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Região / Cotidiano

Com presença e carisma, santista brilha no universo dos e-sports

Por Anderson Firmino

Há muito tempo videogame deixou de ser coisa exclusivamente para crianças. Não é à toa que muitas empresas têm investido no universo dos e-sports, o esporte eletrônico. De acordo com um relatório da consultoria Newzoo, o mercado movimentou mundialmente US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) em 2019 e deve se aproximar de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões) neste ano – mesmo com a pandemia do novo coronavírus. E tem santista se destacando neste meio.

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Você pode ainda não conhecer a jornalista Victória Rodrigues. Mas, se você ou seu filho joga Rainbow Six Siege, já ouviu os comentários de @viicrodrigues. Ela é a primeira mulher do País a participar das transmissões do jogo estilo FPS (First Person Shooter, ou atirador em primeira pessoa), contratada pela empresa fabricante do game, a Ubisoft. E ela tem apenas 25 anos. “É como se comentasse futebol para a própria CBFâ€, compara.

Mas, o que é o Rainbow Six Siege? Victoria explica: “Só aparece a arma, não aparece o personagem. É diferente dos jogos de console (PS4, Xbox One), onde você vê o personagem andando. A experiência é como se você estivesse lá jogando. É um jogo estratégico: basicamente são cinco contra cinco, onde um time ataca e outro defende. Os defensores protegem uma área, dentro de um mapa, e o ataque tem que invadir esse local. Mas cada “operadorâ€, como são conhecidos os personagens, tem uma característica, faz algo diferente. Você usa os gadgets (recursos) estrategicamente para conseguir o objetivoâ€, descreve.

A jornalista que já trabalhou em rádio e TV e também como social media, hoje, está “do outro lado†do balcão. Virou geradora de conteúdo e tem chamado a atenção. O pioneirismo em termos nacionais não a assusta – já existem casters (narradores/comentaristas) na Europa e nos Estados Unidos. E tudo começou numa espécie de “quebra-galhoâ€.

“Surgiu uma oportunidade de começar cobrindo os campeonatos de Rainbow Six. Até que me chamaram para fazer parte do staff de um primeiro torneio feminino. Ia ajudar na divulgação, fazer entrevistas com as jogadoras, fazer a parte jornalística. E eles tinham fechado com duas mulheres que iam ser as casters. Uma semana antes, elas deram para trás, não foram, e disseram: precisamos de uma comentarista. Era para fazer duas rodadas, acabei fazendo o campeonato inteiro. E o feedback da galera foi muito bomâ€, lembra.

Preparação e jogos de 12 horas

E engana-se quem acha que participar de uma transmissão de e-sports é tarefa fácil. Muito pelo contrário: a partida pode durar até 12 horas, por exemplo. Segundo Victória, essa “maratona†exige muitos cuidados.

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“Depende muito do jogo, de quantos jogos a gente vai fazer. Já fiz transmissões de quatro horas, e transmissões de 12 horas. Depende de cada campeonato, que tem um formato diferente. Não é como no futebol, que são 90 minutos e acabou. Minha preparação é essencialmente vocal, faço bastante. Tenho acompanhamento com fonoaudióloga. Além disso, estudo muito as equipes e as partidasâ€.

A caster conta que vive entre São Paulo e Santos, especialmente nos tempos de pandemia, já que os pais moram por aqui. E levar o “013†para o universo dos e-sports, para ela, é sinônimo de orgulho. “Sempre falo que sou de Santos, a maioria das pessoas que me conhece sabe que eu sou daqui. Lembro nas transmissões e a turma que é daqui se identificaâ€, argumenta.

Esporte em ascensão. E as mulheres?

Raimbow Six Siege é só um dos jogos que mobilizam a turma vidrada nos e-sports. Também há Counter Strike, League of Legends, Free Fire… No Brasil, até clubes de futebol, como o Santos e o Flamengo, investem em equipes de competição. Para Victória Rodrigues, o cenário é bastante animador.

“É uma realidade já, vai além de um sonho. Em termos de audiência e repercussão, as pessoas acompanham bastante. Os eventos sempre lotados. Esse ano não tivemos a BGS (Brasil Game Show) e a CCXP (Comic Con Expo), que são eventos geeks voltados também para os e-sports. Mas penso que é algo consolidado, frisa.

Victoria crê que as mulheres já têm um espaço neste universo gamer, mas que pode melhorar. “É longe do que a gente gostaria. Precisamos avançar muito, para chegarmos onde queremos. Fico feliz que estejam novas mulheres na minha função, e também jogando. Está longe do ideal, mas a evolução é evidenteâ€.

Pioneirismo e sonho

Ser referência no trabalho não é algo que incomode a fera de Rainbow Six. Na verdade, diz não pensar muito nisso. Prefere agradecer pela possibilidade de uma guinada profissional que mudou sua vida pessoal também.

“Pessoalmente, mudou completamente a minha vida. Passei de ser uma simples pessoa que trabalhava com comunicação atrás das câmeras para virar alguém que fica diante delas. Sempre gostei de falar com o público, mas não era meu foco de atuação. O Rainbow Six mudou isso. Passei a ser uma pessoa que lida diretamente com o público. Em fevereiro, a gente foi para o Canadá, antes da pandemia, e cobri um campeonato, o RS Invitational, como se fosse a Copa do Mundo de RS. Pude viver a experiência de estar num estádio cheio e poder passar essa emoçãoâ€.

Ainda há espaço para sonhos? Ela garante que sim. “Sonho ser uma referência. Tenho um nome conhecido na comunidade. Quero que as pessoas lembrem-se da minha pessoa além do Rainbow Six, mas como marcaâ€. O jogo de Victória está longe do game over.

Fotos: Divulgação