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Brasil / Cotidiano

Polêmica: mortes de cães por uso de petiscos gera revolta e tristeza entre tutores

Por Silvia Barreto
Da Revista Mais Santos

Um exame confirmou a presença de monoetilenoglicol em petiscos consumidos por um cão que morreu no bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em 6 de setembro.

De acordo com as investigações, conduzidas pela Polícia Civil e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a contaminação dos petiscos teria ocorrido a partir do uso do aditivo propilenoglicol contaminado com etilenoglicol. Até o dia 14 de setembro, 104 casos haviam sido confirmados por tutores de todo o País por meio de um aplicativo de mensagens. Todos foram comprovados pelo registro do boletim de ocorrência, segundo os organizadores.

Nesta semana, a Polícia Civil apreendeu dois celulares de representantes das empresas Tecno Clean e A&D para apurar a suspeita de tentativa de falsificação do laudo de pureza da substância propilenoglicol, utilizada na fabricação de petiscos para cães.

Os petiscos em questão são da marca Every Day, produzidos pela empresa Bassar Pet Food. Os exames foram feitos pela Polícia Civil de Minas Gerais, que já havia encontrado a substância em outros produtos da mesma marca e das linhas Dental Care, Every Day e Petz Snack Cuidado Oral, também produzidas pela Bassar.

A substância, comprada pela Bassar, teria sido revendida pelas empresas TecnoClean, com sede em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e A&D Química. Representantes das empresas envolvidas prestaram depoimentos para as autoridades. A primeira afirma não ter responsabilidade sobre a pureza do produto, enquanto a segunda garante não vender o aditivo para uso no ramo alimentício.

Até o momento, cinco fabricantes de produtos para cães tiveram determinação do Mapa para recolhimento de seus produtos, após detecção do uso de lotes de propilenoglicol contaminados com monoetilenoglicol. São elas: Bassar, FVO Alimentos, Peppy Pet, Upper Dog e Petitos.

A polícia de Minas Gerais ouviu quatro funcionários da empresa fornecedora da matéria-prima propilenoglicol, que pode ter matado mais de cem cães em todo o Brasil. Entre eles está uma química investigada por suposta falsificação de laudos.

Petiscos sim!

De acordo com a veterinária Tatiana Ariki, pós-graduada em cirurgia e anestesiologia, dermatologia e medicina felina, um componente usado no petisco ocasionou a insuficiência renal e a consequente morte dos animais. “É um produto totalmente contraindicado aos animais. Este foi um caso à parte. Os petiscos são muito importantes para os animais. Foi uma fatalidade”, ressalta.

Os petiscos funcionam como pequenos agrados alimentares, sendo complementos para a nutrição do animal e fornecidos de maneira esporádica. A especialista ressalta os benefícios da oferta desses alimentos.

“Muitos deles ajudam na limpeza dentária. Indicamos, também, algumas frutas que podem ser oferecidas. Claro que algumas são tóxicas, então sempre precisa ter orientação do veterinário. Legumes também pode entrar como petisco, sem tempero, pois eles podem intoxicar. Os petiscos podem ser dados sem excessos, como um agrado”, destaca a veterinária, inclusive fazendo um alerta sobre a importância das consultas e exames periódicos para acompanhar seu estado de saúde.

Ela destaca alguns sintomas que podem ser percebidos com a mudança de comportamento do animal, caso tenha ingerido algum alimento que esteja fazendo mal à sua saúde. “Temos que prestar atenção na respiração, pois muitas vezes ela pode estar rápida e o animal ofegante, com dor abdominal, vômito, diarréia, então, sempre é importante a observação. Pode colocar a mão na barriga para ver se ele está com dor. Isso demonstra que tem algo errado com ele, sendo o caso de correr para o veterinário e ver o que está acontecendo”, orienta.

Na avaliação de Tatiana, as consultas periódicas para aninais bebês ou adultos é a melhor indicação para evitar a descoberta de algum problema de saúde em estado mais avançado.

“É igual pediatra para a criança: você tem que ter todas as orientações quanto a comida, banhos, tratamentos, prevenções e vacinas. Ao adquirir um bebezinho (animal), a primeira orientação é levar ao veterinário e ele irá instruir a periodocidade para fazer os exames periódicos. Oferecer uma ração de qualidade também é importante. Petiscos de qualidade. Cuidados com temperos. Então o veterinário vai passar os cuidados, vacinas, vermifugações, remédios contra pulgas e carrapatos, enfim, vai instruir para manter seu animal saudável e sempre bem, fazendo exames de rotina. O animal vai adquirir uma idade mais avançada e precisará de exames de rotina, como sangue, coração e ultrassom”, previne.

O petisco consumido por Mallu – cadelinha que morreu no dia 6 deste mês – estava contaminado com monoetilenoglicol. A cadela consumiu o petisco Everyday – sabor carne e bacon – da Bassar Pet Food. A tutora, que mora em Belo Horizonte, agora espera que a justiça seja feita e os responsáveis identificados.

“As análises realizadas no material descrito detectaram a presença de monoetilenoglicol, conforme relatório de análise instrumental”, diz parte do laudo da Polícia Civil. Além disso, no documento, a instituição explica que o produto “químico é utilizado como anticongelante automotivo”.

FOTO – CAPA – LAUDO

 

De acordo com a polícia, se o produto for inalado pode causar irritação no aparelho respiratório e, em caso de ingestão, pode “causar sintomas que vão de náuseas, vômito, dor abdominal, fraqueza, sensibilidade muscular, insuficiência respiratória, convulsões, colapso pulmonar até uma acidose metabólica grave”.

Caso o animal não seja tratado, “a morte pode ocorrer de 8 a 24 horas”. Os peritos Paulo Eduardo Nunes Andrade Barbosa, Renata Fontes Prado Faraco e Washington Xavier de Paula foram os responsáveis pelas análises solicitadas pela delegada Danubia Quadros, da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor de Belo Horizonte.

O que diz a Bassar

Em nota, a Bassar afirma que se solidariza com os clientes afetados e que tem colaborado com as investigações. Além disso, informa ter realizado “recolhimento de todos os produtos fabricados a partir de 7 de fevereiro”.

“Isso compreende todos os lotes de produtos, marca própria ou marca Bassar, com numeração acima do lote “3329”. O consumidor deve revolver o produto à loja, que deverá realizar o reembolso do valor gasto, independentemente de a embalagem estar aberta ou não, sem qualquer custo adicional”, prossegue.

A empresa também diz ser interessada no esclarecimento das investigações. “A empresa reforça que o etilenoglicol não faz parte de nenhuma etapa da sua cadeia de produção.”

Os cuidados ao oferecer ossos para os cães

Petiscos em forma de ossos para cães são encontrados em abundância nos pet shops e lojas de animais. Vários tutores buscam essa opção para entreter, ajudar na saúde bucal ou até mesmo apenas agradar o seu bichinho.

Essa prática traz, sim, benefícios, mas também é preciso conhecer algumas desvantagens e, principalmente, cuidados ao oferecer esse tipo de petisco. Os ossinhos comprados auxiliam na higiene bucal e também trazem vantagens em relação ao comportamento do animal, como a redução do estresse e da ansiedade, além de proporcionarem um momento de recreação e distração para o pet.

A diretora de Bem-Estar Animal do Instituto Viva Bicho, Leila Abreu, viveu a experiência de ver seu animal sofrendo por ter ingerido esse petisco. Além disso, outras pessoas que conhece também enfrentaram problemas após o uso desse tipo de petisco. “Meu labrador ficou muito mal, vomitando e com diarreia e descobrimos o corpo estranho que, na época, era o pedaço desse osso”, alerta.

Diante de todas as opções de ossos disponíveis no mercado, é importante que o tutor se atente às particularidades de cada uma. Os ossos artificiais têm como desvantagem os corantes. Cães mais sensíveis podem apresentar sintomas como vômitos, diarréia e processos alérgicos.

Os ossos de couro, industrializados e em diversos formatos, requerem mais atenção do tutor em relação ao consumo, pois eles tendem a amolecer. Os ossos in natura não são recomendados, pois favorecem a proliferação de bactérias e, consequentemente, podem resultar em uma intoxicação alimentar. Os ossos de frango, consumidos em casa, são muito perigosos pela facilidade de se partirem e não devem ser entregues ao animal.

“Conhecemos muitas que hoje não dão mais. Meu cachorro mesmo quase precisou operar porque um pedaço de osso grudou no intestino. Mas foi feito um procedimento em que ele expeliu”, relata Leila.

Os tutores que oferecem ossos devem saber identificar o momento de trocar o osso, descartando o antigo que está apresentando perigo. Uma dica é observar se o objeto está muito sujo e, principalmente, se o tamanho ainda é seguro para o consumo. O segredo para evitar os acidentes com ossos é sempre a atenção.

Para ela, esse produto deveria ser retirado do mercado. “São altamente perigosos para os animais porque saem lascas e colam no intestino. Outro produto que deveria ser proibida a venda. Não dê esses ossos brancos para seu animal”, apela.

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