Da Redação
“Amigo Anderson, todos estamos orando para você ficar bom logo! Força!!”. Esse foi o recado deixado pela Isabela em intenção ao amigo que luta contra a covid-19. Ela trabalha com Comunicação, mas não sabia o que escrever ao se deparar, na manhã desta quarta-feira (7), com a goiabeira situada à direita da entrada da PoliclÃnica Martins Fontes (Rua Luiza Macuco, 40, Vila Mathias), onde estão afixadas várias mensagens de apoio para quem está nessa batalha. “Escreva o que o seu coração mandar”, aconselhou Fábio, que a acompanhava.
Junto aos papéis coloridos, com mensagens de esperança, estão pendurados mais de 1.800 tsurus (pássaros) de origami (secular arte japonesa de criar seres e objetos com a dobra de papel), confeccionados pelos funcionários da unidade de Saúde.
A ideia de criar esse espaço com mensagens de apoio a quem enfrenta a covid-19 e em homenagem aos mortos da pandemia surgiu do técnico de Enfermagem Thiago Gomes de Oliveira. Ele perdeu o irmão, de 37 anos, para a doença. “A filosofia oriental fala muito em gratidão. Só quem perdeu alguém recentemente sabe o quanto é importante esse sentimento. Não existe somente a perda. Existe o recomeço”, analisa ele, com os olhos marejados ao lembrar do parente.
Thiago diz que quando está em ação, vacinando munÃcipes, pensa que, de certa forma, está imunizando pessoas como seu irmão. “Isso dá ideia de esperança para recomeçar”.
Quem também passou por uma perda da famÃlia para a covid-19 foi a terapeuta ocupacional Gabriela Muler. Sua mãe, com 61 anos, não resistiu à doença em abril do ano passado. Ela também atua na PoliclÃnica Martins Fontes e se emocionou com o ato, na manhã desta quarta-feira (7), lembrando os mortos da pandemia. “Quando falamos de mortos, falamos de muita dor. Ainda mais com uma dor como esta, onde não é possÃvel o abraço”.
Gabriela e Thiago trabalham juntos e dividem o sentimento de compaixão um pelo outro, em razão das perdas familiares. Ao lembrar da mãe, ela a associa à s demais perdas causadas pela covid-19 no PaÃs. “São mais de 500 mil vidas perdidas”.
Atendimento humanizado
Para o chefe de seção da PoliclÃnica Martins Fontes, Fábio Roberto Morgero Gonçalves, a iniciativa dos funcionários em lembrar os mortos e, ao mesmo tempo, dar uma esperança para quem luta contra a covid-19, foi uma forma encontrada para humanizar o atendimento na unidade.
“As pessoas hoje estão muito sensibilizadas. Esse gesto, aqui representado, simboliza a esperança de melhoras na Saúde e que, se Deus quiser, essa pandemia acabe logo. Os tsurus lembram os mortos e os papéis pendurados o desejo de cada um ver um parente, um amigo, recuperado”.
TANABATA
A confecção dos tsurus remete à lenda tanabata. De forma resumida, é a história da paixão de uma princesa e um jovem, separados por ordem celestial em lados opostos da galáxia. Conta a lenda que eles só podem se unir no sétimo dia do sétimo mês, com uma condição: realizar todos os pedidos vindos da Terra. Que o casal se lembre do pedido feito, na manhã desta quarta-feira, pela Isabela e por todos os que solicitam a cura de parentes e amigos.
Foto: Isabela Carrari/PMS