Da Revista Mais Santos
A temporada de cruzeiros 2021-2022 era aguardada com expectativa pelos diversos setores envolvidos. Principalmente porque não foi realizada no ano anterior, em razão da pandemia da Covid-19. Embora a doença siga firme, em meio a altos e baixos, as viagens foram autorizadas no Brasil a partir de novembro de 2021, dentro de rígidos protocolos, e iriam até abril deste ano. A programação, no entanto, foi literalmente por água abaixo. O motivo é a Covid e seu novo recrudescimento, com a chegada da variante Ômicron.
Apesar da natural e óbvia preocupação com a saúde de todos, outro aspecto envolvendo a sobrevivência não deve ser esquecido: o econômico. A atual temporada de cruzeiros tinha previsão de movimentar mais de 360 mil turistas, com impacto de R$ 1,7 bilhão, além da geração de 24 mil empregos, envolvendo uma cadeia extensa de setores da economia, entre eles comércio, alimentação, transportes, hospedagem, serviços turísticos, agenciamento, receptivos e combustíveis, entre muitos outros.
“A suspensão traz prejuízos, tendo em vista que Santos é estratégica para os cruzeiros no Brasil, com a maioria dos embarques ocorrendo aqui. Essas pessoas que deixaram de viajar representam prejuízo à rede hoteleira e ao comércio, porque muitos se hospedam na Cidade nos dias que antecedem o embarque”, afirma Rogério Santos, prefeito de Santos.
Desde a metade de janeiro, quatro suspensões foram anunciadas pela CLIA Brasil (Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros). A mais recente aconteceu nesta semana, com prazo até 4 de março. A decisão, segundo o órgão, visa dar continuidade ao criterioso trabalho e discussão com as autoridades nacionais, estaduais e municipais para a retomada.
“A previsão inicial da temporada era de que 237 mil cruzeiristas embarcassem aqui em Santos. Com a paralisação, 38 escalas foram sus- pensas nesse período até 4 de março”, afirma Sueli Martinez, diretora do Concais. “O impacto financeiro não é somente do Terminal e, sim, de todas as empresas e profissionais que estão ligados aos navios. Por se tratar de um mês de bastante movimento durante a temporada de cruzeiros marítimos, apenas em janeiro, com a paralisação, a Região deixa de arrecadar cerca de R$ 35 milhões. E deixam de trabalhar nesse período cerca de 3 mil trabalhadores temporários envolvidos na operação de navios”, detalha.
De um total de aproximadamente 130 mil passageiros transportados, entre 5 de novembro e 3 de janeiro de 2021, cerca de 1.100 casos foram confirmados, o que representa menos de 1% do total das pessoas atendidas (incluindo hóspedes e tripulantes).
Estima-se, conforme estudo da CLIA Brasil em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), que cada navio gera em torno de R$ 350 milhões de impacto para a economia brasileira. A cada 13 cruzeiristas, um emprego é gerado.
Eventos prejudicados
Fernando Silva, proprietário da Atrium Eventos, analisa o tamanho do estrago. “A área de eventos sofreu um impacto muito grande, pois muitos fretamentos de navios (cruzeiros temáticos) tiveram que ser adiados, além de que eventos menores, como comemorações e encontros corporativos, também não puderam ser realizados, o que atinge ainda mais os fornecedores contratados para a realização destes projetos”, afirma. “Toda a cadeia produtiva do setor de eventos tem nos cruzeiros marítimos uma grande forma de poder desenvolver seu trabalho em um ambiente seguro e com retorno de satisfação plena dos participantes”, emenda.
Além de experiente na execução de projetos a bordo de cruzeiros, Silva se considera um cruzeirista apaixonado. Por sinal, ele esteve na penúltima viagem desta temporada no navio MSC Splendida e elogiou os cuidados adotados. “Pude sentir o rigoroso sistema de segurança e obediência dos protocolos previstos pela Anvisa. Havia anúncios contínuos nos auto-falantes, solicitando aos passageiros que cumprissem com os protocolos, além da disponibilidade de álcool em gel em abundância em todos os espaços públicos. Alguns locais tiveram sua capacidade reduzida, como o teatro e demais locais fechados. Ao final deste cruzeiro, após contínuos testes feitos nos tripulantes e passageiros, foram detectados 40 casos e assintomáticos, o que não corresponde nem a 1% das pessoas a bordo – todos eles com uma área reservada para acomodá-los com segurança até o desembarque, que por coincidência era bem próximo à minha cabine”, descreve.
Os cinco navios da temporada, das empresas MSC e Costa Cruzeiros, continuam fundeados no litoral de Santos, já preparados para a retomada, com os protocolos totalmente implantados e mais de sete mil tripulantes brasileiros e estrangeiros a bordo prontos para o trabalho.
“Os membros da CLIA continuarão a trabalhar em conjunto com as autoridades, sempre guiados pela ciência e pelo princípio de colocar as pessoas em primeiro lugar, com medidas comprovadas, que são adaptadas conforme os cenários e que garantem a proteção da saúde dos passageiros, tripulantes e das comunidades que recebem os cruzeiros”, afirma a Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros, em nota enviada à imprensa.
Em busca da retomada
Em visita recente ao Museu Pelé, em Santos, o ministro do Turismo Gilson Machado Neto defendeu o retorno dos cruzeiros, emanando o lado econômico e lembrando que existe grande índice de segurança em razão das testagens.
Por sua vez, a Anvisa recomendou em 12 de janeiro ao Ministério da Saúde e à Casa Civil da Presidência da República a suspensão definitiva da temporada. Pouco mais de um mês após a solicitação, o órgão mantém a posição.
“A Prefeitura é a favor da retomada dos cruzeiros marítimos assim que houver condições sanitárias que garantam a segurança de todos os passageiros e trabalhadores do setor”, afirma o prefeito Rogério Santos.
Divergências à parte, a expectativa é de retomada. O Terminal Concais teve sua infraestrutura mantida, até porque as pessoas têm a oportunidade de remarcação das viagens. Também segundo a Clia Brasil, 92% das vendas de cruzeiros no Brasil são feitas via agências, causando prejuízos para o setor.
“Difícil explicar para o passageiro que uma pessoa faz a opção de viajar de navio com a família e não pode no momento. Já uma pessoa que fez a opção para ir à Disney ou para um resort no Brasil pode seguir tranquilamente com os planos”, argumenta Sueli Martinez. “Importante ressaltar que os protocolos vigentes dos navios foram seguidos à risca, exatamente como os do Terminal. É preciso entender como devem ser interpretados, uma vez que foram elaborados para minimizar a contaminação e não para acabar com o vírus. Isso não existe”, emenda.
Sueli também lembra que os cruzeiros marítimos representam o único setor de turismo e entretenimento que testa uma parte dos passageiros durante o passeio, além de exigir comprovante completo de vacinação e o teste da Covid com resultado negativo para 100% dos cruzeiristas.
“Sendo assim, trata-se de um lazer seguro, já que os casos de passageiros positivos são imediatamente isolados e desembarcados. Por isso, esperamos empenho das autoridades para que a retomada dos cruzeiros possa acontecer, até porque a atividade está acontecendo no mundo. Ou seja, os navios estão com seus roteiros mantidos em todos os locais”, afirma a diretora do Concais.
Fernando Silva, proprietário da Atrium Eventos, é outro profissional que não vê a hora de a temporada voltar à sua rota. “Esperamos que isso aconteça no início de março, o que poderia amenizar um pouco os prejuízos causados pela proibição. Além disso, estamos prejudicando a própria temporada 2022/2023, que terá a necessidade de se adequar para acomodar todos os cruzeiros cancelados na atual mais a demanda de um ano que promete e muito no aumento do turismo nacional”.
Presidente da APT (Associação dos Profissionais de Turismo da Baixada Santista, Eduardo Silveira sugere que poderia haver uma temporada estendida, ultrapassando os meses de costume dessas operações, mas com todo o cuidado e respeito à vida.
“Enquanto representantes dos profissionais de turismo, acreditamos que o segmento todo será beneficiado com a manutenção da temporada, mas entendemos que muitos esforços precisam ser colocados em prática para isso acontecer, como, por exemplo, a adoção dos protocolos necessários por todos estados e municípios em que os navios aportam. Essa é uma exigência da Anvisa, mas algumas cidades não estão em concordância com a atividade dos cruzeiros, o que, por essência, compromete toda a normativa de medidas preventivas estabelecidas pela própria Anvisa”, argumenta Silveira. “A APT apoia a temporada de cruzeiros e deposita total confiança na responsabilidade das companhias, contando com o bom senso das autoridades e dos cruzeiristas, para que todas as medidas preventivas sejam adotadas efetivamente”, emenda.
Foto: Divulgação Concais/Arquivo