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COLUNISTAS ///

A amante infeliz

Ninguém é fiel o bastante quando a sedução de uma amante infeliz inferniza as noites que eram para ser de sono.

A insônia é a maior das vilãs para aqueles de mentes a mil por hora, com dificuldades infinitas de se desligar por apenas algumas horas.

Você perde o direito de descansar. Não é um ser humano digno de dormir, um comando básico que derruba os seres humanos normais e os faz chegar atrasado aos compromissos matinais e laborais às segundas-feiras.

Contar carneiros, ouvir música relaxante, virar para todos os lados existentes e deitar em todas as posições possíveis, assistir a jogos do campeonato português: nenhum paliativo é o suficiente quando ela vem para ficar e atormentar a cabeça sem botão OFF.

No dia seguinte o mau humor é regra para um dia horrível, nenhum plano dará certo e o pessimismo toma conta da alma enquanto a dor de cabeça corrói qualquer tentativa de civilidade e educação.

E a promiscuidade promovida pela insônia não vem solitária: o vício por remédios, chás milagrosos à base daquelas ervas estranhas vendidas nas feiras livres e indicadas por avós de geração em geração, conselhos vazios e genéricos sem base científica como fórmulas mágicas para resolver o problema enlouquecedor. Todos formando um pacote, a venda casada perfeita para destruir o lado emocional de um monge.

Noites em claro, nas quais as cenas de Charlie Chaplin no clássico “Tempos modernos†se repetem dentro da cabeça de neurônios cansados depois de um dia de trabalho, estudos, preocupações, angústias, tomadas de decisões significativas, problemas de saúde e/ou familiares. Nem assim eles descansam.

A impotência do sono vai te atingir bem antes que a sexual o faça recorrer a tratamentos como o daquele remédio azul. Aquela noite vai durar anos e anos até que o despertador, esse mala indispensável, jogue na sua cara a incapacidade de dormir.

O sono virá nos momentos mais inadequados do dia seguinte, com grandes chances de sorrateiramente ir embora sem avisar e tornar a próxima noite um replay de Playcenter com a cabeça no travesseiro e a visita indesejada batendo à porta.

A insônia vem sem avisar, como aqueles primos distantes que chegam de mala e cuia e nos avisam sem mais nem menos que vão passar uns dias em casa. Dias que duram meses.

Essa amante destruirá seu casamento com a paz interior. Só é feliz quem dorme bem – e eu invejo a todos os capazes de realizar proeza inatingível por mim.

Apaga a luz, eu só quero dormir.

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