Diz a estatística que o país está envelhecendo. Parece que é um processo comum em alguns países. As famílias não querem mais tantos filhos. Um ou dois, no máximo. Tem quem diga que é por conta do desenvolvimento, coisa de nação rica. Bobagem. Não dá pra sustentar muitos filhos hoje em dia.
Não com decência, não com a renda média das famílias no Brasil. Então é melhor para o ego nacional acreditar que é sintoma de nosso desenvolvimento.
Desenvolvimento não é apenas seguir em frente. É ir para onde se quer. Consciente do que se quer. E do que vale a pena.
O país envelhece, e olhando em volta, a cidade também. Aliás, Santos vai mais rápido. Aqui, a porcentagem de idosos é bem maior que a maioria das cidades do país.
É verdade que Santos é uma cidade linda, plana, concentrada e com bons recursos de lazer. Isso atrai os aposentados. Ter um apartamento em Santos é o sonho de aposentadoria para muitos brasileiros. Mas só acessível para os que podem pagar. Funcionários públicos do alto escalão, juristas, diretores e CEOs de grandes empresas e outros. Uma minoria de brasileiros que tem aposentadoria bem acima da média nacional e podem pagar os altos preços dos imóveis por aqui. Aposentar-se em Santos não é para qualquer um.
Também é verdade que a cidade expulsa grande parte de sua juventude. Não há empregos para todos os jovens. E eles tem que ir para outras cidades, para estudar ou trabalhar. E acabam ficando por lá. Sou um deles. Voltei, mas muitos não voltam. Pergunte às mães que aguardam notícias dos filhos que moram longe. Elas estão em toda parte nessa cidade. Você deve conhecer alguma. Talvez seja uma delas. Ou será um dia.
Os que conseguem trabalhar por aqui têm outra dificuldade. Onde morar? Com os imóveis cada vez mais caros, os aluguéis inflacionados pelos ricos aposentados que chegam, eles tem que se mudar. E São Vicente, Praia Grande, Guarujá tornaram-se “cidades dormitórios” de muitos santistas. São cidades boas também, que se aprende a amar com facilidade. Mas lar é onde o coração está.
E assim, expulsando os seus filhos, a cidade vai se enchendo de velhos ricos, homens que foram poderosos, que viviam cercados de pessoas que os serviam, que ditavam ordem, que decidiam destinos.
Mas, a vida sempre acomoda, hoje são mais um dos tantos idosos na fila dos supermercados. Tenho visto dezenas desses aposentados ricos. A maioria arrogante, outros ofendidos, esbravejando o quanto pagam, exigem, batem o pé. Mas vão entendendo, atônitos, assustados, que aquela distinção já não lhes pertence, que esse tempo passou. O respeito ainda existe. Mas não pode ser comprado. Não de todos.
Eu e outros tantos, na mesma fila observamos. Alguns mais idosos, outros nem tanto. De comum tanta coisa, como aquele tempo passado juntos, em que não há muito o que fazer. Exceto observar e aprender.
Sejam bem vindos, velhos empresários, antigos poderosos. A cidade vos recebe e acolhe, pois precisa de vosso dinheiro. Ele paga seu apartamento com terraço gourmet. Mas não a saudade dos filhos da terra que não couberam aqui. Paga seu estacionamento vip, o restaurante na praia. Mas não paga a falta de moradia barata. Paga o salário do comerciante, o trocado do flanelinha. Mas não paga a falta de memória e reverência à história da cidade. Não paga a perda de nossa identidade. Não paga a perda de nosso futuro.
E me pergunto, pra onde vamos, quando a decisão fica nas mãos dos que só esperam a fila andar ?