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Brasil / Cotidiano

Colecionar moedas: as duas faces de uma paixão

Por Anderson Firmino
Da Revista Mais Santos

Cara ou coroa? Para quem coleciona moedas, pouco importa. As duas faces de um mesmo amor são representados na numismática, a coleção deste tipo de itens. Uma atividade que, há muito tempo, deixou de ser apenas um hobby e virou um negócio lucrativo, que movimenta cifras bem interessantes.

A jornalista Mariana Campos, literalmente, dedica sua vida às moedas. Segundo ela, que é assessora de comunicação da Sociedade Brasileira de Numismática, à qual é filiada desde os 20 anos, o fascínio parte, entre outros fatores, de uma premissa: a curiosidade.

“O que mais me fascina na numismática, de uma maneira geral, é saber, ou tentar saber – na verdade, ficar imaginando – sobre uma moeda de 100, 200 anos, o que ela já não passou, por onde ela passou, que negócios conseguiu concretizar. Numa época em que o metal era muito valorizado, diferente de hoje, onde a gente faz tudo pelo celular. Antigamente, essas peças eram muito valorizadas nesse sentido”, explica.

Ela conta que existem dois tipos de moedas comemorativas; as circulantes, como a de R$ 1 das Olimpíadas com as modalidades, por exemplo, e a alusiva aos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. E também as comemorativas, que não circulam, as chamadas espelhadas, normalmente em prata ou ouro e de um valor facial diferente – elas vêm num estojo, com certificado de autenticidade – o número de moedas emitidas é menor, entre 2 mil e 5 mil unidades, vendidas pela Casa de Moeda para os colecionadores.

“O que baliza um valor de mercado? Basicamente, a quantidade de moedas cunhadas e o estado de conservação. E existem vários tipos de estado de conservação. Tem as moedas que chamamos de “muito bem conservadas”, que são MBC; as moedas “soberbas”, que estão extremamente bonitas; e as chamadas “flor de cunho”, que são aquelas moedas que não circularam, ou seja, mantêm 100 da cunhagem original. Essas peças atingem um valor bastante alto”, conta.

Valores altos

De acordo com a especialista, existem empresas que fazem a graduação dessas moedas. Há uma escala, chamada Escala Sheldon, que vai de 0 a 70. Quanto menor o número, menos conservada a moeda. Quanto maior, mais conservada, mais próximo do “estado de perfeição” ela se encontra. Tamanha distinção é recompensada com valores altos de cotação.

“A moeda que tem o maior valor de mercado, hoje, seria a dos Direitos Humanos, de R$ 1, de 1998. Ela era feita em alpaca, um amarelo mais clarinho. Essa peça vale, hoje, em torno de R$ 600 a R$ 700, no estado “flor de cunho”. Também temos uma moeda de 50 centavos de 2013, que foi cunhada no disco de 50 centavos, mas com o cunho de 5 centavos. A gente chama de ‘moeda de 50 centavos sem o zero’. Ela é prateada, mais pesada, só que tem o cunho de 5 centavos. Essa moeda gira em torno de R$ 1 mil, R$ 1,2 mil no mercado”, conta.

Para ela, a moeda “dos sonhos’ para a coleção é o chamado Dobrão. Trata-se de uma moeda de 20 mil réis, feita em ouro. É a maior moeda feita em ouro intrínseco que já circulou. Tem mais de 50 gramas de ouro. “É uma moeda que gira em torno de R$ 30 mil. É uma peça que brilha aos olhos de qualquer colecionador por ser tão icônica”, frisa.

Mariana acrescenta que, fora do país, a numismática é muito bem tratada. Existem grandes empresas europeias e americanas que fazem leilões de moedas. E há algumas cifras bem altas. “Ela não é a mais rara, mas com certeza deve ser a moeda mais cobiçada, que se chama Peça da Coroação, feita em ouro com pouquíssimas unidades, chegou à marca de US$ 500 mil num desses leilões. Certamente, é a moeda mais cara. Mas há outras mais raras, que têm um ou dois exemplares”.

Mudança de vida

Com passagens por importantes veículos da Baixada Santista (A Tribuna e o extinto Expresso Popular) e da capital (Folha de S. Paulo), além de outras atividades na comunicação. Hoje ela se dedica exclusivamente à atividade. Um desafio que começou a ganhar forma ainda na infância.

“Comecei a colecionar moedas, mais ou menos, quando tinha uns 14 anos. A minha avó comprou para mim aquelas coleções de banca, sabe? ‘Notas e moedas do mundo’. Ela fez essa coleção para mim. E quando nasci, meu avô por parte de mãe me deu uma moeda de prata, um dólar, quando eu e meu irmão nascemos. Guardei aquelas peças durante minha infância toda. Essa coleção da adolescência tinha os fascículos, e eu comecei a ler. E fui me interessando cada vez mais”, explica.

A coleção iniciada – aos 20 anos, se associou à Sociedade Brasileira de Numismática – ganhou “um tempo” à medida que a vida avançou com seus compromissos. Casada, com uma filha e diante de inúmeros compromissos profissionais, a paixão de Mariana foi acesa novamente em 2014, época da Copa no Brasil. “Foram lançadas algumas moedas comemorativas e, aí, volte ia colecionar. Desde então, não parei mais”.

Mas, para o hobby virar profissão, Maria- na optou fazer um teste, após uma ruptura profissional. “O rompimento com o mundo corporativo foi um período bem difícil profissionalmente falando. E decidi apostar na compra e venda de moedas como profissão, não mais como um hobby. E a grande dificuldade é justamente essa: separar o que você quer ter na sua coleção do que você precisa vender. Isso aconteceu em agosto de 2019, essa mudança de chave. Decidi que ia fazer um teste até o final do ano, para ver se eu conseguiria me manter fazendo isso. E, para uma grata surpresa, consegui”.

Presença feminina e dica para iniciantes

A especialista lembra que a numismática tem como característica ser um meio praticamente dominado por homens. Por conta disso, as mulheres têm buscado ampliar sua participação, mas a caminhada é longa. “É um mercado bastante restrito e que, há alguns anos, era formado basicamente por homens de mais idade. Então, no final do ano, a gente formou um grupo Mulheres Numismatas do Brasil. A gente conversa, troca ideias, troca experiências, para tornar o mercado um pouco mais saudável. Ainda escutamos muita graça, muita piadinha, e acho que, se a gente se reúne, mostra um pouco mais de representatividade”.

Mariana Campos termina dando uma dica para quem deseja ingressar no colecionismo de moeda: aproveitar os benefícios da internet, mas também apostar em bons catálogos sobre o tema, facilitando a jornada. “Estude antes de sair comprando. Porque, quando a gente começa na numismática, ou qualquer outra coleção, a gente acaba gastando muito dinheiro à toa. Mas não tem jeito, é uma questão de experiência. Quanto mais a pessoa absorver conhecimento, quanto mais tiver de informação, menos chances ela vai ter de cair em armadilha”, finaliza.

Foto: Arquivo Agência Brasil