Todo mundo tem aquele amigo clássico, que basta uma deixa ou uma levantada como no vôlei para ele cortar com uma piada ou trocadilho infame, dos quais damos risada de tão tosco e sem graça, mas que nos anima um pouco pela falta de vergonha do humorista infeliz – pedi para outra pessoa digitar enquanto levantava a mão em tom acusatório por ser um desses.
É como um vÃcio de deixar a mais pura das cocaÃnas com uma inveja de dar dó. Não bastasse isso, também tenho meus lampejos de imitador, repetindo exaustivamente os bordões de figuras clássicas da televisão. É mais forte que eu.
É o tÃpico humor à s avessas: criamos graça de tão sem graça é a desgraça na tentativa de ser pseudo-engraçados. Pior é saber que ainda assim conseguimos arrancar mais risos do que muitos profissionais insossos do ramo.
Cheguei ao cúmulo do ridÃculo de puxar um microfone após muito sangue correndo pelas minhas veias repletas de álcool e fazer um stand-up no aniversário de um amigo próximo. É isso: pessoas normais se arriscam pulando de paraquedas, bungee jump e outros esportes radicais. Eu ponho minha vida à prova a cada minuto em que sai pela minha boca como quem transborda do peito aquele trocadilho escroto, insano, absurdo.
Meu humorismo segue a mesma linha da oposição polÃtica brasileira em todas as esferas: quanto pior, melhor. Os “meu Deus, não acredito que ele falou isso†que ouço após um riso constrangedor são o termômetro para o sucesso.
Não tenho vergonha na cara, sou quase um candidato a cargo público eleito pelo povo desinformado.
Mas não faria campanha para animar aniversários, casamentos, batizados, formaturas e outras dessas festas tão chatas que até um pseudo-humorista frustrado daria um pouco de animação em meio às vontades constrangidas de ir para casa dormir.
Pode ser que esse humor incansável sirva apenas como uma válvula de escape para toda a melancolia que aflige minha alma do nascer ao pôr do sol. Ou então, sou uma versão moderna dos bobos da corte, dessa vez muito além dos castelos medievais.
Sei que quando vejo minha mãe repetindo trocadilhos infames ou amigos enviando piadinhas tontas para minha aprovação, sinto que o mundo deve acabar mesmo, já passou da hora. Vou seguir aqui, tentando me controlar, até que a primeira deixa me faça rimar, imitar ou criar uma insanidade qualquer.
Se não der certo como humorista – dizem os outros sete bilhões de habitantes desse planeta que é melhor desistir logo – prometo escrever crônicas sem piadas prontas.