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Brasil / Cotidiano

Mapa da pobreza: 29,6% dos brasileiros têm renda familiar inferior a R$ 497 mensais

Por Silvia Barreto e Ted Sartori
Da Revista Mais Santos

Quase um terço dos brasileiros tem menos de meio salário mínimo para passar o mês. Esse dado integra a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas divulgada este ano – Mapa da Nova Pobreza – que mostra o maior número de pessoas em situação de pobreza já registrado no Brasil.

Essa condição social aumentou durante a pandemia no Brasil. De acordo com o estudo, o contingente de pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros em 2021. Isso representa 29,6% da população total do País. Em dois anos (2019 a 2021), 9,6 milhões de pessoas tiveram sua renda comprometida e ingressaram no grupo de brasileiros que vivem em situação de pobreza.

A informação tem como base dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A pobreza nunca esteve tão alta no Brasil quanto em 2021, desde o começo da série histórica da PNADC em 2012, perfazendo uma década perdida. Demonstramos neste trabalho que 2021 é ponto de máxima pobreza dessas séries anuais para uma variedade de coletas amostrais, conceitos de renda, indicadores e linhas de pobreza testadosâ€, destaca o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

O economista e professor universitário Luciano Simões alerta para a existência da parcela da comunidade indicada como extrema pobreza. “Esta é a mesma linha utilizada nos ministérios como da Cidadania que considera a renda básica de R$ 89 para efeito de recebimento da pessoa. Linha de pobreza de 497 pela FGV, de acordo com o Ministério da Cidadania, enquanto R$ 89 para a extrema pobreza”, explica.

São 33 milhões de brasileiros que vivem com menos de R$ 289 por mês. Pelo levantamento, que usa dados que começaram a ser coletados em 2012, esse é o pior cenário já registrado.

O objetivo da pesquisa, realizada pela Fundação, é avaliar o nível e a evolução espacial da pobreza durante os últimos anos no Brasil, usando os microdados da PNAD Continua Anual, recém disponibilizados pelo IBGE.

O FGV Social explorou, inicialmente, o cenário básico dos grandes números da pobreza nacional. Após essa primeira análise, o estudo fez a espacialização destes números em Unidades da Federação e estratos geográficos, que constitui a principal contribuição do levantamento. Na etapa final, foi fornecida uma visão de prazo mais longo conectando com resultados anteriores.

“Mapeamos a influência das escolhas metodológicas usadas na medição e de uma miríade de linhas de pobreza nacionais e internacionais nos resultados encontrados. Os maiores níveis e incremento da pobreza na pandemia são robustos. Eles pintam o mapa da pobreza brasileiro em tons mais fortes de tinta frescaâ€, complementa Marcelo Neri.

Reflexos

O levantamento de dados trouxe para os especialistas uma leitura da influência dessa situação diretamente na economia. Segundo Luciano, a economia cresce a partir do momento que se tem pessoas trabalhando e consumindo, em um grau maior, representando a geração de aumento de PIB. “Quando falamos que, infelizmente, o grau de pessoas nesse estágio de pobreza aumentou, estamos falando que uma maior quantidade de pessoas deixou de consumir e está literalmente sobrevivendo. Essa pessoa tem uma carência de bens e serviços, pois da mesma forma que ela não consome, ela não contribui para a riqueza do país e tira força do movimento econômico do País”, esclarece.

A Unidade da Federação com menor taxa de pobreza em 2021 foi Santa Catarina (10,16%). No extremo oposto está o Maranhão, com a maior proporção de pobres (57,90%). Na análise do FGV Social, o Brasil foi dividido em 146 estratos espaciais: aquele com maior pobreza em 2021 é o Litoral e Baixada Maranhense, com 72,59% de habitantes nesta situação. Já Florianópolis concentra a menor população pobre do País, com 5,7%. Trata-se de uma relação de 12,7 para um, refletindo a conhecida desigualdade geográfica brasileira.

Na questão da variação geográfica da pobreza no período da pandemia, a mudança desta condição de 2019 a 2021 por Unidade da Federação em pontos percentuais na pandemia revela que o maior incremento se deu em Pernambuco (8,14 pontos percentuais). As únicas quedas de pobreza no período foram observadas em Tocantins (0,95 pontos percentuais) e Piauí (0,03 pontos percentuais).

O período inicial da pandemia, com o lockdown, contabilizou uma fase muito negativa na questão financeira do País. “Eu colocaria de 85 a 90% de responsabilidade sobre o evento da pandemia. Qualquer outra empresa que não fosse no segmento de alimentação ou de remédios poderia fechar no período de pandemia. Nós não tivemos um plano de governo que ajudasse as empresas. A economia devolve isso tempos depois sob o efeito de desemprego e inflação, que é uma outra condição, porque ela corrói o poder de compra de todos os brasileiros, mas muito mais quem está nesta linha de pobreza”.

Mapas interativos

O estudo do FGV Social também disponibiliza um leque de rankings geográficos e de mapas de sobrevoo interativos para cada um visualizar a pobreza na sua área de interesse.

É possível, por exemplo, ter uma perspectiva local sobre os 92 municípios fluminenses, agrupados em oito estratos espaciais: as taxas de pobreza na capital (16,68%); e de segmentos da área conhecida como Grande Rio: Arco Metropolitano de Niterói e São Gonçalo (20,96%), Arco Metropolitano de Duque de Caxias (30,48%), ou o Arco Metropolitano de Nova Iguaçu (33,24%).

Ou ainda, diferenciando os nuances do interior, separando áreas ainda afluentes para quem visita, mas não tanto para quem mora, como regiões Serrana (20,18%), dos Lagos (22,6%) e Vale do Paraíba e Costa Verde (25,33%) daquela observada no tradicionalmente pobre Norte Fluminense (26,12%), onde os efeitos de algo temporário da economia do petróleo se fazem sentir.

Cenário atual

De acordo com a análise do economista Luciano Simões a inflação está caindo, mas não está em uma condição tão boa, dado a situação acumulativa dos últimos anos. Já em relação ao desemprego: ele está diminuindo, mas o aumento que teve com reflexo da pandemia ainda não conseguiu fazer com que voltasse ao grau anterior do início deste período.

A renda média brasileira é outro item analisado pelo especialista, pois segundo ele ainda não superamos os reflexos do lockdown. “Ainda estamos vivendo os efeitos da pandemia, isto que o Brasil está melhor do que lá fora. Há países em condições inflacionárias muito piores que a brasileira e com expectativa de PIB menor de crescimento do que o Brasil. Estamos a 20 a 25% para chegar no efeito econômico de 2019. O patamar em que nos encontramos não chega aos melhores momentos da economia antes da pandemia”, compara o especialista.

Sobre a pesquisa

O contingente de pessoas com renda domiciliar per capita até 497 reais mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros em 2021, cerca de 29,6% da população total do País. Este número em 2021 corresponde 9,6 milhões a mais que 2019, quase um Portugal de novos pobres surgidos ao longo da pandemia. Desde o começo da série histórica, em 2012, a pobreza nunca esteve tão alta no Brasil quanto em 2021. Demonstrou-se neste trabalho que 2021 é ponto de máxima pobreza dessas series anuais para uma variedade de coletas amostrais, conceitos de renda, indicadores e linhas de pobreza testados.

Além da medição da pobreza brasileira agregada e suas variantes, conferiu-se especial atenção à composição geográfica da pobreza para localizar os estoques e os fluxos de pobreza no território brasileiro.

A Unidade da Federação com menor taxa de pobreza em 2021 foi Santa Catarina (10,16%) e aquela com a maior proporção de pobres foi o Maranhão, com 57,90%. Lançou-se mão de novas possibilidades de segmentar o país em 146 estratos espaciais: aquele com maior pobreza em 2021 é o Litoral e Baixada Maranhense com 72,59%, já a menor está no município de Florianópolis com 5,7%. Uma relação de 12,7 para um refletindo a conhecida desigualdade geográfica brasileira.

A mudança da pobreza de 2019 a 2021 por Unidade da Federação em pontos percentuais na pandemia, revela que o maior incremento se deu em Pernambuco (8,14 pontos percentuais), e as únicas quedas de pobreza no período foram observadas em Tocantins (0,95 pontos percentuais) e Piauí (0,03 pontos percentuais). Disponibilizou-se um leque de rankings geográficos e de mapas de sobrevoo interativos para cada um explorar as carências sociais na sua área geográfica de interesse.

O objetivo é avaliar o nível e a evolução da pobreza durante os últimos anos no Brasil, usando os microdados da PNAD Continua Anual, recém disponibilizados pelo IBGE. Explorou-se inicialmente cenário básico dos grandes números da pobreza nacional. O passo seguinte é a espacialização destes números. Na etapa final, mapeou-se a influência das escolhas metodológicas e de uma miríade de linhas de pobreza nacionais e internacionais nos resultados encontrados. Os maiores nível e incremento da pobreza brasileira recente se revelam robustos.

Foto: Reprodução