O Ministério Público do Trabalho em Santos ajuizou ação civil pública contra o MunicÃpio de Praia Grande e União Federal pedindo para que ambos sejam obrigados a adotar medidas no Pronto Socorro da Quietude (Unidade de Pronto Atendimento – UPA) para prevenir o contágio pelo Covid-19 de todos os que ali trabalham. O objetivo é atenuar a sobrecarga fÃsica e emocional de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros, residentes e terceirizados, evitando que adoeçam no exercÃcio do trabalho. Além disso, a ação também visa ao fornecimento de equipamento adequado de proteção.
Segundo o procurador do Trabalho Rodrigo Lestrade Pedroso, pelas condições de trabalho constatadas no pronto-socorro, é grande a possibilidade de que haja contaminação entre os profissionais. Em 11 de maio, o MPT recebeu uma carta aberta assinada por diversos profissionais de saúde listando irregularidades na Tenda Covid (que fica em área externa ao hospital e é especÃfica para os casos de coronavÃrus) e relatando trabalhar em condições extenuantes e perigosas.
Pacientes
De acordo com a denúncia, os pacientes atendidos na Tenda Covid transitam normalmente por dentro do pronto socorro quando vão realizar exames, colocando em risco a saúde de profissionais e outros pacientes. Além disso, pacientes graves por vezes ficam entubados em sala de emergência comum a todos os pacientes, pois a sala que deveria ser especÃfica para os casos de Covid-19 ainda não foi inaugurada. Médicos são deslocados para atender pacientes na tenda, “desfalcando plantões fixosâ€. Os médicos estão com alto nÃvel de stress e adoecendo por terem que desempenhar várias funções, “inclusive a remoção de paciente em ambulância UTI para hospitais referenciados†e sem o devido equipamento de proteção.
Jornada de trabalho
A denúncia ainda cita o excesso de jornada pela falta de profissionais para atender aos pacientes, equipamento de emergência deficiente, além do fato de que os profissionais são obrigados a levar aventais impermeáveis para casa para higienização, por falta de reposição dos mesmos.
No próprio dia 11 de maio, o MPT emitiu uma notificação recomendatória para que a administração municipal de Praia Grande tomasse medidas para melhorar as condições de trabalho no local, mas não foi atendido.
“O municÃpio de Praia Grande teve ao menos duas oportunidades para demonstrar que adotou melhorias no Pronto Socorro da Quietude, mas limitou-se a mencionar que em uma simples reunião teria ficado decidido que os maiores de 60 anos seriam afastados da linha de frente, sem apresentar qualquer prova documental sobre issoâ€, afirma Rodrigo. “Quanto aos demais temas, o municÃpio sequer apresentou argumentos no sentido de que as correções exigidas pelo MPT teriam sido feitas. Dada a gravidade da situação, tivemos que pedir a interferência da Justiça do Trabalho em razão do temor de contaminação dos médicos, enfermeiros, auxiliares e terceirizados que trabalham no local”, completa.
Soluções
Na ação o MPT pede que o municÃpio e a união sejam responsabilizados de forma solidária a complementar mão de obra para atendimento no pronto socorro, seja “por meio de pessoal próprio ou das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) ou ainda mediante convênio de cessão de equipes médicas devidamente registradas de universidades públicas e particulares ou de grandes redes hospitalares privadasâ€. Essa mão de obra deve ser dimensionada em função da demanda de pacientes que chegarem.
Já o MunicÃpio de Praia Grande deve ser condenado a realizar triagem clÃnica, incluindo reconhecimento precoce de casos suspeitos de COVID-19. Se necessário, os casos devem ser encaminhados imediatamente a área ampla e ventilada, separada dos demais pacientes em espera e dos demais serviços.
Outra obrigação da administração é afixar avisos na entrada do pronto socorro para direcionar pacientes que busquem atendimento por suspeita de Covid-19 para a Tenda Covid-19. A tenda deve contar com suprimentos de higiene respiratória e das mãos para esses pacientes, enquanto aguardam a triagem efetiva.
O municÃpio deve também administrar o fluxo de profissionais e pacientes suspeitos ou infectados, “de forma a que estes não mantenham contato fÃsico próximo com os demais pacientes que aguardam os serviços regulares do Pronto Socorroâ€. Além disso, os pacientes com suspeita de infecção e seus acompanhantes devem receber máscara cirúrgica assim que chegarem ao serviço de saúde, e devem higienizar as mãos com álcool 70%.
O MPT também pede que o municÃpio seja obrigado a providenciar a “lavagem e higienização dos macacões e quaisquer outros trajes de segurança utilizados pelos profissionais de saúdeâ€. Deve instituir horários de descanso e oferecer serviços como atendimento psicológico, alimentação, fornecimento de roupas de trabalho, salas de repouso e instalações com chuveiros e facilidades para a higienização corporal ao entrar e ao sair dos plantões.
O MPT também ressalta que a administração deve garantir o mesmo nÃvel de proteção a todos os trabalhadores do estabelecimento, incluindo os terceirizados. As empresas que fornecem esses trabalhadores também devem tomar as medidas necessárias para garantir a saúde e segurança dos profissionais.
Caso os pedidos do MPT sejam aceitos pela justiça do Trabalho, municÃpio e união têm 72 horas para cumprir as medidas solicitadas, sob pena de multa de R$ 50 mil por dia e por medida não atendida.
Praia Grande
Conforme nota, A Administração Municipal informou que já segue todas as recomendações citadas pelo Ministério Público e esclarece, através da Secretaria de Saúde Pública de Praia Grande, que todas as unidades, inclusive o PS Quietude e Hospital para SÃndromes Respiratórias atendem as especificações e diretrizes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde para o enfrentamento e combate a Covid-19.
Todos os profissionais estão devidamente paramentados com EPIs, todas as unidades seguem rigorosamente as etiquetas de higiene.
Até o fechamento desta matéria, a União Federal não respondeu solicitação de resposta feita pelo Portal Mais Santos.