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Região / Esporte

Esporte para reação às adversidades: ex-judoca Flávio Canto fala sobre transformação

Por Ted Sartori

As conquistas de Flávio Canto no judô não ficaram limitadas às três medalhas em Jogos Panamericanos e a de bronze na Olimpíada de Atenas, em 2004. Ele foi além, ainda quando era atleta, ao criar o Instituto Reação, projeto social que já teve mais de 15 mil vidas impactadas positivamente desde 2003.

Flávio foi um dos palestrantes do Encontro de Educadores SV 2021, realizado nesta semana no Ilha Porchat Clube, em São Vicente. Para um público de 300 professores, ele destacou que o sucesso justamente não está apoiado apenas nos resultados, no caso dele, no tatame, mas sim de quantas vezes a gente “transforma”.

“No judô, primeiro aprendi a cair, para depois saber atacar”, recordou o ex-judoca, durante a palestra. “Hoje, o paradigma de sucesso mudou em minha vida. Eu preciso saber o número de vezes que me levanto, e também o número de pessoas que ajudo a levantar”, emendou.

Antes de passar sua experiência aos palestrantes, Flávio Canto conversou com a reportagem do Portal Mais Santos e da Agência Só Esportes para falar sobre suas lutas presentes e futuras.

Sua palestra teve como título “Qual é a sua luta?” E a sua luta, qual é?

Essa pergunta todo mundo se faz, pelo menos durante boa parte da vida, e vê se está alinado ao nosso propósito, à nossa missão. A minha luta tem sido já, há muitos anos, levar adiante essa ideia de que o sucesso está associado ao construir, ao conqusitar, mas também ao compartilhar. O que a gente tenta fazer lá no Reação é que todo aluno nosso leve adiante essa perspectiva. E aí a gente muda de um projeto social para um de sociedade. É uma homenagem, talvez, a um princípio do judô que é o Jita Kyoei. Em tradução literal significa benefício e prosperidade mútua. É a gente desconstruir essa percepção de que o sucesso tem a ver com quanto eu faço, quanto eu sou, quanto eu tenho, e tentar associar o sucesso a coisas que causam impacto de alguma maneira. A minha luta talvez seja essa, levar essa mensagem adiante e fazer com que ela não seja da boca pra fora, que dentro da minha vida ela seja verdadeira.

E essa luta acaba sendo maior do que muitas que você disputou no tatame?

Acho que é uma luta mais nobre, uma luta que traz um impacto muito mais consistente, pensando no mundo e na passagem que a gente tem por aqui. A ideia é olhar para o lado com mais frequência.

O que a disciplina adquirida no judô ajudou você nessa luta que você descreveu e em outra, que é sua carreira como apresentador de TV?

A disciplina, para mim, tem a ver com consistência, com foco, não depender da motivação. Muitas vezes as pessoas confundem achando que para fazer algo a pessoa tem de estar sempre motivada. Ninguém está sempre motivado. Não dá para contar com motivação porque ela é volátil demais. Quando você tem um pacto com a disciplina é mais fácil de você atingir seus objetivos de longo prazo. Não tem nenhum objetivo de longo prazo que tenha uma linearidade na sua motivação. Acho que para a TV ou qualquer outra coisa se você fizer um pacto seu com o lugar que você quer chegar lá na frente, entender com inteligência o que é melhor para chegar em longo prazo – e que normalmente não é o melhor a se fazer hoje, mas sim o que é melhor fazer nesses meses e anos – isso te ajuda a levantar da cama quando você está com preguiça. Porque você sabe que, em um longo prazo, dormir um pouco mais naquele dia não vai ajudar a chegar no lugar em que você quer. Então é compromisso com disciplina que teve leva para lugares mais altos.

Qual é a próxima luta do Flávio Canto?

A nossa luta agora é ampliar o Reação. A gente está fazendo isso, chegando em mais estados. E transformar o nosso programa socioemocional do Reação em um programa do esporte para a Educação Física e o contraturno escolar em geral. Então a gente está crescendo com outros grupos de educação, outras escolas. Para cada criança que a gente leva no projeto, a gente leva para uma de escola pública. Assim a gente tem escala de sustentabilidade.

Fotos: Ted Sartori