Por Silvia Barreto
Da Revista Mais Santos
Embora a atividade portuária já fosse desenvolvida em Santos desde o século XVI, a data – 2 de fevereiro – comemora a inauguração dos primeiros 260 metros de cais construídos, em 1892, marcada pela atracação do navio inglês Nasmith. O Porto de Santos se tornou, então, detentor do título de primeiro porto organizado do Brasil e, hoje, também carrega o de maior porto do Hemisfério Sul.
A marca dos 130 anos representa a obtenção de recordes deste gigante que movimenta cargas e faz a economia pontuar saldos positivos. O ano de 2021 encerrou em elevação, atingindo 147 milhões de toneladas, 0,3% acima do verificado em 2020. Os aumentos na movimentação de contêineres, soja e fertilizantes foram determinantes para esse resultado.
Atracou no Porto de Santos no último ano um total de 4.856 navios. Esse número ficou 1,0% abaixo de 2020. A redução no número de navios, aliada ao aumento na movimentação de cargas, caracteriza a vinda para Santos de navios de maior porte que permitem uma melhor performance operacional e aumento da produtividade.
O diretor-presidente da Santos Port Authority (SPA), Fernando Biral, destaca o bom desempenho mesmo em meio à pandemia da covid-19, “reflexo do potencial e atratividade do Porto de Santos no processo de desestatização. O Porto não para de crescer e aprimorar suas operações, atraindo cada vez mais cargas e mantendo-se na vanguarda no cenário portuário nacional.”
As cargas de importação se sobressaíram com aumento de 10,4%, somando 43,9 milhões de toneladas. Já as cargas de exportação apresentaram redução de 3,5%, atingindo 103,1 milhões de toneladas.
As cargas conteinerizadas mostraram um expressivo crescimento de 14,2%, ampliando a movimentação para 4,8 milhões de TEU (contêiner padrão de 20 pés), fruto dos fortes e consecutivos aumentos mensais durante o ano. No mês de dezembro, o Porto de Santos também registrou a melhor marca mensal da história para essa carga: 452,6 mil TEU, alta de 3,5% ante dezembro de 2020.
Com isso, no acumulado dos últimos 12 anos o Porto de Santos cresceu a uma taxa anual composta acima da média do PIB para o período. De 2009 a 2021, o crescimento anual de tonelagem no Porto de Santos foi de 4,9%, já a taxa dos contêineres avançou 6,6%. No mesmo intervalo, o PIB brasileiro cresceu em média 1,1% ao ano – levando em consideração a expectativa mais atualizada do PIB para 2021, de 4,51%.
Já o diretor de Operações, Marcelo Ribeiro, alerta para a necessidade de novas infraestruturas para as operações de contêiner. “Nossa capacidade atual é de 5,3 milhões de TEU. A SPA, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e o Ministério da Infraestrutura (Minfra) já estão preparando o leilão de nova área para operação de contêineres, o STS 10, que deve ocorrer no segundo semestre deste ano”, explica Ribeiro.
Ribeiro acrescenta a importância de se ampliar a capacidade também para os fertilizantes. “O STS 53 é determinante para que Santos disponibilize infraestrutura adequada à demanda para essa carga. Hoje não conseguimos atender, na totalidade, o volume de fertilizante de nossa área de influência, por falta de capacidade instalada”, afirma.
A soja em grãos a granel também se destacou ao elevar sua movimentação em 10,5% sobre o ano anterior, atingindo 23,3 milhões de toneladas, mostrando o potencial do agronegócio. Os fertilizantes encabeçaram o ranking das cargas de importação, crescendo 21,5% e somando 8,0 milhões de toneladas.
Os embarques de óleo combustível, que somaram 2,9 milhões de toneladas (+32,4%), e de sucos cítricos, com 2,3 milhões de toneladas (+11,9%), bem como as descargas de trigo, 1,3 milhão de toneladas (+21,4%), foram destaques na movimentação de 2021. Já o açúcar e o milho apresentaram redução de, respectivamente, 14,6%, atingindo 20,6 milhões de toneladas, e 37,9%, chegando a 9,0 milhões de toneladas.
Corrente Comercial
A participação acumulada de Santos na corrente comercial brasileira ficou no patamar de 27,0%. Cerca de 25,3% das transações comerciais com o exterior que passaram pelo Porto de Santos tiveram a China como país parceiro. São Paulo permanece como o Estado com maior participação nas transações comerciais com o exterior, via Santos, com 56,5%.
Preparar o amanhã
Toda atividade portuária foi afetada pela pandemia, mas não parou porque é uma atividade essencial, todos buscaram se adaptar às novas regras e mudanças como o trabalho home office, houve um aumento nas exportações e uma diminuição forte nas importações.
A análise do setor portuário foi feita por Nívio Perez dos Santos, da Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros e despachante aduaneiro que vislumbra o porto de Santos como uma fonte de progresso na área de empregos.
“Hoje, nos deparamos com um cenário diferente. Apesar da alta do dólar, várias empresas voltaram às suas atividades normais e passaram a importar mais para suprir suas necessidades. Neste sentido, temos muito a comemorar, pois o Porto de Santos é um grande gerador de empregos e um termômetro para a economia em nosso país. Nosso sentimento é que vamos crescer, aumentar nossa produtividade. O governo já vem investindo em Portos e aeroportos mais rápidos nas liberações de carga. Temos como exemplo o programa de análise de risco das Aduanas, que consiste em analisar as mercadorias antes da chegada da carga e, com isso, dar uma agilidade e segurança para os importadores, gerando economia na operação”, destaca.
Mas há desafios, e o especialista elenca os mais importantes. “O Governo está trabalhando na desestatização do Porto e já anunciou o aumento das áreas onde praticamente dobrou de tamanho. Necessitamos ainda de áreas de escoamento da carga, além do famoso túnel que se fala há muitos anos e é fundamental para o desenvolvimento da região. Temos também que renovar o projeto do REPORTO, para que possam haver mais investimentos em equipamentos”, analisa. Em sua avaliação é possível afirmar que os players que atuam estão sempre buscando melhorias em seus serviços, por isso ouve-se muito falar na iniciativa público-privado e para que tenhamos sucesso e um porto digno de seu tamanho é necessário buscar sempre a parceria e a excelência nos serviços prestados.
“Com a aprovação da BR do MAR como é chamada, Santos poderá em breve ser um distribuidor de cargas para todo país, pois grandes armadores não precisaram ficar escalando portos menores. Acredito muito no nosso Porto como gerador de empregos diretos e indiretos e como grande referência Nacional e porque não dizer internacional. O futuro não se prevê, se constrói,” finaliza.
Crescimento
Na avaliação feita por Ricardo Molitzas, diretor-executivo do SOPESP, (Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo) os últimos anos foram desafiadores por conta da pandemia de Covid-19, mas conseguiram superar por meio do empenho entre os empresários, trabalhadores portuários e poder público, um trabalho em conjunto para que o Porto de Santos não parasse e ainda alcançasse recordes de movimentação.
“Em 2022, acreditamos que os vo- lumes permaneçam em crescimento e teremos ainda o tema da desesta- tização do Porto de Santos. Nós, do SOPESP, estaremos atentos e participativos nesse importante processo. Parabéns Porto de Santos pelos seus 130 anos de história e conquistas”, projeta.
Desestatização
Para Everandy Cirino, presidente do SINDAPORT, esta é uma data de comemoração quando olhamos o aumento na movimentação de cargas e os navios cada vez maiores. Mas, pela perspectiva do trabalhador, não há o que comemorar.
“O Governo só fala em desestatização das Companhias Docas. Após a operação portuária, que já está nas mãos da iniciativa privada há mais de 25 anos, agora são as companhias docas que estão na mira para venda.”.
Para entregar uma empresa enxuta, a Santos Port Authority (SPA), que administra o Porto de Santos, prepara um plano de desligamento voluntário e o fim da complementação de aposentadoria. Em seu discurso, diz que a desestatização trará mais investimentos e cargas para o Porto.
“São muitas mudanças em curso e uma grande pressão governa- mental. Sabemos que essa correria tem motivo: 2022 é ano eleitoral. No entanto, não acreditamos nessa desestatização feita às pressas. Não adianta correr, trocas os pés pelas mãos. O SINDAPORT tem acompanhado de perto a discussão desse assunto. Estamos atentos aos movimentos políticos, já participamos de audiências públicas na OAB em Santos e em São Paulo e na Câmara Municipal de Santos. Aguardamos o estudo que o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) está realizando sobre os impactos negativos que a desestatização pode causar. Um novo debate está previsto para o próximo mês em Santos”, destaca.
Ele afirma que já acompanhou muitas discussões infundadas nesses últimos 20 anos. Da regionalização à privatização do Porto de Santos, troca de favores políticos e favorecimento de cargos. “Sabemos que o discurso do Governo é forte, mas na prática essa questão envolve muitos aspectos que devem ser tratados com responsabilidade e respeito. São muitos trabalhado- res envolvidos, benefícios conquistados. Portuários que construíram uma carreira na administração do maior porto do país. Sem falar os aspectos legais, os interesses e conflitos econômicos. Tudo ainda está obscuro”, ressalta.
Diante de tantos argumentos, Everandy é enfático em seu posicionamento: “não acreditamos nem defendemos a desestatização como vem sendo ‘vendida’, finaliza.
Programação de aniversário
Para marcar a data, a Santos Port Authority (SPA), empresa estatal responsável pela infraestrutura pública do Porto, promove o 3º Festival Porto-Cidade, uma série de atrações culturais e esportivas abertas ao público e, em sua maioria, gratuitas.
O Festival começa no dia 2 de fevereiro, com a intervenção artística na escultura “Coração”, na Ponta da Praia. Já no dia 5, sábado, a programação traz desde passeio de balão e escultura na areia até um mutirão de limpeza da praia. O destaque será um show de Danilo Caymmi, na Praça do Aquário Municipal, tocando sucessos de seu pai, Dorival Caymmi.
Dia 6, domingo, é a vez da pro- va pedestre Corrida Porto-Cidade, um percurso atlético de 5km pelo centro da cidade de Santos. Para quem não quiser correr, haverá uma caminhada com guia pelo mesmo percurso, mostrando os pontos históricos do trajeto. As inscrições vão até dia 3 de fevereiro e as equipes com 10 ou mais atletas têm desconto de 10%.
Dia 13 de fevereiro, domingo, o destaque é a participação da campeã olímpica Ana Marcela Cunha. Sessenta nadadores convidados estarão com a atleta em um desafio em frente ao aquário municipal, com transmissão ao vivo por telões para quem quiser acompanhar a praia. Ao final, Ana Marcela vai atender aos admiradores. No dia 13 ainda haverá um passeio de barco pelo canal do Porto.
Concursos
Paralelamente, a SPA já abriu o 1º Concurso de Poesia Porto-Cidade, que terá como júri a Academia Santista de Letras. Os melhores textos serão lidos em um sarau no Teatro Municipal Brás Cubas, no dia 13 de fevereiro. Além disso, o primeiro colocado terá seu texto publicado no site do Porto de Santos.
Já o Concurso de Fotografia, sucesso no ano passado, quando o Festival foi todo online devido à pandemia, tem a sua segunda edi- ção. Entre os dias 28 de janeiro e 11 de fevereiro, quem quiser participar deve postar no Instagram uma foto com o tema “As gentes do Porto” e a hashtag #PortoDeSantos130Anos. As imagens escolhidas estarão nas redes sociais da SPA e podem ir para a capa do site do Porto. O 3º Festival Porto-Cidade conta com o apoio da Prefeitura de Santos.
Foto: Divulgação