetar não apenas este espaço, mas a cidade de Santos.

“Colocará Santos no circuito nacional e internacional das artes, trazendo exposições de renomados artistas, pois haverá um andar inteiro para abrigar essas exposições, além de um andar para as obras doadas pelo artista plástico Armando Sendim, com climatização adequada. Terá reserva técnica, espaços de pesquisa, biblioteca, auditório, café, restaurante, área livre coberta, visando atrair diferentes públicos com programações educativas e atividades culturais diversas. Um verdadeiro ponto de encontro e de conexão entre o passado, o presente e o futuro”, garante.

A iniciativa prevê estrutura com 8.180 m² de área construída. O piso térreo contará com salão de exposições de 1.135 m²), café, bilheteria, loja e guarda-volumes. No primeiro pavimento ficarão auditório, biblioteca e salas de administração. No segundo, haverá grande sala de exposições, com 1.200 m². Já no terceiro andar, estarão duas galerias e espaços destinados à reserva técnica, além de salas de arquivo. No subsolo está previsto um estacionamento.

“A Pinacoteca que hoje é, sem dúvida um dos maiores polos de divulgação, propagação e conservação da área de cultura da nossa região e extrapola os limites das artes plásticas porque tem dezenas de cursos, terá então um teatro que poderá ser usado para artes cênicas e musicais”, garante Pierotti.

Casarão de referência histórica e Cultural

A inauguração da ferrovia em 1867 e a abertura do porto organizado em 1892 foram decisivos para a mudança habitacional das famílias de imigrantes em Santos. Anton Carol Dick, alemão, proprietário do curtume, construiu por volta de 1908 sua residência no número 12 em frente a beira mar, em um terreno de 6.600 m².

Em 1911 o imóvel foi vendido para o português e exportador de café Francisco da Costa Pires, que morou com sua família até 1913 e acabou comercializando o espaço por motivos financeiros. O destino foi abrigar um asilo de inválidos durante 8 anos. Mas foi em 1921 que Pires readquiriu o casarão e reformou totalmente, passando a ter a aparência e os contornos atuais.

Por dois anos a casa passou por reformulação, ganhando elementos ornamentais em estilo Art Nouveau, mármore na escada, ferro maciço nos corrimões, vitrais, pinturas e na parte externa, jardins em estilo francês com bancos e uma fonte decorativa. Em 1936 o casa foi vendida para a Companhia Sul América de Capitalização e começou a abrigar, por dois anos, um pensionato para moças.

Após um período em que foi adquirida por Antonio Canero, a prefeitura intervém em 1979 e declara o espaço como utilidade pública para fins de desapropriação pelo então prefeito Carlos Caldeira Filho.

Depois de um período conturbado, o imóvel foi tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) por sua representatividade arquitetônica, sendo considerado o último dos casarões existentes na época áurea do café.

Hoje, a Pinacoteca Benedicto Calixto, é referência cultural para Santos e região.

CARACTERÍSTICAS

A poucos passos dali, do lado esquerdo da entrada principal, se dá o acesso à Pinacoteca. Ao passar pelas escadas, o visitante já se depara com o salão principal, que abriga quadros, um piano e espaço dedicado a exposições e recitais.

O salão principal dá acesso a mais cinco ambientes recheados de história, que conectam os visitantes por meio da arquitetura e de objetos do século passado. O primeiro deles é o jardim de inverno, à época utilizado para reuniões de negócios entre homens, já que na década de 20 era comum a separação de cômodos para rapazes e moças. Outra sala, próxima dali, era voltada às mulheres, que se encontravam para longas conversas à base de chá.

A terceira sala do térreo conta com objetos e utensílios da família Costa Pires, verdadeiras relíquias. Dezenas de xícaras estilizadas, um livro de noivas utilizado pela família e uma estátua de Joana D’Arc dão um toque especial ao ambiente. Ao lado, mais duas salas conservam suas características originais, sendo uma delas com cores e desenhos alusivos ao café, enquanto outra possui traços musicais, já que foi construído como sala de música para as crianças da família.

No corredor entre as salas é possível avistar uma estante, que funciona como loja para os visitantes. Livros sobre o casarão branco, obras que contam a história de Benedicto Calixto e postais do pintor podem ser adquiridos. Antes do acesso ao segundo andar, há ainda uma biblioteca comunitária. Nela, o visitante pode adquirir qualquer livro de forma gratuita – e doar uma obra, caso deseje fazer uma troca.

SEGUNDO ANDAR

Já o piso superior da edificação, à época feito para abrigar os quartos do casarão, hoje é totalmente dedicado à vida do pintor e historiador Benedicto Calixto. São salas que navegam pela sua trajetória profissional, mostrando toda a evolução como um dos principais nomes da arte.

Um dos espaços exibe as primeiras pinturas do artista autodidata, que retratam diferentes passagens religiosas. Outro ambiente conta com pinturas alusivas a Santos, com imagens de diversos pontos da Cidade como o Porto, o Monte Serrat, o Centro Histórico, além de paisagens que exibem modernização do Município e o progresso da área comercial.

A viagem pela vida do pintor, que nasceu em Itanhaém, continua em outros ambientes. Uma sala conta com os trabalhos de Benedicto Calixto após um período em Paris, na França. Em 1883, reconhecido pelo seu talento, o artista recebeu o convite para estudar em solo europeu. Lá aprimorou sua arte e, ao retornar ao Brasil, começou a retratar outras paisagens da Região, como as cidades de São Vicente e Itanhaém.

Benedicto aperfeiçoou também suas pinturas de retratos. Diversos exemplos podem ser vistos numa outra sala do casarão, dedicada exclusivamente a essa fase final do artista. Um retrato de Marechal Deodoro, por exemplo, salta aos olhos por conta da precisão dos traços.

E para os apaixonados por itens pessoais de famosas personalidades, há um espaço com diversos objetos do artista. Um pincel utilizado pelo pintor, uma câmera fotográfica pessoal e até uma mobília de sua casa estão expostos ao público.

BELEZA NATURAL E GASTRONOMIA

Ao sair do casarão, o visitante se depara com um extenso jardim, dotado de esculturas e obras feitas de produtos sustentáveis. A natureza dá suas caras com espécies de ipê amarelo, mangueira, pau-brasil, palmeiras de leque e strelitzia, que colorem o entorno.

Mais à frente do jardim está o Bistrô Calixto. O local conta com menu executivo, de carnes diversas a frutos do mar, seja para almoço ou jantar. Mas há espaço para um chá da tarde, com cafeteria e sobremesas variadas. O Bistrô possui mesas na área externa, próximas à natureza, que tornam o local ainda mais agradável.

Os amantes da pizza também têm um espaço dedicado a eles. Quase ao lado do Bistrô funciona a Forneria Calixto, com diversos tipos da popular massa. Ambos os locais, cabe lembrar, também reservam suas mesas para eventos.

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